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Produtoras encolhem com a crise financeira
Hoje, só 12 empresas independentes de médio porte atuam em Hollywood
No início de 2008, o número chegava a 38; modelo sente a escassez de crédito e é prejudicado pela opção por superproduções juvenis
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA, EM NOVA YORK
Wall Street fica longe de
Hollywood, mas o impacto da
crise no mercado financeiro
dos EUA foi sentido pela indústria cinematográfica como se o
mesmo abalo sísmico tivesse
atingido Nova York e Los Angeles, com efeitos devastadores
no cenário independente e reverberações significativas nos
grandes estúdios.
No início de 2008, havia 38
produtoras independentes de
médio porte atuando em Hollywood; hoje, restaram 12. A
Warner, maior estúdio do mercado, encerrou nesse período
as atividades de duas divisões
autônomas (Warner Independent Pictures e Picturehouse),
e assumiu o controle da terceira, New Line.
Responsável pela trilogia "O
Senhor dos Anéis", a New Line
tinha 600 empregados e produzia de 12 a 15 longas por ano.
Agora, tem 50 funcionários e
produz de seis a oito filmes. A
Warner reduziu de 30 para 20 o
volume anual de longas.
A concentração de mercado
-com espaço para um número
menor de títulos, que são dirigidos ao público jovem e ocupam
cada vez mais salas- foi aprofundada pela escassez de crédito, mas está relacionada também a um modelo de negócio
que, inicialmente configurado
nos anos 70, favorece a circulação de superproduções juvenis.
Personagens importantes na
consolidação do cinema independente norte-americano a
partir dos anos 90 protagonizam episódios ilustrativos dos
novos tempos. "Che", de Steven
Soderbergh, que obteve simbólica Palma de Ouro em Cannes
com "Sexo, Mentiras e Videotape" (1989), quase não encontrou distribuidor nos EUA.
Lançada discretamente com
uma verba de promoção de US$
1 milhão (contra a média atual
de US$ 37 milhões para um filme de estúdio), a cinebiografia
de Ernesto Guevara arrecadou
apenas US$ 1,7 milhão. O novo
projeto de Soderbergh, "Moneyball", foi suspenso três dias
antes do início das filmagens.
Nesse caso, os dados são ainda mais alarmantes: era um filme de grande estúdio (Sony) e
estrelado por um astro (Brad
Pitt), mas foi considerado de alto risco porque envolvia o uso
de um estilo semidocumental
que não seria "vendável". Descontente com o desempenho
de seus dramas adultos recentes, a Universal suspendeu as
atividades do departamento
responsável por esses projetos.
Os irmãos Bob e Harvey
Weinstein -que tornaram a
produtora e distribuidora Miramax, hoje incorporada ao
grupo Disney, um ícone da onda independente nos anos 90-
tentam agora erguer a Weinstein Company, que se reestrutura, com a ajuda do escritório
que cuidou da falência da
Enron, para renegociar dívida
de US$ 500 milhões.
"É um período de desafios
para todos os que não fazem filmes para crianças ou para adultos que se comportam como
crianças", afirma Rebecca Yeldham, diretora do Festival de
Los Angeles, cuja última edição, realizada em junho, reuniu
profissionais da indústria em
painel chamado "O mundo como o conhecemos: acabou?".
"Era inevitável que os anos
de ouro do cinema independente terminariam. Como
ocorreu de forma geral na economia dos EUA, a operação se
tornou cheia de gorduras -
muitos filmes sendo jogados no
circuito, muitos filmes ruins
"queimando" o espectador desavisado, custos crescentes."
O orçamento médio de um
longa independente saltou de
US$ 5 milhões "para duas ou
três vezes mais", de acordo com
Rebecca, e seus custos de lançamento subiram para "entre
US$ 2 milhões e US$ 5 milhões", segundo o produtor
Mark Gill, em virtude da necessidade de lutar pelo público
contra superproduções e alternativas de lazer doméstico.
Ex-presidente da Miramax e
atual diretor da produtora Film
Department, Gill foi apelidado
por colegas em Hollywood como "príncipe das trevas" por
um diagnóstico sombrio do cenário independente feito em
um simpósio do Festival de Los
Angeles de 2008.
Na ocasião, Gill considerou
que "o céu estava caindo" sobre
a produção independente.
"Quando fiz aquele discurso,
fui acusado de ser muito negativo", lembra. "O tempo mostrou que eu fui otimista. As coisas ficaram um pouco piores do
que eu havia imaginado."
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