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Televisão
Crítica
Hitchcock se dedica ao mistério do cinema
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Talvez "Janela Indiscreta"
(TCL, 22h, classificação: livre)
não seja o maior filme de todos
os tempos. Mas é, com certeza,
o maior filme sobre cinema de
todos os tempos.
A lista de seus herdeiros é,
por sinal, infindável, de Michelangelo Antonioni a Krzysztof
Kieslowski, já para não falar de
Brian De Palma.
A história: imobilizado e sem
ter o que fazer, por conta de um
acidente, um fotógrafo (James
Stewart) observa a vida de seus
vizinhos pela janela. Isso lhe
interessa muito mais, de resto,
do que o interesse de Grace
Kelly por ele.
O fotógrafo não vê apenas,
ele imagina. Pois, criador que é,
sabe que as imagens não são inteiramente objetivas. Existe algo nelas que vem de nossa imaginação. Assim, observando
seus vizinhos, ele pode imaginar como são.
Pode até criar histórias sobre
eles. Pode, inclusive, fantasiar
um assassinato.
É, aliás, a dúvida sobre esse
crime que atravessa quase todo
o filme: aconteceu um crime ou
tudo não passa de imaginação?
E onde entra o cinema nessa
história? Bem, podemos lembrar que "janela" é o nome que
se dá à abertura retangular que
delimita a área a ser registrada
ou projetada.
É a parte do mundo que o filme escolhe ver. É a esse mistério, o do encontro do subjetivo
e do objetivo, que Alfred Hitchcock se dedica neste filme que
é, antes de tudo, uma meditação sobre o próprio cinema.
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