|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA
Compositor e cantor norte-americano completa hoje seis décadas; livros e coletâneas são lançados só no exterior
Anos 60 chegam aos 60 anos com Dylan
MARCELO NEGROMONTE
DA REDAÇÃO
Os anos 60 chegaram aos 60
anos. Bob Dylan faz aniversário
hoje e este ano completa ainda 40
anos de uma carreira que se confunde com a própria história do
rock. "Like a rolling stone."
Os livros "Down the Highway:
The Life of Bob Dylan", de Howard Sounes, e "Positively Fourth
Street: The Life and Times of Joan
Baez, Bob Dylan, Mimi Baez Fariña and Richard Fariña", de David
Hadju (leia abaixo), além do lançamento em DVD do documentário histórico "Don't Look
Back", homenageiam o Bob
Dylan sexagenário.
Na área discográfica as comemorações são folk e gospel. "A
Nod to Bob", coletânea de músicos folk com versões de canções
de Dylan, e "Pressing On: The
Gospel Songs of Bob Dylan", com
cantores gospel interpretando
músicas da fase religiosa do compositor, mais especificamente a
dos álbuns "Slow Train Coming"
(1979) e "Saved" (1980), celebram
esta data querida.
O documentário "Don't Look
Back", dirigido por D.A. Pennebaker, capta as três semanas da
turnê britânica que Dylan fez em
1965, a última como performer
acústico. Agora o filme histórico é
lançado em DVD, mas apenas no
exterior. Aliás, nenhum desses livros ou discos saem no Brasil.
Patti Smith, Tracy Chapman, T-Bone, entre outros, homenagearam Bob Dylan no último dia 19,
num show beneficente em Nova
York. Dylan avisou que não fará
nenhuma comemoração pública
de seu aniversário. Cool.
Daqui a 30 dias, Dylan inicia
uma turnê européia na Noruega e
passa por mais oito países, totalizando 23 apresentações em pouco mais de um mês.
O homem que eletrificou a música folclórica norte-americana e
falou o que os jovens não queriam
ouvir -foi vaiado, chamado de
Judas- converteu-se ao cristianismo evangélico, foi da glória a
um relativo obscurantismo, reinventou-se e continua não se importando com o público. Completa seis décadas de vida no ano
em que recebe o Oscar de melhor
canção, "Things Have Changed",
do filme "Garotos Incríveis".
E coisas mudaram para esse -e
inúmeros outros- garoto incrível. Principalmente depois de plugar poesia, péssima voz e eletricidade no rock'n'roll.
Nascido Robert Allen Zinnermann, no Estado do Minnesota,
Bob tomou emprestado o Dylan
do escritor Dylan Thomas. Mudou-se para Nova York e, em
1961, se enturmou com os artistas
do Greenwich Village, visceralmente influenciado por blues,
country e pelo cantor, gaitista e
violonista folk Woody Guthrie,
que viria a conhecer no hospital
pouco antes de sua morte.
Apresentava-se em bares e
coffeeshops e, menos de um ano
depois, uma crítica positiva do
jornal "The New York Times"
chamou a atenção de um executivo da Columbia Records, hoje selo da Sony, sua atual gravadora. A
partir daí o rock ficou mais sarcástico, político e poético.
Até agora a obra de Dylan são 43
álbuns, mais de 500 músicas (sendo 237 compostas entre 1962 e
1965), um romance, "Tarantula"
(1971), e dois filmes sob direção
do "porta-voz daquela geração",
"Eat the Document" (1966) e "Renaldo and Clara" (1978).
Hits, não. Dylan fez clássicos:
"Like a Rolling Stone" (1965),
"Rainy Day Women" (1966), "Lay
Lady Lay" (1969), "Mr. Tambourine Man" (1965), "Blowin" in the
Wind" (1963), "The Times They
Are A-Changing" (1964) e muitos,
muitos outros.
Algumas obras-primas pop ficaram conhecidas antes por meio
de grupos mais digeríveis, como
Peter, Paul & Mary ("Blowin" in
the Wind") e The Byrds ("Mr.
Tambourine Man").
De meados dos anos 70 à década de 80, Bob Dylan se separou da
mulher, Sarah Lowndes (e lançou
"Blood on Tracks", em 1975),
converteu-se ao cristianismo, de
1979 a 1982 (ele nasceu judeu), renegou sua obra anterior e fez álbuns fracos nos anos 80.
Veio ao Brasil duas vezes, em
1990 (Hollywood Rock) e 1998,
quando abriu para os Rolling Stones e cantou com Mick Jagger "Like a Rolling Stone".
Em 1997, depois de ser internado devido a problemas no coração, Dylan lançou "Time Out of
Mind" (Tempo Louco) e levou
três Grammy, entre eles o de melhor álbum do ano.
Tempos loucos foram os anos
60, tempos loucos são os 2000. E
Dylan passou por todos como o
primeiro trovador romântico do
rock a virar tudo o que havia antes
dele de cabeça para baixo, não
sem antes injetar sua voz anasalada, suas letras cínicas, doloridas,
pungentes e amargas o suficiente
para se tornar um mito.
E aí, anos 60, "how does it feel"?
Texto Anterior: Cannes: Documentários compensam as obras de ficção no festival francês Próximo Texto: Dylan em discos e livros Índice
|