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CINEMA
Diretor João Falcão tenta repetir com filme o sucesso que obteve no teatro com o texto de sua mulher, Adriana Falcão
"A Máquina" corre atrás do êxito na tela
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
O problema só virá daqui a meses. Mas o cineasta João Falcão,
que lança hoje nos cinemas "A
Máquina", já sabe que emudecerá
diante da pergunta que ele mesmo formula: "Em que prateleira
colocar o DVD desse filme? É drama? É comédia? É musical?".
"A Máquina" é um misto dessas
vertentes narrativas, o que faz dele, na visão de seu diretor, "um filme arriscado, diferente, que não
se encaixa num gênero".
Falcão buscou o diferente para
sua estréia como diretor de longas, mas não necessariamente o
novo. "A Máquina" é originalmente um livro de 1999 da escritora Adriana Falcão (mulher de
João), que a editora Objetiva relança agora, na carona do filme,
com fotos do elenco, até na capa.
Levado ao teatro por Falcão, em
2000, o texto de Adriana fez enorme sucesso e revelou para o cinema e a TV os "novos baianos",
craques da atuação, Wagner
Moura, Lázaro Ramos e Vladimir
Brichta.
No palco, os três atores e Gustavo Falcão interpretavam um único papel, o de Antônio, herói romântico que tenta consertar o
mundo para oferecê-lo a Karina.
Ela é a mocinha que sonha em
se tornar atriz e conquistar horizontes além do de Nordestina, a
fictícia e modorrenta cidade sertaneja onde arrasta seus dias.
Roteiro
No filme, que tem roteiro do casal Falcão, o papel de Antônio é
desdobrado entre dois atores
-Gustavo Falcão e Paulo Autran.
Mariana Ximenes interpreta a
protagonista, que na peça era vivida por Karina Falcão.
O diretor conta que, para adquirir destreza no sotaque nordestino e conhecer Karinas da vida
real, Mariana Ximenes "foi morar
no sertão do Cariri, fazendo laboratório [de interpretação]".
Falcão aplaude o esforço da
atriz -"É o melhor sotaque desses que já vi"-, o que é também
um modo de aprovar sua própria
decisão de abrir mão de uma atriz
nordestina, condição que inicialmente havia pensado em impor
às candidatas ao papel.
Em busca de um cinema "não
naturalista", o diretor desistiu
também de filmar numa "cidade
de verdade", embora tenha passado "alguns anos atrás de um lugar
que pudesse ser Nordestina".
Encontrou vários, diz Falcão,
mas percebeu que, com a câmera
apontada para um cenário real,
dificilmente conseguiria uma
imagem que traduzisse o "tom
poético" da história.
Optou pela solução de filmar as
cenas em estúdios e construir
uma Nordestina estilizada, em
que "o tempo pudesse ser falso,
onde anoitecesse enquanto os
personagens caminhavam".
Mundo encantado
A escritora Adriana Falcão acha
que o "pensamento cinematográfico" do marido casou à perfeição
com "o gosto pelo mundo do encantado" que seu livro expressa.
Os dois fazem questão de dizer
que o filme é uma adaptação do livro, não da peça. A colaboração
de Adriana se resumiu, diz ela, ao
roteiro, e, especialmente, ao desenvolvimento dos diálogos, tarefa em que é especialista.
Adriana escreve o seriado televisivo "A Grande Família" (TV
Globo), que também terá sua
adaptação para o cinema.
Ela diz que o sucesso anterior do
livro e da peça deram segurança
para o projeto do filme. "De um
lado, é uma responsabilidade.
Mas tínhamos confiança de que
essa história sobre alguém que
quer sair de seu lugar e ir para o
mundo toca as pessoas", afirma.
A escritora avalia que "A Máquina" pode ser lida como uma
metáfora em diferentes escalas, "a
do nordestino que quer ir para
São Paulo ou o Rio e a do Brasil
que quer ser um país de primeiro
mundo". Já o diretor cita o dilema
sobre em que prateleira encaixar
o filme para ressaltar sua dose de
risco. "Se eu pensasse em mercado, não teria feito "A Máquina".
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