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"Voltamos a reeducar o público"
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
"É importante que escutemos
bem o que o mercado internacional está nos dizendo, e ele está nos
dizendo coisas muito rapidamente." Assim o cineasta Hector Babenco reagiu, em entrevista à Folha, à seleção de seu "Coração
Iluminado" para a competição
oficial de Cannes 98.
"Voltamos a reeducar o público
brasileiro, desde que "Carlota
Joaquina', de Carla Camurati,
abriu o pós-apocalipse do cinema
nacional. Temos que ouvir muito
a nova geração que está surgindo,
que está berrando para existir."
"Quem abriu esse caminho foi
Walter Salles, com "Terra Estrangeira' e agora "Central do Brasil',
foi Walter Lima Jr., com "A Ostra
e o Vento', que adoro, é Beto
Brant, com "Os Matadores', que
não ganhou prêmio, mas já vai botar para quebrar", completou.
Segundo Babenco, seu filme foi
apreciado e aceito por Cannes em
24 horas. "Eles viram na terça à
tarde, e na quinta de manhã houve
a confirmação. O fato de o filme
ter sido admitido prontamente é
muito legal para mim", disse.
Ele falou do significado pessoal
da conclusão de "Coração Iluminado". "Significa eu voltar a fazer cinema após um longo e tenebroso inverno. Foi muito importante no meu processo de recuperação." Refere-se ao período em
que sofreu de câncer linfático, curado após um transplante de medula, nos Estados Unidos, em 95.
Caracterizado por Babenco como um filme autobiográfico,
"Coração Iluminado" acompanha a trajetória de Juan, um argentino -como Babenco- que
volta à terra natal após 20 anos.
O personagem é interpretado
por dois atores argentinos -Walter Quirós é o Juan jovem, e Miguel Angel Solá, o maduro. As brasileiras Maria Luísa Mendonça e
Xuxa Lopes vivem as mulheres
com que Juan se envolve.
A temática não faz do filme, segundo ele, mais ou menos argentino ou brasileiro. "É um filme do
Babenco. Mercosul só funciona
para grãos e açúcar. A arte desconhece fronteiras. Sou brasileiro
por eleição. Naturalizei-me só para fazer "Lúcio Flávio', achava
que não podia mexer com a corporação policial se não fosse assim. Vivo aqui há 30 anos."
O cineasta diz que não há definição sobre a estréia de "Coração
Iluminado" no Brasil. "Vamos
sambar com a Copa. Tentaremos
acelerar com Cannes, mas, se não
der, fica para depois do futebol."
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