|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Financiada por governos latinos, Telesur entra na "guerra" de informação contra TVs dos EUA
Soy loco por ti
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Nosso norte é o Sul. Com esse
slogan, entra no ar hoje a Telesur,
TV financiada pelos governos de
Venezuela, Argentina, Cuba e
Uruguai e que tem o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No Brasil, a estréia poderá ser
vista, a partir das 13h (horário de
Brasília), por meio de antenas parabólicas, algumas TVs comunitárias e educativas e pela internet. O canal será bilíngüe, com legendas
em português em transmissões
em espanhol, e vice-versa, tradução simultânea ou dublagem.
O projeto é do presidente venezuelano Hugo Chávez, enfrenta
em seu país oposição da mídia comercial, e a sede é Caracas, o que
ajuda a explicar por que, mesmo
antes da estréia, essa estação latina já tenha se envolvido em tantas
polêmicas. Só nas últimas duas
semanas, e apenas para ficar nos
"incidentes" da Colômbia, a Telesur virou manchete de jornal em
duas ocasiões:
1) Utilizou em uma propaganda
o refrão de "A Luz de Tieta", de
Caetano Veloso ("eta, eta, eta, é a
Lua, é o Sol, é a luz de Tieta, eta,
eta"). Foi acusada de apoiar o grupo terrorista espanhol ETA.
2) Exibiu em vídeo promocional a imagem de Manuel Marulanda, o Tiro Certeiro, líder das
Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). O governo
colombiano se disse "magoado".
Chávez respondeu que a questão
é retratar "eventos históricos".
A Telesur tem como lema integrar os povos latino-americanos e
se contrapor à imagem da América Latina veiculada por grandes
redes internacionais. Em outras
palavras, tem a CNN como grande inimiga, o que já lhe rendeu o
apelido de Al Jazira latina.
A diferença entre o canal árabe e
o latino é que o primeiro é privado, e o segundo, financiado por
verba estatal de quatro países -o
que torna mais política a "guerra"
de informações com os EUA.
Nesta semana, como reação ao
marketing de lançamento da Telesur, a Câmara de Representantes do Estados Unidos debateu o
início de transmissões de rádio e
TV a venezuelanos a fim de combater o "antiamericanismo" da
Telesur com notícias "objetivas".
Brasil
O Brasil não será sócio, mas dará apoio logístico e prevê troca de
conteúdo entre a Telesur e seu futuro canal internacional. Um dos diretores da TV
latina é o jornalista brasileiro Beto
Almeida, que atuou como âncora
nas transmissões experimentais
da TV Brasil e será um dos apresentadores da estréia da Telesur.
Almeida conta
que conheceu o
presidente Chávez
em 2000, quando o
venezuelano esteve
em Brasília para
uma palestra. "Eu
era do sindicato
dos jornalistas e entreguei a ele uma
carta com propostas para uma integração latino-americana por meio de
veículos de comunicação. Ele leu na
hora, gostou e disse
que ia me convidar
futuramente para o
projeto da Telesur.
Cumpriu a promessa."
Além do diretor, o Brasil terá
dois correspondentes da Telesur.
O canal entra no ar hoje com a
instalação do conselho assessor,
formado por 35 personalidades
de vários países. Após os discursos oficiais, haverá noticiário, documentários e outras atrações.
Sobre Simón Bolívar, que lutou
pela independência da América
espanhola e pregava a unidade
dos países do continente, haverá
só na estréia quatro programas
(explica-se por que a Telesur,
além de Al Jazira latina, é chamada de Al Bolívar). Não é demais?
"A grande massa desconhece
quem foi Bolívar. O que é demais
é a Xuxa e o Faustão terem tanto
espaço. Na TV há muito tempo
para nada", afirma Almeida.
Na primeira etapa, serão quatro
horas inéditas reprisadas ao longo
das 24 horas que permanece no
ar. Os planos são de aumentar para oito horas em setembro.
Mais de 50% da programação
serão preenchidos por noticiários, com reportagens produzidas
por jornalistas da Venezuela e
correspondentes internacionais
(além do Brasil, são mais sete países). Haverá programas sobre
música, documentários e filmes
latinos. Um dos ciclos é "Nojolivud", uma mistura de "nojo" com
"Hollywood", para produções
"excluídas" do circuito comercial.
A transmissão é feita via satélite
e pode ser captada gratuitamente
por antenas parabólicas e qualquer emissora no continente
americano, Europa ocidental e
norte da África. A Telesur negocia
também acordos de transmissão
de parte de sua programação por
TVs pública, educativas e comunitárias. Tenta ainda distribuição
por TV paga, mas teme enfrentar
resistência pelo fato de a maioria
das operadoras pertencer a grandes grupos norte-americanos.
No Brasil, além dos 12 milhões
de parabólicas, há acordo fechado
com a comunitária de Brasília e a
educativa do Paraná (com transmissão também via internet).
Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: "Telespectador verá diferenças entre a TV latina e a CNN" Índice
|