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LIVRO
Quinto e mais recente episódio da série do jovem bruxo criado por J.K. Rowling adota tom sombrio e psicológico
Harry Potter vive crise de adolescência
MICHIKO KAKUTANI
DO "NEW YORK TIMES"
No quinto e mais recente título da série "Harry Potter",
"Harry Potter and the Order of
the Phoenix", um dos antigos
professores de Potter lhe lança
um "encanto de desilusão". É um
meio de torná-lo menos visível
aos olhos curiosos, mas serve como metáfora para a perda das ilusões infantis de Potter.
Depois de perder muito de sua
inocência nas batalhas com Lord
Voldemort, o feiticeiro de 15 anos
se vê compelido a confrontar revelações ainda mais perturbadoras. Livro consideravelmente
mais sombrio e psicológico do
que os anteriores, ocupa o mesmo
posto emocional na série de Potter que "O Império Contra-Ataca" ocupava na trilogia de "Guerra nas Estrelas". Serve como uma
espécie de ponto nodal para a série, marcando o fim da infância de
Potter e sua descoberta de que
uma antiga profecia detém o segredo sobre a obsessão de Voldemort com ele e sua família.
Aqui ele é um personagem mais
zangado, perturbado não apenas
pelas pressões de salvar o mundo,
como também pelas frustrações
adolescentes e pelo peso de uma
fama que suas aventuras em Hogwarts depositaram sobre seus
ombros: Potter é seguido por jornalistas, é alvo de fofocas e todos
dizem a ele que é especial. O livro
começa com uma certa lentidão
porque Potter passa boa parte dos
capítulos deprimido.
Há menos humor; a mágica se
tornou menos uma arte e mais
uma arma de guerra. O bruxo se
vê sujeito a sonhos alarmantes e
kafkianos, enquanto os membros
adultos da Ordem da Fênix, uma
sociedade secreta organizada para combater Voldemort, se vêem
enfrentando a incompetência do
Ministério de Mágica. O medo
paira sobre o romance.
O que a escritora J.K. Rowling
tenta fazer na primeira metade é
delinear tanto o mundo cada vez
mais sombrio de seus personagens quanto as incômodas mudanças emocionais que eles enfrentam à medida que crescem,
algo que raramente é tratado em
histórias infantis.
Os temas do sacrifício pessoal e
da traição oferecidos nos volumes
anteriores são amplificados. Surgem novas revelações sobre a relação entre Potter e seus parentes,
e um personagem próximo a ele
morre. Ainda que demore um
pouco para que as engrenagens
desse longo romance comecem a
funcionar, os talentos da autora
tomam o controle, entrelaçando o
trivial e o maravilhoso, o psicológico e o alegórico.
Quando Potter descobre que
seus mentores são falíveis, ele
questiona se as suas fraquezas não
estão empurrando-o para as garras de Voldemort. Potter procura
respostas sobre como deter o inimigo e tem de entender que, na
vida adulta, existem mais ambiguidades que ele imagina.
Uma das coisas que tornou o
bruxo atraente é a capacidade de
Rowling de aproveitar arquétipos
de várias fontes - mitos, contos
de fadas, clássicos infantis e o cinema- e torná-los algo novo.
Ainda que Voldemort seja um
tanto caricatural às vezes, Potter é
um personagem tão natural que o
leitor tem uma sensação de familiaridade. Como esse volume e os
anteriores atestam, Rowling imaginou seu universo em detalhes
tão precisos que nos sentimos admitidos a uma terra tão palpável
como a Terramédia de Tolkien.
Os feiticeiros e bruxas que vivem lá compartilham relações
complicadas e antigas, e vivem
em um lugar onde o fantástico e o
fabuloso são rotina, mas também
sujeito às limitações e perdas de
nosso mundo mortal.
Tradução Paulo Migliacci
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