São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 2006

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POPLOAD

A escuridão e a Buffy

LÚCIO RIBEIRO
ENVIADO ESPECIAL A AUSTIN (EUA)

Ainda sobre a bagunça do Texas... "Don't mess with Texas" qual o quê. Austin está para a nova música assim como Davos está para a economia. O balanço final do festival South by Southwest é de que tudo foi lindo, hotéis lotados, formigueiro humano nas ruas e nos bares, mas o festival precisa ser repensado para suas edições futuras. A cidade corre o risco de entrar em colapso, segundo os editoriais pós-evento dos pacatos jornais locais.
* Há um fascínio qualquer do pop com o mundo dark, sinistro. Com os mais soturnos climas, as mais cavernosas vozes, tipo Joy Division, Sisters of Mercy, Bauhaus. Echo & The Bunnymen do começo. O que havia ficado evidente com o lindo Interpol, há uns dois anos, ficou escancarado no último South by Southwest. Há algo de muito daaaaark no ensolarado mundo globalizado, da internet e dos iPods.
Três dos destaques do South by Southwest 2006 parecem ter Boris Karloff no vocal. Editors, da Inglaterra, já algo conhecida, e as novas americanas de nomes-frase She Wants Revenge e I Love You but I've Chosen Darkness. Esta última, que já diz tudo no seu nome ótimo, é da Austin do festival. O disco do Chosen Darkness, recém-lançado, não está para brincadeira. A capa é gótica, preta, tem um coração atravessado por uma cruz de ponta-cabeça e o nome do álbum é "Fear Is on Our Side" (O medo está do nosso lado). A faixa de abertura é "The Ghost".
Brrrr. Confira a ótima "According to Plan", do I Love You But I've Chosen Darkness, na página da banda no My Space (www. myspace.com/chosendarkness).
* Fim de festival, tudo normalizado, eu e um amigo procuramos o que fazer na noite de Austin, pós-festival. A cidade estava meio vazia, o povo parecia que estava tendo o sono dos justos. Aí uma fila gigante chamou a atenção. Alguma banda fazendo show extra?
Não, era um cinema. Cinema indie. De programação bizarra, depoooooois descobrimos. A atração da noite era algo chamado "Buffy Sing-A-Long". Algo que envolvia a Buffy, a caça-vampiros. Entramos, lógico.
Na porta, depois de pagar o ingresso, ganhava-se um isqueiro, um tubinho de fazer bolhas de sabão e dentes de vampiro, daqueles de plástico, que já estava esgotado na hora em que chegamos.
Aí a balada era o seguinte: entrava um "animador de torcida" para falar do evento, anunciar a programação do próximo mês e dizer que todos lá iríamos viver o mundo da Buffy de um modo que seria lembrado mais do que nossos casamentos, mais do que nosso primeiro beijo, mais do que o nascimento do primeiro filho. Medo!
Mas que primeiro ia passar um episódio de "Angel", o namoradinho vampiro da Buffy (mas com alma) que ganhou seriado próprio. Um em que Angel é transformado em "muppet" por uns "muppets" do mal que ficam sugando a energia de crianças nesses programas de TV matinais.
Quando acabou, um casal foi convidado a dublar lá na frente uma cena de amor da Buffy com alguém lá. O som foi tirado, legendas apareceram e o casal dublava.
Aí veio o episódio em si, inteiro e especial, na tela de cinema, da Buffy. Era um especial em que as pessoas da cidade dela sofreram alguma maldição e não conseguiam mais falar normalmente. Só cantar, como em musicais.
Aí éramos convidados a cantar junto (apareciam as legendas com as letras na hora de cantar), acender o isqueiro na hora de uma música tipo romântica e levantar para dançar esquisito na cena em que eles dançavam esquisitos, de mãos dadas com as pessoas da poltrona ao lado (a menina do meu lado, que me deu a mão, usava os dentes de vampiro postiços). Teve a parte de fazer bolha de sabão também, que todo mundo no cinema fez.
No próximo dia 30, quinta, para quem estiver em Austin, neste mesmo cinema vai ter a noite "The Journey Sing-Along". Lembra a banda Journey, não? Então...


@ - lucio@uol.com.br

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