São Paulo, domingo, 24 de maio de 2009

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Televisão

Crítica

Hitchcock se dedica ao mistério do cinema

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Talvez "Janela Indiscreta" (TCL, 22h, classificação: livre) não seja o maior filme de todos os tempos. Mas é, com certeza, o maior filme sobre cinema de todos os tempos.
A lista de seus herdeiros é, por sinal, infindável, de Michelangelo Antonioni a Krzysztof Kieslowski, já para não falar de Brian De Palma.
A história: imobilizado e sem ter o que fazer, por conta de um acidente, um fotógrafo (James Stewart) observa a vida de seus vizinhos pela janela. Isso lhe interessa muito mais, de resto, do que o interesse de Grace Kelly por ele.
O fotógrafo não vê apenas, ele imagina. Pois, criador que é, sabe que as imagens não são inteiramente objetivas. Existe algo nelas que vem de nossa imaginação. Assim, observando seus vizinhos, ele pode imaginar como são.
Pode até criar histórias sobre eles. Pode, inclusive, fantasiar um assassinato.
É, aliás, a dúvida sobre esse crime que atravessa quase todo o filme: aconteceu um crime ou tudo não passa de imaginação?
E onde entra o cinema nessa história? Bem, podemos lembrar que "janela" é o nome que se dá à abertura retangular que delimita a área a ser registrada ou projetada.
É a parte do mundo que o filme escolhe ver. É a esse mistério, o do encontro do subjetivo e do objetivo, que Alfred Hitchcock se dedica neste filme que é, antes de tudo, uma meditação sobre o próprio cinema.

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