São Paulo, quinta-feira, 24 de julho de 2008

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Zona franca

Com exposições no exterior, jovens nomes paulistas defendem uma "arte internacional" e comentam o excesso de informação

Carol Guedes/Folha Imagem
Tatiana Blass, Naiah Mendonça, Henrique Oliveira e Paulo Almeida, em estúdio da galeria Leme

MARIO GIOIA
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

A geração deles ainda não tem nome, mas ganha corpo num mercado aquecido, impulsionado pela ascensão da arte brasileira no exterior, onde costuma expor e fazer residências cada vez mais freqüentes.
Não se considera parte de um movimento e tem influência de contemporâneos como Nuno Ramos e Adriana Varejão. Esses artistas têm cerca de 30 anos, vivem em tempos de bombardeio de informação e acham, acredite, que a crítica deve ser mais severa.
Os paulistas Henrique Oliveira, 34, Naiah Mendonça, 29, Paulo Almeida, 30, e Tatiana Blass, 28, participaram de uma conversa organizada pela Folha, na tentativa de mapear o pensamento e a produção dessa jovem geração. São nomes escolhidos a partir de indicações de críticos e curadores e da participação em programas de estímulo às artes visuais, como o "Rumos", do Itaú Cultural, e dois outros tradicionais projetos dedicados a novos nomes: a "Temporada de Projetos", no Paço das Artes, que terá obras de Oliveira expostas a partir do dia 8; e o "Programa de Exposições" do Centro Cultural São Paulo, que exibirá Almeida e Mendonça em novembro.
A seguir, trechos da conversa desses jovens nomes da geração paulista com a Folha.

 

A GERAÇÃO

TATIANA BLASS
- Talvez seja uma característica da nossa geração ter um acesso inacreditável à informação e um mercado muito poderoso, que, talvez, nos anos 80 tenha começado a se estabelecer e por isso a pintura tenha se estabelecido. Dá muita angústia esse excesso, mas acho que a saída é uma aposta numa expressão pessoal, num imaginário próprio.

HENRIQUE OLIVEIRA - Começando a estudar, gostei mais do Nuno Ramos; vi um livro dele quando tinha 23, 24 anos. Gostava de outros artistas da geração 80, o que na ECA é uma coisa não tão bem vista. A referência forte eram os anos 70, a arte conceitual, tradição nesse sentido. Procurava seguir outro caminho, gostava dos artistas dos anos 80 no Brasil, o Daniel Senise, o Ernesto Neto, a Adriana Varejão, a Beatriz Milhazes, toda essa turma que não era muito querida onde eu estudava.

RELAÇÃO COM MERCADO

BLASS - O fato de você estar numa galeria oferece mais condições de desenvolver o trabalho. Eu vejo a galeria como uma parceira, que me permite realizar idéias caras. Para mim, é muito claro que o mercado é bom até o ponto em que não interfira. Às vezes, o ritmo aperta muito mesmo e eu falo: "Desculpa, mas não vou participar dessa feira". É o artista que tem de saber como lidar com isso.

NAIAH MENDONÇA - Acho que, para expor, não tenho problemas -os curadores e críticos me conhecem, chamam para coletivas. Já para comercializar o trabalho, é mais difícil. Aí faz falta uma galeria. Não sei se é porque trabalho com vídeo.

OLIVEIRA - Eu tenho de trabalhar muito mais, ir todo dia ao ateliê. Também tenho uma galeria no Rio e outra nos Estados Unidos, onde vou participar de coletiva em outubro, só que não tem obra. A galeria de São Paulo acaba vendendo tudo.

BRASIL NO EXTERIOR

PAULO ALMEIDA - A arte que nós quatro produzimos não tem uma característica marcante brasileira, é uma arte internacional. As aulas de história da arte, de crítica, às vezes foram mais importantes que os próprios outros artistas.

OLIVEIRA - O que acontece é que às vezes muita gente tem a mesma idéia em vários lugares do mundo. Você vai numa feira e vê vários trabalhos parecidos.


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