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Rapper will.i.am, líder do The Black Eyed Peas, participa do disco "Timeless"
Sergio Mendes põe a batida do hip hop em seu piano
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Sergio Mendes, 65, não lançava
um disco havia dez anos. O maior
sucesso de sua carreira, a versão
para "Mas que Nada" (Jorge Ben
Jor), está completando 40 anos.
Mas, em seu novo CD, o pianista e
arranjador quer se mostrar moderno e eterno.
O título do disco é explícito no
segundo objetivo: "Timeless"
(eterno, atemporal). O conceito
está de olho no primeiro: músicas
em sua maioria brasileiras refeitas
com a batida do hip hop. É o resultado do encontro de Mendes
com o rapper will.i.am, líder do
grupo The Black Eyed Peas.
"Eu não estava com a mínima
vontade de fazer disco. Não tinha
idéia, motivação. Mas o encontro
com o will me despertou. Gosto
de experimentar sonoridades.
Trouxe toda a bagagem da bossa
nova para fazer um encontro com
o mundo dele [will], da palavra,
da batida", diz Mendes.
Segundo ele, o rapper de 21 anos
marcou para ir à sua casa, em Los
Angeles -onde Mendes vive desde 1964. Chegou cheio de LPs do
pianista, dizendo-se não só seu fã
como afirmando que a adoração
partia de toda a "comunidade hip
hop".
Daí surgiu o convite para que
Mendes tocasse "Insensatez"
(Tom Jobim/Vinicius de Moraes)
no CD "Elephunk", do Black Eyed
Peas, e a retribuição para que will.i.am participasse da produção
do novo disco do brasileiro. O
rapper arrastou Justin Timberlake, Erykah Badu, Mr. Vegas e outros para o trabalho.
"É a possibilidade de a garotada
descobrir essas melodias [brasileiras]. O mundo do hip hop não é
muito melódico. É a batida. Para
mim, a força fundamental é a melodia", diz Mendes.
Escolha das músicas
Na montagem do repertório, ele
escolheu algumas músicas que já
gravara, como "The Frog" ("A
Rã", de João Donato) e, é claro,
"Mas que Nada".
"O rap feito em cima da melodia
botou a música com a cara de hoje. É uma versão bem diferente,
mas a melodia continua", compara o arranjador, que não voltara a
gravar a canção de Ben Jor depois
de 1966, embora a toque em todos
os shows.
Dentre as músicas brasileiras de
"Timeless" que ainda não gravara
estão "Bananeira" (Donato/Gilberto Gil), "Ê Menina" (Donato/
Guarabira), "Surfboard" (Jobim),
o duo "Berimbau"/"Consolação"
(Baden/Vinicius) -que tem a
participação de Stevie Wonder na
harmônica- e "Samba da Benção" (Baden/Vinicius).
"Quis fazer essa música porque
é o primeiro rap brasileiro", explica Mendes, referindo-se às falas
escritas por Vinicius.
Marcelo D2 participa de "Samba da Benção" e de "Fo'-hop (Por
Trás de Brás de Pina)" ao lado do
autor da música, Guinga, um dos
preferidos de Mendes. "O Henry
Mancini, quando ouviu "Esconjuro", do Guinga, me disse: "Não se
faz mais música na América com
essa qualidade'", lembra.
O quarteto de violões Maogani
também comparece em duas faixas. "Foi o Guinga quem me apresentou a eles. Chorei quando ouvi. Quero produzir um disco deles
nos EUA", anuncia.
Mas o que esse fluminense de
Niterói sonha mais é voltar a tocar
no Brasil. Seu último show no país
tem mais de 20 anos, pelas suas
contas. "Como não estou aqui no
dia-a-dia, fico fora da mídia. É natural que tenha gente que nem deva saber quem eu sou", reconhece
ele, que passa a maior parte do
ano em turnês por América do
Norte, Europa e Ásia.
Sobre a fama de ter pasteurizado a música brasileira para agradar ao público norte-americano,
Mendes dá de ombros. "No meu
repertório, 99% são músicas brasileiras. É que, por ser feita lá fora,
tem uma outra visão. Mas sempre
fiz o que gosto de fazer. Sou independente", orgulha-se.
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