São Paulo, segunda-feira, 24 de junho de 2002

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FOTOGRAFIA

Os cem anos de nascimento do fotógrafo franco-afro-brasileiro são celebrados com livro e mostra, que abre hoje

O mundo de Pierre Verger

Pierre Verger/Divulgação
PELA ESTRADA Criança dorme nas costas de sua mãe, em mercado em Benin (África); ao lado, a partir do alto, guerreiro de Natitingou, também em Benin, em 1936; malabarista do circo Nerino, em Recife (1947); capoeiristas em Salvador e viaduto do Chá, em São Paulo, em 1946

EDER CHIODETTO
EDITOR DE FOTOGRAFIA

A rolleiflex do mestre, emoldurada pelo vermelho intenso de Xangô, recebe o visitante na exposição "O Olhar Viajante de Pierre Fatumbi Verger", comemorativa do centenário do nascimento do etnólogo e fotógrafo franco-afro-brasileiro, que será aberta hoje para convidados e amanhã para o público na Galeria do Sesi, em São Paulo.
A máquina, que infindáveis vezes esteve apontada para as pessoas com o intuito de deslindar suas histórias e seus credos, segue "olhando-as" curiosamente, indiferente à ausência de seu feitor.
Ao que parece, a velha rolleiflex, alheia à passagem do tempo, continua viva, com sede de investigação. A mesma sede que levou Verger (1902-1996) a viajar por cerca de 60 países, publicar 37 livros, fotografar 62 mil negativos e receber o título de doutor pela Sorbonne (sem nunca ter frequentado a universidade). De quebra, ao se aprofundar nos estudos dos rituais religiosos africanos, em Daomé, hoje Benin, na África, foi rebatizado como Fatumbi, que em iorubá significa o renascimento. Tornou-se, então, um babalaô, a mais alta patente masculina do culto africano que, segundo a tradição, possibilita a interpretação do destino das pessoas.
Após algumas passagens pelo Brasil, Verger elegeu, nos anos 60, a cidade de Salvador para ser, de fato, sua pátria. As interfaces entre a África e a Bahia levaram-no a escrever a obra "Fluxo e Refluxo do Tráfico de Escravos entre o Golfo de Benin e a Bahia de Todos os Santos". Mais tarde aprenderia iorubá e passaria a escrever sobre etnobotânica nessa língua.
"O Olhar Viajante de Pierre Fatumbi Verger", título homônimo do livro que está sendo lançado junto à exposição, faz um apanhado geral dessa imensa produção e ambiciosa história de vida com enfoque especial na diversidade cultural tão cara ao etnólogo.
São mais de 600 fotografias, trechos de livros, objetos pessoais -como dois belíssimos exus em ferro-, depoimentos em áudio e até curiosas receitas à base de ervas "Para Deixar o Corpo Leve", "Para Acabar com os Espirros" e "Proteção para Manter a Esposa em Casa", que podem ser vistos pelos 16 módulos idealizados pelo curador Raul Lody, trazidos à luz pela arquiteta Lídia Kosowski e materializados pela produtora Valéria Machado Colela.
"O Olhar Viajante", que já passou pelo Rio, após aportar em São Paulo -onde haverá um seminário (veja ao lado)- segue para Brasília, Salvador, Recife, São Luís e Belém. Locais onde a rolleiflex do Fatumbi continuará a espreitar o brasileiro. A aventura etnográfica segue seu curso.


O OLHAR VIAJANTE DE PIERRE FATUMBI VERGER - mostra. Quando: de amanhã a 18 de agosto, de ter. a sáb., das 10h às 20h; dom., das 10h às 19h. Onde: Galeria de Arte do Sesi (av. Paulista, 1.313, SP, tel.: 0/xx/11/3146-7405). Quanto: entrada franca.


O OLHAR VIAJANTE DE PIERRE FATUMBI VERGER - livro. Editora: Fundação Pierre Verger. Quanto: R$ 80 (221 págs.). Patrocinador: Odebrecht.


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