São Paulo, sábado, 24 de junho de 2006

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Ruptura e tradição se encontram no MIS

Exposição traz à luz os fotoclubes e o paradoxo das inovações que viram rotina

"Fotoclubismo Brasileiro" será aberta com debate sobre o surgimento da prática no país e suas perspectivas atuais


EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Uma inusitada coexistência entre ruptura e tradição é um dos melhores motes para se visitar a mostra "Fotoclubismo Brasileiro", que será aberta hoje no MIS (Museu da Imagem e do Som), com mesa redonda na qual especialistas debaterão o surgimento dos fotoclubes no Brasil no início do século passado, suas implicações na história da fotografia e o futuro desta prática na era dos fotoblogs. Para entender a constituição dos fotoclubes é preciso uma breve revisão histórica: com a crescente popularização da fotografia no final do século 19, que tem como marco o slogan "Você aperta o botão, nós fazemos o resto", da campanha publicitária de lançamento da Kodak em 1888, amantes da linguagem fotográfica começaram a se reunir em clubes, nos moldes de agremiações esportivas. Dali decorriam os salões fotográficos, nos quais os fotógrafos, geralmente amadores, concorriam mediante um júri. Os vencedores dos salões regionais eram classificados para concorrer em salões nacionais e internacionais. Essa prática começa no Brasil de forma incipiente em 1910, no Rio de Janeiro, e tem seu grande momento entre as décadas de 40 e 60 com cerca de 150 fotoclubes espalhados pelo país. Essas agremiações quase deixaram de existir nas últimas décadas, chegando a apenas 14 entidades. Provavelmente impulsionados pelas novas tecnologias houve uma retomada desta prática. Hoje há em torno de 40 fotoclubes no Brasil, dos quais 33 fazem parte da Confederação Brasileira de Fotografia (www.confoto.art.br).

Conceitos alheios
Como julgar que uma fotografia é melhor que outra era a questão que se colocava nos primórdios destes concursos. Por se tratar de uma linguagem nova, a fotografia ainda não possuía uma especificidade conceitual que desse parâmetros suficientes para tal avaliação. Emprestaram-se da pintura, portanto, alguns requisitos que as fotografias deveriam ter para serem aceitas nos salões. Essa imitação que a fotografia passou a fazer dos padrões da pintura recebeu o nome de pictorialismo. A discussão deste momento na história da fotografia geralmente é inflamada e divide opiniões de pesquisadores. Se por um lado a corrente pictórica, ao se espelhar no academicismo das belas-artes teria atrasado o avanço da linguagem específica da fotografia, que se portava como a prima pobre da pintura, por outro lado é certo afirmar que essa corrente foi de extrema importância para deslocar a fotografia da sua função meramente documental e objetiva para uma abordagem mais subjetiva, experimental e artística.

Duas mostras
Esse deve ser um dos motes do debate de hoje que além da presença da curadora do MAC-USP, Helouise Costa, contará também com os pesquisadores Rubens Fernandes Junior, Ricardo Mendes e Simonetta Persichetti, além de Iatã Cannabrava, organizador da mostra. "Fotoclubismo Brasileiro" está dividida em duas mostras que tomam dois andares do MIS. O primeiro andar abriga a 24ª Bienal de Arte Fotográfica Brasileira em Preto e Branco. São 140 fotografias que mostram a produção recente de cerca de 33 fotoclubes espalhados pelo Brasil. No segundo andar, 66 imagens traçam a retrospectiva "Fotoclubistas Brasileiros dos anos 40 a 70". Justamente por serem na esmagadora maioria amadores, os fotoclubistas foram sempre os menos refratários a experimentar linguagens inovadoras. O curioso é perceber que na mostra do primeiro andar a estética dominante ainda presta um tributo a essas práticas. O fazer fotográfico dos fotoclubes parece irremediavelmente atrelado a uma linguagem que sofre pouca variação no tempo. A ruptura se tornou tradição. Estará nos fotoblogs, uma reconfiguração dos fotoclubes na era tecnológica, a possibilidade de novas rupturas?


MOSTRA FOTOCLUBISMO BRASILEIRO
Quando:
abertura hoje, com mesa-redonda das 14h às 17h; a mostra prossegue até 23 de julho, de ter. a dom., das 12h às 20h
Onde: MIS - Museu da Imagem e do Som (av. Europa, 158, Jardim Europa, SP, tel. 0/xx/11/3062-9197)
Quanto: entrada franca


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