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Crítica/romance
Patricia Highsmith tece história frouxa
ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
"O leitor fecha a
maior parte dos livros de Highsmith
com o sentimento de que o
mundo é mais perigoso do que
ele pensava." Atribuída ao "The
New York Times Book Review", a frase, que está estampada na contracapa da edição
brasileira de "Um Jogo para os
Vivos", perde boa parte de seu
impacto em um planeta tão
cheio de guerras, bombas, massacres e assassinatos brutais de
crianças.
Mas talvez seja possível pensar que o leitor termine muitos
livros de Patricia Highsmith assustado com o estado de aflição
a que pode ser levado pela narrativa ou admirado, pelo contrário, com a "sensibilidade para a inércia" da autora (para
usar uma idéia de um de seus
grandes admiradores, o filósofo
esloveno Slavoj Zizek), em como ela inseriu no romance policial a "lenta passagem do tempo morto".
Certamente, contudo, esse
não é o caso de "Um Jogo para
os Vivos", uma "história de detetive" bem mais tradicional,
na qual estão distantes as ambigüidades morais, a graça e a
tensão sexual presentes nos livros da série Ripley (do qual o
melhor é mesmo o primeiro, "O
Talentoso Ripley", publicado
entre nós pela Companhia das
Letras, assim como os outros
quatro: "Ripley Subterrâneo",
"O Jogo de Ripley", "Ripley Debaixo d'Água" e "O Garoto que
Seguiu Ripley").
Ambientado no México, o volume agora lançado acompanha as investigações do milionário artista plástico alemão
Theodore para descobrir a
identidade do assassino de sua
amante, Lelia.
Ao mesmo tempo, ele busca
provar para seu melhor amigo e
também amante da moça, Ramon -um católico fervoroso
que, consumido pela culpa,
chega a confessar o crime-, os
equívocos de suas memórias da
noite fatal.
Uma das marcas registradas
da autora, o jogo de aproximações e afastamentos entre dois
homens, reaparece nessa história. E, ainda que, nessa versão,
ele se concretize pela "divisão
amistosa" da mesma mulher e,
posteriormente, pelas ligações
de um passado amoroso comum -algo não muito freqüente no que tange a uma história policial-, todo o resto é
bem frouxo, do aparecimento
de provas à descoberta do verdadeiro criminoso -sem contar que a relação colaborativa
que Theodore estabelece com o
delegado designado para apurar o caso chega, às vezes, às
raias do ridículo.
Norte-americana que escolheu viver na Europa boa parte
de sua vida, Patricia Highsmith
(1921-1995) foi uma escritora
de mão cheia.
Em "Um Jogo para os Vivos",
no entanto, ela estava longe de
seus melhores dias, e aí o leitor
fica com a impressão que está
lendo uma reles sub-Agatha
Christie...
ADRIANO SCHWARTZ é professor de literatura da Escola de Artes, Ciências e Humanidades
(EACH) da USP.
UM JOGO PARA OS VIVOS
Autor: Patricia Highsmith
Tradução: Thelma Médici Nóbrega
Editora: L&PM
Quanto: R$ 34 (248 págs.)
Avaliação: ruim
Leia o primeiro capítulo
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