São Paulo, sexta, 24 de abril de 1998

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Sexo e humor dão fluidez à narrativa

da Reportagem Local

Já na primeira parte de sua autobiografia, "Apenas um Subversivo", dedicada à sua infância, adolescência e primeiras experiências profissionais, Dias Gomes deixa claro que sua vida sempre girou em torno de dois temas -teatro e militância política- e que os dois são praticamente inseparáveis.
Isso, porém, não faz com que o livro seja um desfile de aplausos ou perseguições.
Com um texto fluído e bem-humorado, "Apenas um Subversivo" também dá destaque, por exemplo, às experiências sexuais do autor, terreno no qual se movimentou com rapidez. Vai do primeiro beijo à primeira transa, passando pelo primeiro flagrante e culminando na primeira gonorréia, em menos de três páginas.
Detalha ainda, com uma ponta de ironia, fatos anedóticos de sua carreira, como a contratação de Silvio Santos para ser o locutor da madrugada na Rádio Clube, que ele dirigia.
Dias também aproveita para tentar desfazer enganos, como suas desavenças com o diretor do filme "O Pagador de Promessas", Anselmo Duarte, a quem chama de "simpático mentiroso compulsivo". Por vezes, o dramaturgo cai no quixotesco, como ao pedir uma avaliação da obra do maestro Cláudio Santoro à altura de sua importância.
Dias Gomes refaz no livro seus 75 anos de vida e seus 56 anos de carreira. O título da autobiografia saiu de uma frase de Carlos Lacerda (1914-1977).
Em 1965, o ex-governador da Guanabara (hoje Rio) foi contra a liberação de sua peça "O Berço do Herói" e argumentou, comparando-o a Nelson Rodrigues. Lacerda disse na ocasião: "O Nelson é apenas pornográfico, mas o Dias Gomes é pornográfico e subversivo. Se vocês querem fazer revolução, que peguem em armas" -frase que o dramaturgo usa para abrir seu livro.
A autobiografia, porém, apresenta pequenos problemas, como a ausência de uma revisão mais acurada, que evitaria banais erros de concordância ou mesmo históricos, como quando trata da independência do Brasil e cita 1922 e não 1822. (CF)


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