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MÔNICA BERGAMO
Luciana Cavalcanti/Folha Imagem
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A creche que fica no último andar e atenderá 200 filhos dos funcionários, oferecendo aulas de informática, balé e inglês |
"Só nós não estamos à venda"
"Os óculos, o celular, a carteira, tudo o que você vê
aqui dentro está à venda", diz a empresária
Eliana Tranchesi, dona da Daslu, abrindo a bolsa cheia de objetos de grifes importadas-a
bolsa também está à venda. Espécie de mostruário ambulante
da loja, Eliana vai elevar a conjugação do verbo "vender" à
enésima potência quando trocar os 23 imóveis interligados
da Vila Nova Conceição pela Villa Daslu, o projeto mais ambicioso de sua carreira de empresária, com inauguração marcada para 21 de maio.
Nos quatro pisos com vista
para a marginal Pinheiros e o
bairro do Morumbi, tudo pode
ser comprado: de batom a lancha, de corte de cabelo a móvel,
de comida a carro importado.
"Só nós não estamos à venda",
brinca Eliana. Paga-se bem pelo
excesso de peso e ali ninguém
passa pelo estresse de carregar
sacola. Um mecanismo, que
lembra esteiras de linha de
montagem, e a equipe de manobristas se encarregarão disso.
Mais do que um serviço VIP, é
um estratagema: "Como na saída a mulher não estará com nenhuma sacola na mão, o marido
vai pensar que ela não comprou
nada", diverte-se Eliana, enquanto conduz a coluna por um
tour pelo novo edifício. De camiseta, jeans, salto alto, jóias, bijuterias douradas e algumas gotas da lavanda Acqua di Parma,
ela diz pelo caminho que 75%
das pessoas que entram na loja
gastam. "Às vezes a pessoa entra
aqui para comprar um biquíni e
leva um apartamento", diz.
Definir a nova Daslu é tão
complicado que a própria Eliana prefere fazê-lo por eliminação. "Não é shopping, nem megaloja. Somos um conceito único, sem vitrines ou corredores",
ela explica, avançando pelos 17
mil m2 de área de lojas e serviços. Uma outra ala, de 3 mil m2,
abriga o salão de eventos e, claro, o heliponto, especialmente
erigido para atender a clientela
sem tempo ou de fora de São
Paulo. "Vai facilitar muito a vida de gente que vem só para
comprar na loja. O cliente desce
do helicóptero e já encontra
uma arara, com roupas, preparada exclusivamente para ele."
No térreo e primeiro andar da
Villa Daslu está a moda feminina; subindo mais um lance, moda masculina; mais para cima,
enxovais para bebês, roupas de
adolescentes, decoração, salão
de beleza e antiquário. A entrada de homens no setor feminino
nacional (primeiro andar) é vetada, para que as mulheres possam circular sem roupa enquanto provam os modelos.
Já no setor importado, os maridos e amantes são muito bem-vindos: quando o preço é em
dólar, quem vai dispensar o visitante disposto a comprar todas
aquelas bolsas Prada, sapatos
Manolo e tailleurs Chanel que
elas adoram ganhar de presente? "Todo mundo que entra
aqui compra. É irresistível", diz.
O "playground" masculino
(segundo andar), com possibilidade de freqüência mista, vai
vender eletroeletrônicos, carros,
celulares, computadores e lanchas. Ninguém precisa escolher
com pressa: o comprador de fora pode até programar uma excursão e passar o dia, já que em
sua nova versão a Daslu terá
dois restaurantes -Leopoldina
e Kosushi-, uma agência bancária, cabeleireiro e até uma
imobiliária de alto padrão. "Eu
adoro maquetes. Uma vez quase comprei uma cobertura",
lembra Eliana, que mora num
casarão no Morumbi.
A Daslu nasceu há 48 anos na
casa da mãe de Eliana, Lucia Piva de Albuquerque, que tinha
uma sócia chamada Lourdes
Aranha, ambas apelidadas de
Lu: daí o nome Daslu. Com o
tempo, a loja virou marca, depois passou a trabalhar com importados, inaugurou um setor
masculino, outro para bebês e
adolescentes, e passou a comercializar também produtos para
casa e decoração. Hoje vende as
principais grifes internacionais,
entre elas, Gucci, Valentino,
Fendi, Dior. Vai dispor, pela primeira vez, de Gap, Tod's e Banana Republic. A grife Daslu e o
resto da "vila" empregam, hoje,
700 funcionários.
Os números disponíveis acabam por aí. Embora o mercado
estime um investimento de R$
100 milhões na nova loja, ninguém confirma. "Não falamos
de valores, de orçamento.
Aprendemos isso na Chanel",
diz Donata Meirelles, ex-cliente,
ex-vendedora, melhor amiga de
Eliana e responsável por toda a
compra internacional da loja.
"A Donata entende tudo o que
eu quero", diz Eliana, que deu
pitacos no projeto do edifício,
assinado pelos arquitetos Júlio
Neves, Ricardo de Marco e Chinho de Luca. "Ela inclusive desenhou o que queria", levanta a
bola Donata, que acompanha o
tour com o mesmo uniforme da
chefe: camiseta, jeans, saltinho
etc. "Às vezes a gente termina
comprando as mesmas coisas,
os mesmos modelos, das mesmas cores", afirma Eliana, enquanto mostra mini-bolsas
Gucci gêmeas penduradas como chaveirinhos em celulares
idênticos.
É intrigante como as mulheres
ali se parecem. No dia da foto,
num extremo de simbiose, a
própria Eliana orientou as diretoras e gerentes a vestirem preto. Ela e Donata são louras e, como a maioria das funcionárias
-exceto as "aventaizinhas",
que servem café e dobram as
roupas-, têm cabelo liso.
O uniforme facilita muito a vida das duas secretárias de Eliana, incumbidas de escolher a
roupa que ela vai vestir no dia,
ou em determinado evento. Elas
selecionam algumas peças, levam ao escritório e a chefe veste
a que considerar mais apropriada. "Esse tom de hortênsia é lindo", comentou, enquanto decidia o vestido que iria usar no casamento de uma sobrinha.
Para trabalhar na Daslu, não
basta se parecer com Eliana e
sua equipe -o ideal é que a
vendedora se confunda com a
compradora, para que haja uma
identificação. "A idéia é deixar a
cliente se sentir em casa. A gente
tem que recebê-la como uma
anfitriã", diz. Mas o pré-requisito mais importante para ser
"dasluzete" é "torcer pelos outros". A Daslu dá certo, segundo
Eliana, "porque aqui todo mundo é do bem". Em uma cena que
faz a reportagem se sentir na
Terra do Nunca, Donata olha
para Eliana e diz: "A gente tem
orgulho de quem faz sucesso.
Acho que inveja não faz parte da
gente, né?"
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