São Paulo, sexta, 24 de abril de 1998

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Pagu

A escritora e jornalista paulista usava o pseudônimo de King Shelter nos anos 40 para escrever histórias policiais na revista "Detective", dirigida por Nelson Rodrigues; identidade foi descoberta depois de quase 54 anos

CRISTINA GRILLO
da Sucursal do Rio

Em apenas seis meses -de junho a dezembro de 1944-, o escritor King Shelter tornou-se um fenômeno entre os fãs brasileiros de literatura policial, que compravam os exemplares da revista "Detective" em busca de seus contos.
Da mesma maneira que surgiu -repentinamente-, Shelter desapareceu. Os nove contos escritos para "Detective", um dos mais bem-sucedidos exemplos da literatura "pulp fiction" no Brasil, jamais foram reeditados.
Agora, quase 54 anos depois, King Shelter reaparece. E, como em um bom enredo policial, sua identidade é revelada: Shelter foi o pseudônimo usado por Patrícia Galvão, a Pagu, musa dos modernistas, em sua breve incursão pelo mundo da literatura policial.
"Safra Macabra", livro a ser lançado no início de maio pela editora José Olympio, reúne os nove contos escritos por Patrícia Galvão para a "Detective". A revista era dirigida por Nelson Rodrigues.
A redescoberta dos contos de Pagu segue um roteiro que poderia servir de ponto de partida para mais uma "pulp fiction". Geraldo Galvão Ferraz, 56, filho da escritora e fã das revistas policiais editadas no Brasil entre os anos 30 e 50, encontrou em um sebo paulista uma coleção de "Detective".
Tempos depois, ao examinar a nova aquisição em busca de um conto de Dashiell Hammett (o autor, entre outros, de "O Falcão Maltês"), descobriu uma história escrita por King Shelter.
O nome jogou uma luz nas memórias de Ferraz: anos antes, ouvira uma referência ao pseudônimo em uma conversa com o pai, o escritor Geraldo Ferraz.
"Ele havia me falado sobre King Shelter e chegou a me mostrar uma edição de "Detective' com um dos contos. Na época, não dei importância, nem sequer li. Depois, perdi a revista e o contato com Shelter", disse Ferraz à Folha.
A partir daí, ele iniciou uma pesquisa até encontrar os nove contos agora reeditados. A pesquisa centrou-se no início dos anos 40.
No início de 1945, Pagu voltou para Santos (SP), onde havia morado logo após ser solta, encerrando assim a carreira de King Shelter nas páginas de "Detective".
Para Ferraz, a descoberta dos contos policiais de Pagu mostrou um aspecto desconhecido da mãe.
"Há o aspecto curioso, de descobrir que uma mulher como ela, vista como libertária e engajada politicamente, escrevia contos policiais. Mas, ao ler o material, comecei a perceber que, além da curiosidade, ela tinha uma qualidade literária dentro do gênero e da época", disse.



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