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ARTES VISUAIS
Mostra que tem início em SP apresenta a produção dessincronizada que marcou o modernismo em Portugal
MAM agrega solitários da arte portuguesa
JULIANA MONACHESI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Cinco artistas portugueses
"fronteiriços", que traçaram os
contornos de uma arte mais fincada em seu próprio tempo por
meio de um discurso crítico em
relação à modernidade, são devidamente apresentados ao Brasil
em exposição que tem abertura
hoje no MAM de São Paulo.
Se os nomes de Amadeo de Souza-Cardoso, Almada Negreiros,
Vieira da Silva, Joaquim Rodrigo
e Paula Rego não nos são estranhos, a produção desses artistas
não é conhecida em profundidade pelo público brasileiro. Com 50
obras vindas de diversas instituições, a mostra concebida por Pedro Lapa é ambiciosa no tamanho
e no conceito.
O curador defende que foram
esses artistas os responsáveis pela
internacionalização da arte portuguesa. Vítima das condições
impostas pelo fascismo, a produção artística em Portugal viveu
enclausurada durante a primeira
metade do século 20. Por conta
disso, o naturalismo do século 19
estendeu-se excessivamente na
história. O surrealismo, por
exemplo, só aparece no país em
1948, segundo Pedro Lapa.
Nos anos 40 houve uma "renovação atrasada" na arte portuguesa, mas de forma muito comprometida com as vanguardas européias. "Os responsáveis por esse
movimento, ainda que tenham
contribuído para a constituição
de uma modernidade em Portugal, não possuem relevância no
cenário internacional" -justifica
assim as suas escolhas.
Amadeo de Souza-Cardoso
(1887-1918), que dividiu estúdio
com Modigliani em Paris e conviveu com Brancusi, transitou por
vários estilos, mas sempre de maneira estilizada, buscando um
sentido próprio.
Em viagem a Portugal para passar as férias em 1914, não pode
mais deixar o país com o início da
guerra, e "toda a sua produção
dali em diante vai ser marcada pela memória do que viu e pela experimentação que empreenderá,
como se estivesse refazendo o
passado". Elementos órficos e futuristas reaparecem recontextualizados, com a incorporação paralela de elementos populares.
José de Almada Negreiros
(1893-1970), conhecido como
poeta futurista, a partir da década
de 20 dedicou-se apenas ao trabalho visual, buscando a pureza do
desenho e a racionalização da arte. Na pintura "Começar", assim
como em alguns auto-retratos
que integram a mostra, fica evidente a articulação de suas várias
pesquisas sobre o cânone da
construção e da proporção.
Defendendo uma visão oposta a
essa, Maria Helena Vieira da Silva
(1908-1992) ficou conhecida pela
pesquisa da relação entre cor e espaço, "como elementos que coabitam afastados por um intervalo,
que indica a impossibilidade de
síntese na arte", afirma o curador.
Em telas como "Enigma", de
1947, a tensão ótica entre os elementos é desenvolvida com
maior complexidade. "Toda a sua
pintura se faz sobre essa incerteza,
mostrando um constante fluxo e
refluxo de profundidade."
Joaquim Rodrigo (1912-1997) e
Paula Rego (1935) rompem mais
radicalmente com a tradição moderna. O primeiro por adotar
abertamente o desenvolvimento
de narrativas em sua obra. Outra
marca de seus trabalhos é a busca
de cores e símbolos de outras culturas, em uma referência às guerras coloniais portuguesas.
Já Paula Rego é quem insere
uma dimensão pulsional e um desejo de fabulação na pintura. A artista vive em Londres e é consagrada internacionalmente, conhecida por retratar em suas
obras o lado obscuro da natureza
humana. O recorte de sua produção na mostra, entretanto, é centrado nas colagens dos anos 60,
que encenam o rebaixamento, o
âmbito incontrolável da vida e
evocam temas que vão da sexualidade à alegoria política.
CINCO PINTORES DA MODERNIDADE
PORTUGUESA (1911-1965). Onde:
MAM (pq. Ibirapuera, portão 3, SP, tel. 0/
xx/11/5549-9688). Quando: abertura
hoje, às 19h30; de ter. a sex, das 12h às
18h; qui., até 22h; sáb. e dom., das 10h às
18h; até 12/9. Quanto: R$ 5.
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