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Pagu
A escritora e jornalista paulista usava o pseudônimo de King Shelter nos anos 40 para escrever histórias policiais na revista "Detective", dirigida por Nelson Rodrigues;
identidade foi descoberta depois de quase 54 anos
CRISTINA GRILLO
da Sucursal do Rio
Em apenas seis
meses -de junho a dezembro
de 1944-, o escritor King
Shelter tornou-se um fenômeno entre
os fãs brasileiros de literatura policial, que compravam os exemplares da revista "Detective" em busca de seus contos.
Da mesma maneira que surgiu
-repentinamente-, Shelter desapareceu. Os nove contos escritos
para "Detective", um dos mais
bem-sucedidos exemplos da literatura "pulp fiction" no Brasil, jamais foram reeditados.
Agora, quase 54 anos depois,
King Shelter reaparece. E, como
em um bom enredo policial, sua
identidade é revelada: Shelter foi o
pseudônimo usado por Patrícia
Galvão, a Pagu, musa dos modernistas, em sua breve incursão pelo
mundo da literatura policial.
"Safra Macabra", livro a ser lançado no início de maio pela editora José Olympio, reúne os nove
contos escritos por Patrícia Galvão para a "Detective". A revista
era dirigida por Nelson Rodrigues.
A redescoberta dos contos de
Pagu segue um roteiro que poderia servir de ponto de partida para
mais uma "pulp fiction". Geraldo
Galvão Ferraz, 56, filho da escritora e fã das revistas policiais editadas no Brasil entre os anos 30 e 50,
encontrou em um sebo paulista
uma coleção de "Detective".
Tempos depois, ao examinar a
nova aquisição em busca de um
conto de Dashiell Hammett (o autor, entre outros, de "O Falcão
Maltês"), descobriu uma história
escrita por King Shelter.
O nome jogou uma luz nas memórias de Ferraz: anos antes, ouvira uma referência ao pseudônimo em uma conversa com o pai, o
escritor Geraldo Ferraz.
"Ele havia me falado sobre King
Shelter e chegou a me mostrar
uma edição de "Detective' com
um dos contos. Na época, não dei
importância, nem sequer li. Depois, perdi a revista e o contato
com Shelter", disse Ferraz à Folha.
A partir daí, ele iniciou uma pesquisa até encontrar os nove contos
agora reeditados. A pesquisa centrou-se no início dos anos 40.
No início de 1945, Pagu voltou
para Santos (SP), onde havia morado logo após ser solta, encerrando assim a carreira de King Shelter
nas páginas de "Detective".
Para Ferraz, a descoberta dos
contos policiais de Pagu mostrou
um aspecto desconhecido da mãe.
"Há o aspecto curioso, de descobrir que uma mulher como ela,
vista como libertária e engajada
politicamente, escrevia contos policiais. Mas, ao ler o material, comecei a perceber que, além da curiosidade, ela tinha uma qualidade
literária dentro do gênero e da
época", disse.
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