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ARTIGO
Redemocratização de verbas na BR se faz necessária
LEON CAKOFF
ESPECIAL PARA A FOLHA
Nos últimos dias a opinião
pública tem sido assolada
com lamúrias de grupos que se
sentem prejudicados com as novas políticas -mais democráticas- das empresas estatais sobre
patrocínios culturais. Não posso
ouvir calado que o grupo privilegiado pela gestão anterior da BR
Distribuidora diga agora que não
dá para se enquadrar à nova realidade e que não dá para produzir
um festival de cinema na cidade
do Rio de Janeiro com "apenas"
R$ 2,4 milhões.
A Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, que existe há
27 anos e que mudou de nome
(para Mostra BR de Cinema
-°Mostra Internacional de Cinema em São Paulo), por força de
um contrato de três anos com a
mesma gestão anterior da BR Distribuidora, contrato que ainda vale para 2003, deve fazer um festival por muito menos (R$ 1,6 milhões, reajustáveis para R$
1.881.000) e o faz bem, embora
com sacrifícios que nunca chegaram à opinião pública.
Devo lembrar que o orçamento
ideal da Mostra Internacional de
Cinema beira os R$ 3,3 milhões
(que nunca é alcançado) e que
também estamos enfrentando
problemas inesperados com a comissão da Lei Rouanet para autorizar mais captações com o objetivo de somar mais co-patrocínios e
apoios.
Não posso ouvir calado porque
a gestão anterior da BR Distribuidora privilegiava apenas um grupo do Rio de Janeiro com uma
derrama descabida de dinheiro.
Não posso ouvir sem manifestar
a minha indignação que o mesmo
Festival do Rio tenha recebido por
três anos passados somas anuais
como R$ 4 milhões e mais R$ 2
milhões para gastar em publicidade (reveladas no jornal "O Globo"
de 16/6/03), o que legitima mais
do que nunca as minhas reclamações em relação à gestão anterior
da BR Distribuidora de querer
transformar a Mostra de São Paulo, um dos mais tradicionais eventos culturais e formadores de opinião do país, em "primo pobre
dos festivais".
Contrapartidas
Resistimos inconformados
(mas não calados) e como pudemos até hoje, para o bem do evento, e não cuspimos no prato em
que comeu o nosso público. Que
ficamos indignados nos bastidores da BR Distribuidora e tivemos
vários embates com a sua gestão
anterior, isso tivemos. Pedimos-lhe contrapartidas de publicidade
na Mostra de São Paulo por dois
anos seguidos e nos foi dito que
não havia verba alocada para o
evento de São Paulo.
Tamanha desconsideração que
agora se prova com a revelação de
uma verba extra para o Festival do
Rio fartamente esbanjada com a
ajuda de agências que sabem bem
como fazer publicidade com dinheiro público.
E pedimos outras contrapartidas que não evoluíram. Só agora
sabemos pelos jornais como se
aplicava esse dinheiro público.
Pedimos à mesma diretoria anterior da BR Distribuidora uma
contrapartida também para a reforma de um cinema em São Paulo, o ainda ameaçado de fechar Cinearte, localizado em plena avenida Paulista, e não aceitamos o valor proposto pela empresa (R$
400 mil para a reforma, mais R$
25 mil mensais para sua manutenção), como então lhe dissemos, "para não fazer feio à própria marca da BR".
Havíamos pedido a contrapartida diante do compromisso em
marcha da BR Distribuidora em
reformar o Cine Odeon, na velha
Cinelândia do Rio, e da sua declarada intenção de reformar o Cine
Belas Artes de São Paulo, gestados
pelo mesmo grupo do Festival do
Rio.
A reforma do Belas Artes e do
Cinearte, ambas em São Paulo,
não saíram, mas só agora sabemos que o Cine Odeon custa neste
ano à BR Distribuidora uma verba de manutenção de R$ 1,8 milhão.
Não vou cansar agora o leitor
sobre a quantidade de coisas que
a Mostra BR de Cinema ofereceu
em sua programação nas suas
versões de número 25 e 26, ambas
com a assinatura da BR Distribuidora. Isso pode ser verificado em
nossos arquivos eletrônicos
(www.mostra.org).
E sei bem que ninguém subtrai
o direito de uma empresa estatal,
mista ou privada, de designar executivos com o poder temporal para se promover com dinheiro próprio ou de renúncia fiscal.
O que não me parece correto é
uma empresa estatal como a BR
Distribuidora não ter exercido a
democracia federalista, conforme
se verifica agora, na distribuição
de suas verbas que privilegiaram
o Rio de Janeiro com 67% dos valores sobre o total de seus investimentos ditos culturais (Folha de 11/6/03).
Quero encerrar este manifesto
pelo bem, dizendo que estou disposto a colaborar com os meus
colegas do Rio, como sempre lhes
disse estar, palavras que também
repetia para a anterior gestão da
BR Distribuidora. Quem sabe,
uma programação compartilhada
e paralela dos dois festivais reduza
custos e torne ainda mais viáveis
ambas as manifestações. Afinal,
primo, embora pobre, ainda mais
que tem o mesmo patrono, é para
essas coisas.
Leon Cakoff é diretor da Mostra BR de
Cinema - Mostra Internacional de Cinema em São Paulo
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