São Paulo, Sábado, 24 de Abril de 1999
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Medaglia diz que foi usado por Ticketeatro

DANIEL CASTRO
da Reportagem Local

O maestro Júlio Medaglia Filho, diretor-artístico e regente titular da orquestra Amazonas Filarmônica, diz que seu nome foi usado pela Associação Juventude Musical do Brasil para obter recursos da Lei Mendonça, de incentivo fiscal à cultura no município de São Paulo.
A associação é responsável pelo projeto Ticketeatro, de venda de ingressos de shows e peças teatrais, que faliu em dezembro passado após um ano e meio de atividades.
Com patrocínio da IBM do Brasil, o Ticketeatro recebeu entre 95 e 97 R$ 4,5 milhões da Lei Mendonça -70% desses recursos foram bancados pela prefeitura.
Em três pareceres, a Comissão de Averiguação e Avaliação de Projetos Culturais, que fiscaliza a aplicação da Lei Mendonça, recomenda a rejeição da prestação de contas do Ticketeatro e aponta supostos abusos, como a compra de ração para cães e absorventes íntimos com recursos públicos.
O nome do maestro Júlio Medaglia aparece em atas de reuniões da Juventude Musical de 93 a 97. Em 26 de junho de 95, foi eleito diretor-artístico da entidade, sem estar presente. Medaglia diz que participou apenas da primeira reunião da associação, a de fundação, em 25 de junho de 93.
"Não tenho nada a ver com essa associação. Estou de laranja nessa história", disse Medaglia. "Eu pedi para sair fora logo no início."
O também maestro Ary de Jácomo Bisaglia, diretor-geral da Juventude Musical e responsável pelo Ticketeatro, não comentou o assunto durante entrevista à Folha. Ele argumenta que as despesas questionadas pela comissão de averiguação eram necessárias.
Medaglia diz que só soube que ocupava cargo na associação neste ano. Ele enviou ao jornal cópia de uma declaração assinada por Bisaglia em 3 de fevereiro de 99, na qual o diretor-geral da Juventude Musical admite que a eleição de Medaglia foi "à sua revelia".
O regente da Amazonas Filarmônica diz que ficou inicialmente interessado na Juventude Musical porque ela pretendia resgatar um projeto que existiu nos anos 50, de mesmo nome e comandado pelo maestro Eleazar de Carvalho.
O projeto original promovia concertos gratuitos. "Toda a minha geração frequentou esses concertos", lembra Medaglia.
A Juventude Musical original tinha apoio da Unesco (órgão das Nações Unidas que trata de educação, ciência e cultura), fato também usado por Bisaglia. A representação da Unesco no Brasil diz desconhecer a entidade. Em 97, Bisaglia conseguiu filiar sua associação à federação internacional das Juventudes Musicais, órgão reconhecido pela Unesco.


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