São Paulo, sexta, 24 de abril de 1998

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Agora é a vez de Cannes

AMIR LABAKI
de Nova York

Ao menos no papel, a lista de selecionados para a mostra competitiva do 51º Festival Internacional de Cinema de Cannes, anunciada ontem, supera a seleção do cinquentenário, que decepcionou no ano passado. Até o diretor do festival, Gilles Jacob, reconheceu em Paris que "o nível geral aumentou, mas a oferta global de filmes também aumentou, em 25%".
"Há mais filmes, logo há maiores chances de existirem bons filmes", disse Jacob. Foram vistos 568 longas de 74 países pelo comitê de seleção de Cannes 98, contra 489 de 70 nacionalidades em 97.
Vinte e dois filmes concorrem à Palma de Ouro. Ecos de Berlim (vitória de "Central do Brasil"): a América Latina emplacou dois títulos na disputa. "Coração Iluminado", o drama romântico autobiográfico de Hector Babenco, foi confirmado na lista oficial representando "Argentina-Brasil". O cinema colombiano celebra o feito da escolha de "A Vendedora de Rosas", de Victor Gaviria.
Com cinco concorrentes, a maior seleção é a americana, seguida pelos quatro títulos franceses. A fórmula de Cannes para os EUA mantém-se a mesma: independentes na competição, grandes atrações em sessões especiais.
O ex-Monty Python Terry Gilliam ("Brazil") carrega o principal título, "Medo e Nojo em Las Vegas" ("Fear and Loathing in Las Vegas"), com Johnny Depp e Benício del Toro.
Hal Hartley volta à Croisette concorrendo com "Henry Fool". Todd Haynes ("Veneno") assina o favorito a cult do ano, com "Velvet Goldmine". John Turturro, que levou a Camêra de Ouro de estreante por "Mac" no início da década, retorna com "Illuminata". E o jovem Lloyd Kerrigan ("Clean, Shave") tem sua primeira chance com "Claire Dolan".
Fora de concurso, retumba um "viva Hollywood". A abertura, em 13 de maio, não traz novidades: o simpático "Primary Colors", de Mike Nichols, com John Travolta. Para o encerramento, em 24 de maio, nada menos que "Godzilla", de Roland Emerich.
Com status de "projeções especiais", serão ainda vistos em Cannes "Blues Brothers 2000", de John Landis, "Goodbye, Love", de Roland Joffé, e o thriller futurista "Dark City", de Alex Proyas. Por sua vez, a esquadra gaulesa não parece das mais fortes. Depois do barroquismo de "A Rainha Margot" (95), Patrice Chéreau volta à disputa com "Ceux Qui m'Aiment Prendront le Train" (Quem me Ama Pega o Trem).
Benoit Jacquot apresenta mais um drama psicológico, "L'École de la Chair" (A Escola da Carne). Claude Miller nos oferece mais um thriller ("La Classe de Neige"), e paira uma interrogação sobre o estreante Erick Lonca e seu "La Vie Rêvee des Anges" (A Vida Sonhada dos Anjos).
Sob a ótica do cinema de autor, será uma disputa entre "habitués" do festival. O grego Theo Angelopoulos tem nova chance com "A Eternidade, um Dia". O dinamarquês Lars Von Trier promete roçar o pornográfico com "Os Idiotas". Nanni Moretti vem com "Aprile".
Ken Loach revisita as raízes do "Free Cinema" dos anos 50 com "My Name Is Joe". John Boorman vai à Irlanda em "The General". O "darling" dos franceses Hou Hsiao-hsien concorre com "Flores de Xangai". Aposto mais em outro formosino, Tsai Ming-Liang, que estréia em Cannes com "O Buraco".
As sessões especiais incluem ainda os novos filmes de Shohei Imamura ("Kanzo Sensei"), Manoel de Oliveira ("Inquietude") e Saura ("Tango"). Na mostra paralela "Un Certain Regard" (Um Certo Olhar), destacam-se um telefilme dirigido por Ingmar Bergman, "O Apóstolo", de Robert Duvall, e "El Evangelico de las Marvillas", de Arturo Ripstein.
Mas a maior fila deve ser para a nova e mais longa versão de "A Marca da Maldade", de Orson Welles, exibida em homenagem ao produtor Anatole Dauman.



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