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TEATRO
Atriz do clássico "O Cangaceiro" protagoniza peça no Festival de Curitiba
Vanja Orico leva cangaço para o palco
VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
O Festival de Teatro de Curitiba
(FTC), que vai até domingo, abriga hoje uma estréia peculiar em
sua mostra paralela, o Fringe
-expressão inglesa para franja
ou borda, importada do tradicional evento homônimo de Edimburgo, na Escócia.
Trata-se da atriz e cantora carioca Vanja Orico, lendária intérprete do cinema brasileiro, um dos
destaques do chamado Ciclo do
Cangaço, entre as décadas de 50 e
70, com filmes como "O Cangaceiro" (1953), de Lima Barreto,
premiado em Cannes, e "Cangaceiros de Lampião" (1966), de
Carlos Coimbra.
Ela vai protagonizar o espetáculo inédito "Vanja Bonita do Cangaço Brasileiro", que terá sessões
no Solar do Barão. O autor e diretor Nilson Ferreira concebeu um
enredo em que Orico, nos dias de
hoje, dialoga com Lima Barreto
(1906-1982). Na pele de Maria Bonita, tenta impor uma condição
para continuar no filme: a personagem seguirá interpretando só
se ele, o diretor, escrever os fatos
mais importantes da vida da atriz.
Na estrutura da peça, cabe à
atriz os excertos musicais. Ela vai
cantar, por exemplo, "Sodade
Meu Bem Sodade" e "Mulher
Rendeira", composições de Zé do
Norte, como o fez originalmente
no clássico de Barreto. A atriz, que
vive no Rio, divide o palco com 19
atores e um músico da Cia. Itabira, de Suzano, SP.
Faroeste
O filme de Barreto mostra o
conflito entre dois grupos de cangaceiros numa concepção que remete ao faroeste. Orico diz que
era o espírito de aventura que
mais a atraía nos projetos do Ciclo
do Cangaço. "Sei montar muito
bem um cavalo", conta.
É a primeira vez que atua num
espetáculo dramático. Já o fez em
musicais, inclusive na França. Filha do romancista e diplomata
Osvaldo Orico (1900-1981), ela
passou parte da infância e adolescência na Europa. Estudou em colégio de freiras, mas foi expulsa.
"Porque coloquei uma tinta vermelha na água benta", explica. E
isso foi em Roma, onde, aos 16
anos, participou de um filme dirigido por Federico Fellini e Alberto
Lattuada, "Mulheres e Luzes"
(1950), no qual canta "Meu Limão
Meu Limoeiro".
Durante a ditadura militar no
Brasil, Orico protagonizou uma
imagem histórica. Em novembro
de 1968, no Rio, durante os protestos contra a morte do estudante Edson Luis, ela foi fotografada
quando se ajoelhou na frente de
um carro do Exército, lenço branco numa das mãos, e disparou a
seguinte frase, que ainda hoje ela
repete com veemência: "Não atirem, somos todos brasileiros".
Foi detida.
Uma de suas últimas atuações
no cinema aconteceu em "A Terceira Margem do Rio" (1993), de
Nelson Pereira dos Santos. Na
adaptação do conto de Guimarães
Rosa, Orico faz o papel de uma
parteira. Agora, seus olhos castanhos iluminam o teatro.
O jornalista Valmir Santos e a repórter-fotográfica Lenise Pinheiro viajam a convite da organização do FTC
15º Festival de Teatro de Curitiba
Quando: até 26/3
Quanto: R$ 24 (Mostra Oficial) e de
entrada franca a R$ 24 (Fringe)
Mais informações pelo tel.0/xx/41/3016-3400 ou no site
www.festivaldeteatro.com.br
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