São Paulo, domingo, 24 de abril de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÔNICA BERGAMO

Luciana Cavalcanti/Folha Imagem
A creche que fica no último andar e atenderá 200 filhos dos funcionários, oferecendo aulas de informática, balé e inglês


"Só nós não estamos à venda"

"Os óculos, o celular, a carteira, tudo o que você vê aqui dentro está à venda", diz a empresária Eliana Tranchesi, dona da Daslu, abrindo a bolsa cheia de objetos de grifes importadas-a bolsa também está à venda. Espécie de mostruário ambulante da loja, Eliana vai elevar a conjugação do verbo "vender" à enésima potência quando trocar os 23 imóveis interligados da Vila Nova Conceição pela Villa Daslu, o projeto mais ambicioso de sua carreira de empresária, com inauguração marcada para 21 de maio.

Nos quatro pisos com vista para a marginal Pinheiros e o bairro do Morumbi, tudo pode ser comprado: de batom a lancha, de corte de cabelo a móvel, de comida a carro importado. "Só nós não estamos à venda", brinca Eliana. Paga-se bem pelo excesso de peso e ali ninguém passa pelo estresse de carregar sacola. Um mecanismo, que lembra esteiras de linha de montagem, e a equipe de manobristas se encarregarão disso.

Mais do que um serviço VIP, é um estratagema: "Como na saída a mulher não estará com nenhuma sacola na mão, o marido vai pensar que ela não comprou nada", diverte-se Eliana, enquanto conduz a coluna por um tour pelo novo edifício. De camiseta, jeans, salto alto, jóias, bijuterias douradas e algumas gotas da lavanda Acqua di Parma, ela diz pelo caminho que 75% das pessoas que entram na loja gastam. "Às vezes a pessoa entra aqui para comprar um biquíni e leva um apartamento", diz.

Definir a nova Daslu é tão complicado que a própria Eliana prefere fazê-lo por eliminação. "Não é shopping, nem megaloja. Somos um conceito único, sem vitrines ou corredores", ela explica, avançando pelos 17 mil m2 de área de lojas e serviços. Uma outra ala, de 3 mil m2, abriga o salão de eventos e, claro, o heliponto, especialmente erigido para atender a clientela sem tempo ou de fora de São Paulo. "Vai facilitar muito a vida de gente que vem só para comprar na loja. O cliente desce do helicóptero e já encontra uma arara, com roupas, preparada exclusivamente para ele."

No térreo e primeiro andar da Villa Daslu está a moda feminina; subindo mais um lance, moda masculina; mais para cima, enxovais para bebês, roupas de adolescentes, decoração, salão de beleza e antiquário. A entrada de homens no setor feminino nacional (primeiro andar) é vetada, para que as mulheres possam circular sem roupa enquanto provam os modelos.

Já no setor importado, os maridos e amantes são muito bem-vindos: quando o preço é em dólar, quem vai dispensar o visitante disposto a comprar todas aquelas bolsas Prada, sapatos Manolo e tailleurs Chanel que elas adoram ganhar de presente? "Todo mundo que entra aqui compra. É irresistível", diz.

O "playground" masculino (segundo andar), com possibilidade de freqüência mista, vai vender eletroeletrônicos, carros, celulares, computadores e lanchas. Ninguém precisa escolher com pressa: o comprador de fora pode até programar uma excursão e passar o dia, já que em sua nova versão a Daslu terá dois restaurantes -Leopoldina e Kosushi-, uma agência bancária, cabeleireiro e até uma imobiliária de alto padrão. "Eu adoro maquetes. Uma vez quase comprei uma cobertura", lembra Eliana, que mora num casarão no Morumbi.

A Daslu nasceu há 48 anos na casa da mãe de Eliana, Lucia Piva de Albuquerque, que tinha uma sócia chamada Lourdes Aranha, ambas apelidadas de Lu: daí o nome Daslu. Com o tempo, a loja virou marca, depois passou a trabalhar com importados, inaugurou um setor masculino, outro para bebês e adolescentes, e passou a comercializar também produtos para casa e decoração. Hoje vende as principais grifes internacionais, entre elas, Gucci, Valentino, Fendi, Dior. Vai dispor, pela primeira vez, de Gap, Tod's e Banana Republic. A grife Daslu e o resto da "vila" empregam, hoje, 700 funcionários.

Os números disponíveis acabam por aí. Embora o mercado estime um investimento de R$ 100 milhões na nova loja, ninguém confirma. "Não falamos de valores, de orçamento. Aprendemos isso na Chanel", diz Donata Meirelles, ex-cliente, ex-vendedora, melhor amiga de Eliana e responsável por toda a compra internacional da loja.

"A Donata entende tudo o que eu quero", diz Eliana, que deu pitacos no projeto do edifício, assinado pelos arquitetos Júlio Neves, Ricardo de Marco e Chinho de Luca. "Ela inclusive desenhou o que queria", levanta a bola Donata, que acompanha o tour com o mesmo uniforme da chefe: camiseta, jeans, saltinho etc. "Às vezes a gente termina comprando as mesmas coisas, os mesmos modelos, das mesmas cores", afirma Eliana, enquanto mostra mini-bolsas Gucci gêmeas penduradas como chaveirinhos em celulares idênticos.

É intrigante como as mulheres ali se parecem. No dia da foto, num extremo de simbiose, a própria Eliana orientou as diretoras e gerentes a vestirem preto. Ela e Donata são louras e, como a maioria das funcionárias -exceto as "aventaizinhas", que servem café e dobram as roupas-, têm cabelo liso.

O uniforme facilita muito a vida das duas secretárias de Eliana, incumbidas de escolher a roupa que ela vai vestir no dia, ou em determinado evento. Elas selecionam algumas peças, levam ao escritório e a chefe veste a que considerar mais apropriada. "Esse tom de hortênsia é lindo", comentou, enquanto decidia o vestido que iria usar no casamento de uma sobrinha.

Para trabalhar na Daslu, não basta se parecer com Eliana e sua equipe -o ideal é que a vendedora se confunda com a compradora, para que haja uma identificação. "A idéia é deixar a cliente se sentir em casa. A gente tem que recebê-la como uma anfitriã", diz. Mas o pré-requisito mais importante para ser "dasluzete" é "torcer pelos outros". A Daslu dá certo, segundo Eliana, "porque aqui todo mundo é do bem". Em uma cena que faz a reportagem se sentir na Terra do Nunca, Donata olha para Eliana e diz: "A gente tem orgulho de quem faz sucesso. Acho que inveja não faz parte da gente, né?"


Texto Anterior: Apreensão de filme contrariou ditadura
Próximo Texto: Televisão: Record leva departamento de dramaturgia para o Rio
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.