São Paulo, sexta-feira, 24 de julho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA/ESTREIAS

Crítica/"Inimigos Públicos"

Longa consolida carreira de Mann

Ladrão que se inspira em filmes para roubar bancos é personagem de produção que consagra diretor como "cineasta do crime'

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Num momento em que a sociedade norte-americana sofre da doença da "hipercelebrização" de seus pares e que banqueiros e congêneres sofrem da vilificação derivada da crise econômica, vem mais que a calhar a estreia de "Inimigos Públicos".
O filme, do diretor Michael Mann a partir de um livro do jornalista econômico Bryan Burrough ("Barbarians at the Gates", sobre a ascensão e queda da gigante do alimento RJR Nabisco, e "The Big Rich", sobre os milionários texanos do petróleo), conta a história principalmente do bandido-celebridade John Dillinger (1903-1934), o bonitão que se inspirava em filmes para realizar seus assaltos a bancos.
Mas é também o retrato de uma época, os EUA pós-crise de 1929, em que a opinião pública se voltava contra os donos do dinheiro e romantizava os chamados "inimigos públicos", a gangue de assaltantes de bancos que floresceu nos anos da Depressão, gente como o próprio Dillinger, mas também Pretty Boy Flloyd, Baby Face Nelson (ambos retratados no filme), Ma Barker e a dupla Bonnie & Clyde.
Conta ainda a luta do polêmico J. Edgar Hoover (Billy Crudup, perfeito) para criar a primeira polícia verdadeiramente federal dos EUA (a infância do FBI), e a obsessão de um agente, Melvin Purvis (Christian Bale, o Batman, em atuação contida), pela captura de Dillinger, de longe o mais midiático do grupo.
Completa o time a francesa Marillon Cotillard, como a guardadora de casacos Billie Frechette que se apaixona por e vira a namorada de Dillinger.
Nas mãos de um diretor inábil com um elenco pálido, tantas tramas paralelas se perderiam num emaranhado sem sentido. Não é o caso de Mann e seu time. Desde "Miami Vice" (2006), "Colateral" (2004) e principalmente seu melhor filme, "Heat" (1994), em que juntou pela primeira vez na tela Al Pacino e Robert DeNiro, ele vem se tornando o "cineasta do crime" por excelência.
Vem se tornando também um dos diretores cujo uso da cor na composição dos filmes mais se distingue, o que já era evidente em "Vice", em que Miami está mais para Gotham City do que para paraíso tropical, e se destaca também em "Inimigos Públicos", com uma palheta que lembra a de Edward Munch em "O Grito". Com a anotação importante de que o longa é um produto digital -quer dizer, sem película. Na estreia nos EUA, críticos disseram não perceber o propósito do diretor. Esse repórter pensa que o vácuo é proposital, pois estava no centro da vida e da série de assaltos que celebrizaram Dillinger e seu bando em primeiro lugar.



INIMIGOS PÚBLICOS

Direção: Michael Mann
Produção: EUA, 2009
Com: Johnny Depp, Christian Bale, Billy Crudup, Marillon Cotillard Onde: a partir de hoje nos cines Bristol, Frei Caneca, Kinoplex Itaim e circuito
Classificação: 16 anos
Avaliação: bom


Texto Anterior: Cinema/Estreias/Crítica/"A Garota de Mônaco": Comédia francesa satiriza celebridades instantâneas
Próximo Texto: Cinema/Estreias/Crítica/ "O Grupo Baader Meinhof": Fita política descamba para a violência
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.