São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 2006

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CINEMA

Diretor João Falcão tenta repetir com filme o sucesso que obteve no teatro com o texto de sua mulher, Adriana Falcão

"A Máquina" corre atrás do êxito na tela

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

O problema só virá daqui a meses. Mas o cineasta João Falcão, que lança hoje nos cinemas "A Máquina", já sabe que emudecerá diante da pergunta que ele mesmo formula: "Em que prateleira colocar o DVD desse filme? É drama? É comédia? É musical?".
"A Máquina" é um misto dessas vertentes narrativas, o que faz dele, na visão de seu diretor, "um filme arriscado, diferente, que não se encaixa num gênero".
Falcão buscou o diferente para sua estréia como diretor de longas, mas não necessariamente o novo. "A Máquina" é originalmente um livro de 1999 da escritora Adriana Falcão (mulher de João), que a editora Objetiva relança agora, na carona do filme, com fotos do elenco, até na capa.
Levado ao teatro por Falcão, em 2000, o texto de Adriana fez enorme sucesso e revelou para o cinema e a TV os "novos baianos", craques da atuação, Wagner Moura, Lázaro Ramos e Vladimir Brichta.
No palco, os três atores e Gustavo Falcão interpretavam um único papel, o de Antônio, herói romântico que tenta consertar o mundo para oferecê-lo a Karina.
Ela é a mocinha que sonha em se tornar atriz e conquistar horizontes além do de Nordestina, a fictícia e modorrenta cidade sertaneja onde arrasta seus dias.

Roteiro
No filme, que tem roteiro do casal Falcão, o papel de Antônio é desdobrado entre dois atores -Gustavo Falcão e Paulo Autran. Mariana Ximenes interpreta a protagonista, que na peça era vivida por Karina Falcão.
O diretor conta que, para adquirir destreza no sotaque nordestino e conhecer Karinas da vida real, Mariana Ximenes "foi morar no sertão do Cariri, fazendo laboratório [de interpretação]".
Falcão aplaude o esforço da atriz -"É o melhor sotaque desses que já vi"-, o que é também um modo de aprovar sua própria decisão de abrir mão de uma atriz nordestina, condição que inicialmente havia pensado em impor às candidatas ao papel.
Em busca de um cinema "não naturalista", o diretor desistiu também de filmar numa "cidade de verdade", embora tenha passado "alguns anos atrás de um lugar que pudesse ser Nordestina".
Encontrou vários, diz Falcão, mas percebeu que, com a câmera apontada para um cenário real, dificilmente conseguiria uma imagem que traduzisse o "tom poético" da história.
Optou pela solução de filmar as cenas em estúdios e construir uma Nordestina estilizada, em que "o tempo pudesse ser falso, onde anoitecesse enquanto os personagens caminhavam".

Mundo encantado
A escritora Adriana Falcão acha que o "pensamento cinematográfico" do marido casou à perfeição com "o gosto pelo mundo do encantado" que seu livro expressa.
Os dois fazem questão de dizer que o filme é uma adaptação do livro, não da peça. A colaboração de Adriana se resumiu, diz ela, ao roteiro, e, especialmente, ao desenvolvimento dos diálogos, tarefa em que é especialista.
Adriana escreve o seriado televisivo "A Grande Família" (TV Globo), que também terá sua adaptação para o cinema.
Ela diz que o sucesso anterior do livro e da peça deram segurança para o projeto do filme. "De um lado, é uma responsabilidade. Mas tínhamos confiança de que essa história sobre alguém que quer sair de seu lugar e ir para o mundo toca as pessoas", afirma.
A escritora avalia que "A Máquina" pode ser lida como uma metáfora em diferentes escalas, "a do nordestino que quer ir para São Paulo ou o Rio e a do Brasil que quer ser um país de primeiro mundo". Já o diretor cita o dilema sobre em que prateleira encaixar o filme para ressaltar sua dose de risco. "Se eu pensasse em mercado, não teria feito "A Máquina".


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