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CINEMA/ESTREIAS
Crítica/"Inimigos Públicos"
Longa consolida carreira de Mann
Ladrão que se inspira em filmes para roubar bancos é personagem de produção que consagra diretor como "cineasta do crime'
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Num momento em que
a sociedade norte-americana sofre da
doença da "hipercelebrização"
de seus pares e que banqueiros
e congêneres sofrem da vilificação derivada da crise econômica, vem mais que a calhar a estreia de "Inimigos Públicos".
O filme, do diretor Michael
Mann a partir de um livro do
jornalista econômico Bryan
Burrough ("Barbarians at the
Gates", sobre a ascensão e queda da gigante do alimento RJR
Nabisco, e "The Big Rich", sobre os milionários texanos do
petróleo), conta a história principalmente do bandido-celebridade John Dillinger (1903-1934), o bonitão que se inspirava em filmes para realizar seus
assaltos a bancos.
Mas é também o retrato de
uma época, os EUA pós-crise de
1929, em que a opinião pública
se voltava contra os donos do
dinheiro e romantizava os chamados "inimigos públicos", a
gangue de assaltantes de bancos que floresceu nos anos da
Depressão, gente como o próprio Dillinger, mas também
Pretty Boy Flloyd, Baby Face
Nelson (ambos retratados no
filme), Ma Barker e a dupla
Bonnie & Clyde.
Conta ainda a luta do polêmico J. Edgar Hoover (Billy Crudup, perfeito) para criar a primeira polícia verdadeiramente
federal dos EUA (a infância do
FBI), e a obsessão de um agente, Melvin Purvis (Christian
Bale, o Batman, em atuação
contida), pela captura de Dillinger, de longe o mais midiático do grupo.
Completa o time a francesa
Marillon Cotillard, como a
guardadora de casacos Billie
Frechette que se apaixona por e
vira a namorada de Dillinger.
Nas mãos de um diretor inábil com um elenco pálido, tantas tramas paralelas se perderiam num emaranhado sem
sentido. Não é o caso de Mann e
seu time. Desde "Miami Vice"
(2006), "Colateral" (2004) e
principalmente seu melhor filme, "Heat" (1994), em que juntou pela primeira vez na tela Al
Pacino e Robert DeNiro, ele
vem se tornando o "cineasta do
crime" por excelência.
Vem se tornando também
um dos diretores cujo uso da
cor na composição dos filmes
mais se distingue, o que já era
evidente em "Vice", em que
Miami está mais para Gotham
City do que para paraíso tropical, e se destaca também em
"Inimigos Públicos", com uma
palheta que lembra a de Edward Munch em "O Grito".
Com a anotação importante de
que o longa é um produto digital -quer dizer, sem película.
Na estreia nos EUA, críticos
disseram não perceber o propósito do diretor. Esse repórter
pensa que o vácuo é proposital,
pois estava no centro da vida e
da série de assaltos que celebrizaram Dillinger e seu bando em
primeiro lugar.
INIMIGOS PÚBLICOS
Direção: Michael Mann
Produção: EUA, 2009
Com: Johnny Depp, Christian Bale, Billy
Crudup, Marillon Cotillard
Onde: a partir de hoje nos cines
Bristol, Frei Caneca, Kinoplex Itaim
e circuito
Classificação: 16 anos
Avaliação: bom
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