São Paulo, quinta-feira, 24 de maio de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA

Compositor e cantor norte-americano completa hoje seis décadas; livros e coletâneas são lançados só no exterior

Anos 60 chegam aos 60 anos com Dylan

MARCELO NEGROMONTE
DA REDAÇÃO

Os anos 60 chegaram aos 60 anos. Bob Dylan faz aniversário hoje e este ano completa ainda 40 anos de uma carreira que se confunde com a própria história do rock. "Like a rolling stone."
Os livros "Down the Highway: The Life of Bob Dylan", de Howard Sounes, e "Positively Fourth Street: The Life and Times of Joan Baez, Bob Dylan, Mimi Baez Fariña and Richard Fariña", de David Hadju (leia abaixo), além do lançamento em DVD do documentário histórico "Don't Look Back", homenageiam o Bob Dylan sexagenário.
Na área discográfica as comemorações são folk e gospel. "A Nod to Bob", coletânea de músicos folk com versões de canções de Dylan, e "Pressing On: The Gospel Songs of Bob Dylan", com cantores gospel interpretando músicas da fase religiosa do compositor, mais especificamente a dos álbuns "Slow Train Coming" (1979) e "Saved" (1980), celebram esta data querida.
O documentário "Don't Look Back", dirigido por D.A. Pennebaker, capta as três semanas da turnê britânica que Dylan fez em 1965, a última como performer acústico. Agora o filme histórico é lançado em DVD, mas apenas no exterior. Aliás, nenhum desses livros ou discos saem no Brasil.
Patti Smith, Tracy Chapman, T-Bone, entre outros, homenagearam Bob Dylan no último dia 19, num show beneficente em Nova York. Dylan avisou que não fará nenhuma comemoração pública de seu aniversário. Cool.
Daqui a 30 dias, Dylan inicia uma turnê européia na Noruega e passa por mais oito países, totalizando 23 apresentações em pouco mais de um mês.
O homem que eletrificou a música folclórica norte-americana e falou o que os jovens não queriam ouvir -foi vaiado, chamado de Judas- converteu-se ao cristianismo evangélico, foi da glória a um relativo obscurantismo, reinventou-se e continua não se importando com o público. Completa seis décadas de vida no ano em que recebe o Oscar de melhor canção, "Things Have Changed", do filme "Garotos Incríveis".
E coisas mudaram para esse -e inúmeros outros- garoto incrível. Principalmente depois de plugar poesia, péssima voz e eletricidade no rock'n'roll.
Nascido Robert Allen Zinnermann, no Estado do Minnesota, Bob tomou emprestado o Dylan do escritor Dylan Thomas. Mudou-se para Nova York e, em 1961, se enturmou com os artistas do Greenwich Village, visceralmente influenciado por blues, country e pelo cantor, gaitista e violonista folk Woody Guthrie, que viria a conhecer no hospital pouco antes de sua morte.
Apresentava-se em bares e coffeeshops e, menos de um ano depois, uma crítica positiva do jornal "The New York Times" chamou a atenção de um executivo da Columbia Records, hoje selo da Sony, sua atual gravadora. A partir daí o rock ficou mais sarcástico, político e poético.
Até agora a obra de Dylan são 43 álbuns, mais de 500 músicas (sendo 237 compostas entre 1962 e 1965), um romance, "Tarantula" (1971), e dois filmes sob direção do "porta-voz daquela geração", "Eat the Document" (1966) e "Renaldo and Clara" (1978).
Hits, não. Dylan fez clássicos: "Like a Rolling Stone" (1965), "Rainy Day Women" (1966), "Lay Lady Lay" (1969), "Mr. Tambourine Man" (1965), "Blowin" in the Wind" (1963), "The Times They Are A-Changing" (1964) e muitos, muitos outros.
Algumas obras-primas pop ficaram conhecidas antes por meio de grupos mais digeríveis, como Peter, Paul & Mary ("Blowin" in the Wind") e The Byrds ("Mr. Tambourine Man").
De meados dos anos 70 à década de 80, Bob Dylan se separou da mulher, Sarah Lowndes (e lançou "Blood on Tracks", em 1975), converteu-se ao cristianismo, de 1979 a 1982 (ele nasceu judeu), renegou sua obra anterior e fez álbuns fracos nos anos 80.
Veio ao Brasil duas vezes, em 1990 (Hollywood Rock) e 1998, quando abriu para os Rolling Stones e cantou com Mick Jagger "Like a Rolling Stone".
Em 1997, depois de ser internado devido a problemas no coração, Dylan lançou "Time Out of Mind" (Tempo Louco) e levou três Grammy, entre eles o de melhor álbum do ano.
Tempos loucos foram os anos 60, tempos loucos são os 2000. E Dylan passou por todos como o primeiro trovador romântico do rock a virar tudo o que havia antes dele de cabeça para baixo, não sem antes injetar sua voz anasalada, suas letras cínicas, doloridas, pungentes e amargas o suficiente para se tornar um mito.
E aí, anos 60, "how does it feel"?



Texto Anterior: Cannes: Documentários compensam as obras de ficção no festival francês
Próximo Texto: Dylan em discos e livros
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.