São Paulo, sexta-feira, 24 de julho de 2009

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CINEMA/ESTREIAS

Crítica/"A Garota de Mônaco"

Comédia francesa satiriza celebridades instantâneas

Filme mostra advogado maduro que se envolve com sirigaita profissional

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

As comédias românticas ambientadas na Riviera francesa constituem um gênero à parte, com produções recorrentes no cinema hollywoodiano desde os anos 30. De olho na eficácia do modelo, os franceses se reapropriaram do seu próprio cenário e das peripécias envolvendo trapaças amorosas em filmes recentes como "Quatro Estrelas" e "Amar... Não Tem Preço". Em "A Garota de Mônaco" os ingredientes são simples e de imediato reconhecimento: Bertrand, um advogado maduro e cartesiano, enquanto atua na defesa em um julgamento de assassinato passional se envolve com Audrey, uma sirigaita profissional, e perde a razão nas curvas de Mônaco.
O filme joga com os ilusionismos a partir da tal garota do título, uma apresentadora de previsão do tempo na TV que dedica sua existência ao poder da imagem: é uma hedonista da cabeça aos pés, cultua Lady Di como divindade e entrou na rota das celebridades ao participar de um reality show. Ou seja, um clichê na forma de gente.
Sem medo de soar moralista, a diretora francesa Anne Fontaine explora o mecanismo de replicação das celebridades instantâneas e seus encantos e expõe, na personagem de Audrey, o triunfo da caricatura, para a qual a comunicação se resume a um desfile de "tipos" e de "atitudes".
Para além da ciranda em que o desejo não passa de força a serviço da manipulação, o que o filme encena é o limite do alcance das imagens. É por meio da aparição na TV que Audrey incendeia os hormônios acomodados de Bertrand, mas, ao tentar transformá-lo em personagem de um reality, descobre que o feitiço pode virar contra a feiticeira.
De modo equivalente, o filme começa como cartão-postal de Mônaco embalado por uma canção americana e se encerra com uma inversão completa daquela primeira impressão.
Entre uma cena e outra, o espectador enxerga que do outro lado do espelho a única coisa que reflete continua a ser a opacidade.



A GAROTA DE MÔNACO
Direção: Anne Fontaine
Produção: França, 2008
Com: Louise Bourgoin e Roschdy Zem
Onde: a partir de hoje nos cines Frei Caneca,
HSBC Belas Artes e Reserva Cultural
Classificação: 16 anos
Avaliação: bom


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