São Paulo, quinta-feira, 24 de maio de 2001

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POLÊMICA

Para o artista, que inaugurou o espaço com performance, "intenção foi preservar integridade da instalação"

Obra de Tunga "despeja" atores do CCBB

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Há três semanas, a série de performances "São Paulo É uma Festa" vinha sendo realizada em meio à megainstalação do artista plástico Tunga, incumbido de inaugurar o Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo (CCBB-SP), no dia 21 de abril.
Desde a quinta passada, os atores do espetáculo foram "despejados" de seu espaço e passaram a atuar na rua, no balcão do edifício e ao redor da obra sem poder interferir nela, como vinha ocorrendo. Antes, uma pequena parte das performances já ocorria na rua.
Pelas próprias características do trabalho de Tunga, de caráter performático e participativo, os artistas não contavam com a atitude. "Não houve diálogo com ele, nos explicaram que era como sobrepor obras e expor a "Monalisa" em frente à "Santa Ceia" (ambas de Leonardo da Vinci). Minhas referências são mais contemporâneas, como Duchamp", diz Beth Lopes, diretora do espetáculo.
"Acho isso uma extrema falta de senso de humor, mas não tenho vontade de polemizar, pois é insignificante", afirma o escritor Fernando Bonassi, autor do texto da peça e colunista da Folha.
"Eu apenas defendi a integridade da minha obra; concebi um trabalho específico e colocaram uma outra teatralidade dentro, o que provocava uma ruptura dessa concepção", diz Tunga.
O artista soube da intervenção teatral através de um amigo fotógrafo, que viu cenas da peça sendo apresentadas como parte da instalação de Tunga na televisão. "Minha ação não tem nada a ver com censura, mas com a preservação de uma obra", afirma.
A assessoria de imprensa do CCBB conta que convocou uma reunião com Marcello Dantas, curador da mostra "Metro - A Metrópole em Você", da qual a obra de Tunga faz parte, e Marcia Abujamra, a curadora das duas peças em cartaz no espaço. Ambos decidiram rearranjar o espetáculo em outras áreas do CCBB. A própria obra de Tunga acabou tendo pequenas alterações: os cobertores no hall do espaço, por onde os atores não poderiam caminhar, ficaram com menos espaço.
"Isso é um problema da curadoria, que foi relapsa e confusa. Eu nem sequer sabia que minha obra tinha algo a ver com o tema metrópole, e, pelo contrato que assinei, nada constava sobre a realização de outros espetáculos na mesma área", afirma Tunga.
Para o artista plástico, "se fosse para haver interação, eu poderia ter sido avisado e criado algo em conjunto, mas o que eles estão fazendo é um monólogo do qual eu não participo".
Em viagem à França, o curador Marcello Dantas não foi encontrado pela reportagem da Folha.
Apesar da polêmica, as performances continuam em cartaz até domingo (com duas sessões entre 12h e 14h e duas entre 17h30 e 19h, às quintas e sextas; duas apresentações no sábado, entre 17h30 e 19h, e duas no domingo, entre 16h e 17h30) com a maioria das cenas no exterior no edifício recém-restaurado. "O espetáculo não foi prejudicado, ele até independe do espaço, graças aos ótimos atores", completa a diretora Lopes. O CCBB fica na rua Álvares Penteado, 112 (tel. 0/xx/11/3113-3618).



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