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CINEMA
O diretor catalão Joaquín Oristrell utiliza conceitos freudianos para satirizar a sociedade atual em "Inconscientes"
Comédia coloca a Espanha de hoje no divã
SYLVIA COLOMBO
EDITORA DO FOLHATEEN
Parece Conan Doyle, mas a ação
se passa em Barcelona, em 1913, e
não na Londres vitoriana. Parece
apenas uma comédia romântica
de ambientação histórica, mas é
uma sátira ao conservadorismo
que toma força nos dias de hoje.
O cineasta catalão Joaquín Oristrell, 47, conhecido como uma espécie de rei da comédia televisiva,
conseguiu mesclar esse gênero
tão atual com os folhetins do século passado em "Inconscientes".
O filme, que teve cinco indicações para o Goya deste ano, traz
uma divertida investigação à la
Sherlock Holmes cujo fio condutor é o impacto das teorias freudianas na sociedade espanhola
daquele período. Trata-se de uma
investigação irônica sobre a maneira como a elite de "modernos"
dos anos 10 absorveu o turbilhão
de novidades sobre sexo que surgiu a partir dos conceitos de Sigmund Freud (1856-1939).
Oristrell foi um dos que encabeçaram, em 2003, um protesto coletivo de artistas contra a decisão
do governo espanhol de participar da Guerra do Iraque. O episódio inspirou o filme "Los Abajo
Firmantes", lançado em 2003.
A seguir, em entrevista à Folha, por telefone, de Madri, Joaquín
Oristrell fala de um novo momento de efervescência cultural em
sua Espanha.
Folha - Por que fazer um filme sobre psicanálise?
Joaquín Oristrell - Há tempos eu
queria fazer um filme sobre o tema, mas sempre o situava na Espanha de hoje, e a história não
saía. Então decidi transportá-la
para princípios do século 20, que
foi um momento de euforia para
uma certa elite que se considerava
moderna. Assim, encontrei um
jeito de falar de psicanálise sem
fazer uma caricatura.
Folha - Foi uma forma de falar da
Espanha de hoje?
Oristrell - Sem dúvida. Eu queria
mostrar como, em muitos sentidos, nossos avós foram mais modernos do que nós. Na época, havia gente com dinheiro que tinha
preocupação em conhecer os outros, em escutar melhor música,
em inventar coisas. Preocupavam-se mais com o progresso do
que com o sucesso. Eram mais
ilustrados e curiosos.
Folha - Estamos numa época mais
conservadora?
Oristrell - Sim. A sociedade tem
mais coisas e quer mantê-las. Por
outro lado, hoje as relações se estabelecem de modo mais fácil,
com a internet e os celulares. É
possível se relacionar com o outro
sem se comprometer. É contraditório, estamos numa época mais
conservadora, mas, ao mesmo
tempo, menos comprometida.
Folha - Você foi um dos que comandaram o protesto contra a
Guerra do Iraque na entrega do Goya. A Espanha mudou desde então?
Oristrell - Houve uma chamada
de atenção. Os que nos governam
já não decidirão coisas sem levar
em conta a ida das pessoas às
ruas. Por isso a direita, depois de
tanto tempo no poder, se isolou, o
que deu a vitória a Zapatero.
Folha - Acha que a "era Zapatero"
pode gerar uma nova "movida madrileña" [período de efervescência
cultural motivada pela redemocratização da Espanha após o fim da
ditadura de Franco]?
Oristrell - Sim, é uma época de
renovação cultural. Governos
progressistas deixam manifestar
tendências que nunca floresceriam com a direita. Por outro lado, também a direita provoca manifestações criativas, pois gera
uma arte de enfrentamento.
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