São Paulo, quinta-feira, 24 de maio de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Prosa incorpora recursos visuais

DA REPORTAGEM LOCAL

António Castilho de Alcântara Machado d'Oliveira, nome e origem aristocráticos, encontrou na sociedade paulistana emergente, imigrante e proletária o objeto de sua prosa. Rompeu, na arte mais, mas também na vida, as barreiras do estigma social.
No campo biográfico, purgou a exclusão pelo envolvimento com Lolita, espécie de ovelha negra dos altos salões quatrocentões, 16 anos mais velha que ele.
Só reconcilia-se com a família nos últimos anos de vida, quando se muda para o Rio a fim de secretariar a bancada parlamentar paulista na Constituinte que a revolução conseguiu arrancar de Getúlio Vargas -movimento do qual seu pai, José de Alcântara Machado, era um dos líderes.
Em 1934, o advogado formado no largo de São Francisco em 1923 elege-se como o deputado pelo Partido Constitucionalista mais votado em São Paulo. Morre meses depois, em 14 de abril de 1935, sem tomar posse. À partida de seu corpo do Rio, os registros de época dizem que compareceram 10 mil pessoas.
Traçada assim a rubrica biográfica de Alcântara Machado, como costuma figurar nos verbetes a ela dedicados, não se explica sua obra nem o dínamo que a possibilitou.
Djalma Cavalcante, que há décadas pesquisa a vida do escritor, aponta como central a importância de uma viagem à Europa, em 1925, da qual volta modernista de corpo e alma.
"Nas cartas que manda à família, isso fica claro. Uma série de coisas que até ali eram valores para ele deixam de ser", afirma. Não se pode esquecer que, na Semana de 22, ele está na platéia que vaia, não entre os modernistas.
O pesquisador afirma que duas descobertas literárias abrem seus olhos para a renovação: Guillaume Appolinaire e John dos Passos. Herda do primeiro recursos gráfico-visuais incorporados ao texto, e do segundo, o estilo ágil e permeável às inovações da linguagem da sociedade industrial.
Aproximando-se do jornalismo que também praticou profundamente (chega a batizar o prefácio de "Brás, Bexiga e Barra Funda" de "Artigo de Fundo"), sua prosa enfoca, no tema e na forma, o cotidiano na cidade industrial nascente que era São Paulo.
Em "Brás...", seu livro mais famoso, passa pelo futebol -"Corinthians (2) vs. Palestra (1)"- e vai à política muitas vezes, quase sempre na fala do filho do italiano nascido no Brasil que aprendeu em Juó Bananére, criador literário do dialeto "macarrônico".
"Costumo dizer que António é um "cineasta" com muita cor local", compara Cavalcante. (RM)



Texto Anterior: Trecho
Próximo Texto: Mônica Bergamo: Quem diz sim
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.