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Prosa incorpora recursos visuais
DA REPORTAGEM LOCAL
António Castilho de Alcântara
Machado d'Oliveira, nome e origem aristocráticos, encontrou na
sociedade paulistana emergente,
imigrante e proletária o objeto de
sua prosa. Rompeu, na arte mais,
mas também na vida, as barreiras
do estigma social.
No campo biográfico, purgou a
exclusão pelo envolvimento com
Lolita, espécie de ovelha negra
dos altos salões quatrocentões, 16
anos mais velha que ele.
Só reconcilia-se com a família
nos últimos anos de vida, quando
se muda para o Rio a fim de secretariar a bancada parlamentar
paulista na Constituinte que a revolução conseguiu arrancar de
Getúlio Vargas -movimento do
qual seu pai, José de Alcântara
Machado, era um dos líderes.
Em 1934, o advogado formado
no largo de São Francisco em 1923
elege-se como o deputado pelo
Partido Constitucionalista mais
votado em São Paulo. Morre meses depois, em 14 de abril de 1935,
sem tomar posse. À partida de seu
corpo do Rio, os registros de época dizem que compareceram 10
mil pessoas.
Traçada assim a rubrica biográfica de Alcântara Machado, como
costuma figurar nos verbetes a ela
dedicados, não se explica sua obra
nem o dínamo que a possibilitou.
Djalma Cavalcante, que há décadas pesquisa a vida do escritor,
aponta como central a importância de uma viagem à Europa, em
1925, da qual volta modernista de
corpo e alma.
"Nas cartas que manda à família, isso fica claro. Uma série de
coisas que até ali eram valores para ele deixam de ser", afirma. Não
se pode esquecer que, na Semana
de 22, ele está na platéia que vaia,
não entre os modernistas.
O pesquisador afirma que duas
descobertas literárias abrem seus
olhos para a renovação: Guillaume Appolinaire e John dos Passos. Herda do primeiro recursos
gráfico-visuais incorporados ao
texto, e do segundo, o estilo ágil e
permeável às inovações da linguagem da sociedade industrial.
Aproximando-se do jornalismo
que também praticou profundamente (chega a batizar o prefácio
de "Brás, Bexiga e Barra Funda"
de "Artigo de Fundo"), sua prosa
enfoca, no tema e na forma, o cotidiano na cidade industrial nascente que era São Paulo.
Em "Brás...", seu livro mais famoso, passa pelo futebol -"Corinthians (2) vs. Palestra (1)"- e
vai à política muitas vezes, quase
sempre na fala do filho do italiano
nascido no Brasil que aprendeu
em Juó Bananére, criador literário
do dialeto "macarrônico".
"Costumo dizer que António é
um "cineasta" com muita cor local", compara Cavalcante.
(RM)
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