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CINEMA
Ciclo de três filmes de Roberto Farias com o cantor vai de hoje até quinta, no HSBC Belas Artes
Roberto Carlos tem mostra divertida
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Para os manos e as minas de
hoje, Roberto Carlos talvez
seja apenas "aquele chato do especial de Natal da Globo", querido pelas tias e avós.
Mas em priscas eras pré-MTV,
pré-videoclipes e pré-MP3, Roberto Carlos foi sinônimo de juventude. No comando da jovem
guarda, ele sintonizou a garotada
brazuca com a cultura pop que
rolava no mundo. "Ouvir aquela
canção do Roberto", como dizia
Caetano Veloso em "Baby", era
uma exigência para ingressar na
modernidade. Esse inquieto e irreverente Roberto, que mandava
tudo para o inferno e seguia incendiando bem contente e feliz, é
o que está registrado nos três longas-metragens de Roberto Farias
protagonizados pelo cantor, na
virada dos anos 60 para os 70.
Diretor que aprendera o bê-á-bá do ofício na chanchada e renovara o cinema policial brasileiro
com "O Assalto ao Trem Pagador" (1962), Farias tinha senso de
oportunidade e faro para o sucesso que o tornavam o parceiro
ideal do outro Roberto nas telas.
O primeiro longa da trilogia,
"Roberto Carlos em Ritmo de
Aventura" (1967), é uma descabelada fantasia inspirada claramente em "A Hard Day's Night"
(1964) e "Help" (1965), os filmes
de Richard Lester com os Beatles.
Representando seu próprio papel, Roberto tem de fugir de seqüestradores internacionais que
querem levá-lo para os EUA, sabe-se lá por quê. O chefe dos bandidos é o eterno vilão de chanchada José Lewgoy. Depois de peripécias mil, que incluem acrobacias
nos braços do Cristo Redentor, o
astro é despachado para Nova
York numa caixa, mas consegue
fugir e volta ao Brasil de... foguete.
Por aí se tem uma idéia.
O roteiro teve colaboração do
escritor Paulo Mendes Campos, e
a trilha sonora inclui hits como
"Namoradinha de um Amigo
Meu", "Eu Sou Terrível", "Quero
que Vá Tudo para o Inferno" e
"Canzone per Te" (de Sergio Endrigo), com a qual o cantor tinha
vencido o Festival de San Remo.
O filme seguinte, "Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa"
(1968), com produção ainda mais
ambiciosa, dá um passo além na
maluquice, levando o herói ao
Oriente. Durante uma turnê pelo
Japão, Roberto e seus parceiros
Erasmo Carlos e Wanderléa descobrem uma estatueta antiga numa loja de bugigangas e se vêem
envolvidos numa trama que inclui um gênio de fábula, samurais
e gângsteres, todos em busca do
tal diamante cor-de-rosa.
Sempre de olho no sucesso, Farias embarcava na onda do misticismo oriental, inspirando-se ao
mesmo tempo nas aventuras exóticas de Tintin. Na trilha musical,
"As Curvas da Estrada de Santos",
"O Gênio" e "É Preciso Saber Viver", entre outros êxitos.
Popular
O filme que fecha a trilogia, "Roberto Carlos a 300 km por Hora"
(1971), traz uma novidade notável: Roberto não é mais ele mesmo, e sim o humilde mecânico
Lalo, que, por uma série de acasos
novelescos, acaba por tomar do
seu patrão o posto de piloto de
corridas e, de quebra, a namorada. Erasmo, também mecânico, é
o seu escudeiro, Pedro Navalha.
Com uma trama mais romântica e ambientação mais realista, o
filme marca um deslocamento do
pop ao propriamente popular,
buscando os temas e clichês das
telenovelas. A trilha reflete essa
mudança, incluindo canções da
dupla sertaneja Leo Canhoto e
Robertinho e do cantor brega
Waldick Soriano.
Para quem se interessa pela história da cultura pop e da indústria
cultural no Brasil, são três filmes
obrigatórios. Para quem só quer
se divertir, também.
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