São Paulo, sexta, 24 de abril de 1998

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"Voltamos a reeducar o público"

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

"É importante que escutemos bem o que o mercado internacional está nos dizendo, e ele está nos dizendo coisas muito rapidamente." Assim o cineasta Hector Babenco reagiu, em entrevista à Folha, à seleção de seu "Coração Iluminado" para a competição oficial de Cannes 98.
"Voltamos a reeducar o público brasileiro, desde que "Carlota Joaquina', de Carla Camurati, abriu o pós-apocalipse do cinema nacional. Temos que ouvir muito a nova geração que está surgindo, que está berrando para existir."
"Quem abriu esse caminho foi Walter Salles, com "Terra Estrangeira' e agora "Central do Brasil', foi Walter Lima Jr., com "A Ostra e o Vento', que adoro, é Beto Brant, com "Os Matadores', que não ganhou prêmio, mas já vai botar para quebrar", completou.
Segundo Babenco, seu filme foi apreciado e aceito por Cannes em 24 horas. "Eles viram na terça à tarde, e na quinta de manhã houve a confirmação. O fato de o filme ter sido admitido prontamente é muito legal para mim", disse.
Ele falou do significado pessoal da conclusão de "Coração Iluminado". "Significa eu voltar a fazer cinema após um longo e tenebroso inverno. Foi muito importante no meu processo de recuperação." Refere-se ao período em que sofreu de câncer linfático, curado após um transplante de medula, nos Estados Unidos, em 95.
Caracterizado por Babenco como um filme autobiográfico, "Coração Iluminado" acompanha a trajetória de Juan, um argentino -como Babenco- que volta à terra natal após 20 anos.
O personagem é interpretado por dois atores argentinos -Walter Quirós é o Juan jovem, e Miguel Angel Solá, o maduro. As brasileiras Maria Luísa Mendonça e Xuxa Lopes vivem as mulheres com que Juan se envolve.
A temática não faz do filme, segundo ele, mais ou menos argentino ou brasileiro. "É um filme do Babenco. Mercosul só funciona para grãos e açúcar. A arte desconhece fronteiras. Sou brasileiro por eleição. Naturalizei-me só para fazer "Lúcio Flávio', achava que não podia mexer com a corporação policial se não fosse assim. Vivo aqui há 30 anos."
O cineasta diz que não há definição sobre a estréia de "Coração Iluminado" no Brasil. "Vamos sambar com a Copa. Tentaremos acelerar com Cannes, mas, se não der, fica para depois do futebol."



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