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"DEPOIS DAQUELE BAILE"/CRÍTICA
Bomtempo dirige comédia com ar teatral
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
A personagem de Fernanda
Montenegro ocupa o tempo
bisbilhotando um vizinho em "O
Outro Lado da Rua" (2004) e as irmãs de "Filhas do Vento" (2004)
ainda se mantêm distantes em
função de diferenças estabelecidas décadas atrás. Ao também se
dedicar à "melhor idade", "Depois Daquele Baile" apresenta
gente que está um pouco lá (solitária, com agenda a preencher) e
um pouco cá (com fantasmas familiares não exorcizados).
Difícil não simpatizar de cara
com as circunstâncias, que o ator
e produtor Roberto Bomtempo,
em sua estréia na direção de longa-metragem, costura à moda mineira. Tudo caminha devagar, em
torno de papos e refeições intermináveis, em um pedaço de Belo
Horizonte tratado com nostalgia,
embora, a certa altura, a violência
urbana dê as caras.
Para reforçar a idéia de separação entre esses dois mundos, a
viúva Dóris (Irene Ravache) mora
em uma vila isolada da rua por
um portão. Passar por ele é privilégio de poucos, entre eles o aposentado Freitas (Lima Duarte) e
seu amigo Otávio (Marcos Caruso), que trabalha duro para sobreviver. O grupo inclui a empregada
doméstica de Dóris (Ingrid Guimarães), uma vizinha (Regina
Sampaio) cujo marido desapareceu e um ex-padre que se vira como garçom (Chico Pelúcio).
Difícil também não simpatizar
com o registro discreto que o
elenco adota, em especial na construção da cumplicidade disfarçada de rivalidade entre Freitas e
Otávio. Tivesse o Brasil indústria
do audiovisual consolidada, e os
dois poderiam dar origem a um
seriado sobre homens de terceira
idade (a dramaturgia lembra
mesmo a da TV). Sem ranço:
Duarte e Caruso encarnam de forma espirituosa e bem-humorada
as agruras da condição.
A defesa de certos valores é límpida, até ostensiva. Paira o tempo
todo no ar a importância dos laços de amizade para suportar as
perdas de diversas naturezas que
a idade acarreta, mas há outros temas associados a esse: nunca é
tarde para reparar erros, corrigir
rumos, entender os defeitos do
outro, realizar desejos, buscar o
amor. Alguém seria contra?
Essas idéias são enfraquecidas
pelo desenvolvimento titubeante
da história. O registro de crônica
conduz a certa fragmentação, mas
o desaparecimento temporário de
alguns personagens e o modo
quase burocrático com que certas
situações se sucedem conduz à
suspeita de que faltou unidade
narrativa. O predomínio do verbo
sobre a imagem também não ajuda, ainda que haja poesia visual
em seqüências-chave.
Cumpre informar, o que talvez
explique um pouco como o filme
se estrutura, que o roteiro de "Depois Daquele Baile", assinado pela
jornalista Susana Schild, é baseado em peça teatral, escrita pelo
ator e dramaturgo Rogério Falabella. Natural que eventualmente
a transposição tenha se mantido
refém do texto original e das soluções de encenação no palco: vem
daí, também, o que essa comédia
romântica tem de melhor.
Depois Daquele Baile
Direção: Roberto Bomtempo
Produção: Brasil, 2006
Com: Lima Duarte, Irene Ravache,
Marcos Caruso
Onde: estréia hoje os cines Morumbi,
Espaço Unibanco e circuito
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