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Crítica
Histórias encenam as fronteiras de todos nós
AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES
"Babel" começa com
um tiro acidental,
como o filme anterior do roteirista Guillermo Arriaga, "Três Enterros", dirigido
por Tommy Lee Jones. Filho de
um pastor de cabras no Marrocos, um jovem mostra ao irmão
mais velho como se atira e acaba atingindo uma turista americana num ônibus. Como em
"Amores Brutos" e "21 Gramas", também escritos por Arriaga, acasos fazem girar o
mundo dramático do mexicano
Alejandro González Iñárritu.
Amplia-se agora o tabuleiro,
tornado global. Marrocos, Japão, a fronteira EUA-México.
Três histórias se desenvolvem e
se interseccionam num pequeno mosaico à moda Robert Altman ("Nashville"). A fragmentação narrativa é algo menor. A
palheta estilística da composição das imagens, mais ampla.
Brad Pitt e Cate Blanchett
saem em férias para o Marrocos, deixando em casa os dois
filhos com a empregada chicana. É Blanchett quem leva o tiro, agonizando longe de qualquer hospital. As crianças são
levadas improvisadamente ao
México pela criada, para o casamento do filho dela. Na volta,
um incidente na fronteira os
isola em perigo no deserto.
No Japão, o suicídio de uma
mulher perturba a relação entre o viúvo e a filha surda-muda. O rifle usado no incidente
marroquino se revela dele, presenteado ao pastor que fora seu
guia numa viagem.
Como anuncia o título bíblico, "Babel" é uma fábula sobre a
incomunicabilidade. Na versão
de Iñárruti e Arriaga, a desconexão entre familiares se sobrepõe às diferenças de língua,
costumes e culturas. As fronteiras estão antes dentro de nós.
O maior vácuo se encontra
nas relações entre pais e filhos.
Brad Pitt o encena numa conversa telefônica que representa
o ápice de sua carreira no cinema. Harmonia e contenção são
a chave da sinfonia de atores,
célebres e amadores, mais uma
vez alcançada por Iñárritu.
"Volver", de Almodóvar, tem
concorrente à Palma de Ouro.
Cannes pode prolongar a dívida
com ele ou assumir uma com
Iñárruti. Mas ninguém parece
capaz de roubar de "Babel" o título de filme do ano de Cannes.
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