São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 2006

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CDS

MPB

Rapper will.i.am, líder do The Black Eyed Peas, participa do disco "Timeless"

Sergio Mendes põe a batida do hip hop em seu piano

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Sergio Mendes, 65, não lançava um disco havia dez anos. O maior sucesso de sua carreira, a versão para "Mas que Nada" (Jorge Ben Jor), está completando 40 anos. Mas, em seu novo CD, o pianista e arranjador quer se mostrar moderno e eterno.
O título do disco é explícito no segundo objetivo: "Timeless" (eterno, atemporal). O conceito está de olho no primeiro: músicas em sua maioria brasileiras refeitas com a batida do hip hop. É o resultado do encontro de Mendes com o rapper will.i.am, líder do grupo The Black Eyed Peas.
"Eu não estava com a mínima vontade de fazer disco. Não tinha idéia, motivação. Mas o encontro com o will me despertou. Gosto de experimentar sonoridades. Trouxe toda a bagagem da bossa nova para fazer um encontro com o mundo dele [will], da palavra, da batida", diz Mendes.
Segundo ele, o rapper de 21 anos marcou para ir à sua casa, em Los Angeles -onde Mendes vive desde 1964. Chegou cheio de LPs do pianista, dizendo-se não só seu fã como afirmando que a adoração partia de toda a "comunidade hip hop".
Daí surgiu o convite para que Mendes tocasse "Insensatez" (Tom Jobim/Vinicius de Moraes) no CD "Elephunk", do Black Eyed Peas, e a retribuição para que will.i.am participasse da produção do novo disco do brasileiro. O rapper arrastou Justin Timberlake, Erykah Badu, Mr. Vegas e outros para o trabalho.
"É a possibilidade de a garotada descobrir essas melodias [brasileiras]. O mundo do hip hop não é muito melódico. É a batida. Para mim, a força fundamental é a melodia", diz Mendes.

Escolha das músicas
Na montagem do repertório, ele escolheu algumas músicas que já gravara, como "The Frog" ("A Rã", de João Donato) e, é claro, "Mas que Nada".
"O rap feito em cima da melodia botou a música com a cara de hoje. É uma versão bem diferente, mas a melodia continua", compara o arranjador, que não voltara a gravar a canção de Ben Jor depois de 1966, embora a toque em todos os shows.
Dentre as músicas brasileiras de "Timeless" que ainda não gravara estão "Bananeira" (Donato/Gilberto Gil), "Ê Menina" (Donato/ Guarabira), "Surfboard" (Jobim), o duo "Berimbau"/"Consolação" (Baden/Vinicius) -que tem a participação de Stevie Wonder na harmônica- e "Samba da Benção" (Baden/Vinicius).
"Quis fazer essa música porque é o primeiro rap brasileiro", explica Mendes, referindo-se às falas escritas por Vinicius.
Marcelo D2 participa de "Samba da Benção" e de "Fo'-hop (Por Trás de Brás de Pina)" ao lado do autor da música, Guinga, um dos preferidos de Mendes. "O Henry Mancini, quando ouviu "Esconjuro", do Guinga, me disse: "Não se faz mais música na América com essa qualidade'", lembra.
O quarteto de violões Maogani também comparece em duas faixas. "Foi o Guinga quem me apresentou a eles. Chorei quando ouvi. Quero produzir um disco deles nos EUA", anuncia.
Mas o que esse fluminense de Niterói sonha mais é voltar a tocar no Brasil. Seu último show no país tem mais de 20 anos, pelas suas contas. "Como não estou aqui no dia-a-dia, fico fora da mídia. É natural que tenha gente que nem deva saber quem eu sou", reconhece ele, que passa a maior parte do ano em turnês por América do Norte, Europa e Ásia.
Sobre a fama de ter pasteurizado a música brasileira para agradar ao público norte-americano, Mendes dá de ombros. "No meu repertório, 99% são músicas brasileiras. É que, por ser feita lá fora, tem uma outra visão. Mas sempre fiz o que gosto de fazer. Sou independente", orgulha-se.


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