São Paulo, Sábado, 24 de Julho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARTES PLÁSTICAS
MAM-RJ expõe Picasso em período de guerra

RONALDO SOARES
da Sucursal do Rio

A exposição "Picasso - Anos de Guerra, 1937-1945", que começa na semana que vem, no MAM-RJ (Museu de Arte Moderna do Rio), retrata a influência de dois tipos de conflito na obra do pintor espanhol.
O primeiro, de ordem bélica, relaciona-se aos horrores da Guerra Civil Espanhola e da 2ª Guerra Mundial. O outro, de ordem pessoal, refere-se à conturbada vida pessoal de Pablo Picasso (1881-1973), que mudava de mulher como mudava de estilo artístico.
Primeira mostra organizada na América do Sul pela instituição que reúne o maior acervo do artista, o Museu Picasso de Paris, a exposição será aberta ao público na terça -na segunda, haverá uma recepção para convidados- e ficará no Rio até setembro, seguindo depois para São Paulo.
Do Museu Picasso veio a maioria das cerca de 150 obras da exposição -17 pinturas, 62 gravuras, 79 desenhos, 3 esculturas e 30 fotografias. As obras estão avaliadas em US$ 120 milhões.
O período retratado na mostra, embora distante cronologicamente da fase que celebrizou o pintor -o cubismo-, tem o mérito de trazer "pela primeira vez em sua obra testemunhos da vida particular dele e de seu posicionamento político", avalia a curadora do Museu Picasso de Paris, Dominique Dupuis-Labbé.
"É interessante verificar na produção de Picasso desse período (o da exposição) a justaposição de temas ligados à guerra e à sua vida pessoal", diz Dupuis-Labbé, também curadora da exposição.
Ela se refere a telas como "A Mulher que Chora" (1937) -que, ao lado de "Menino com Lagosta" (1941), é a obra mais cara da exposição, avaliada em US$ 7 milhões. O quadro teria sido inspirado na fotógrafa Dora Maar, musa e uma das amantes de Picasso, que ele "não conseguia imaginar fazendo outra coisa na vida a não ser chorar". Na visão de Dupuis-Labbé, pode ser também a representação de uma película cinza que cobria o rosto das pessoas em Barcelona e as fazia chorar, efeito da fumaça produzida pelos conflitos da Guerra Civil.
Datada do mesmo ano, "Guernica", a mais representativa obra do período e talvez a mais conhecida de Picasso, não está na exposição porque não pode ser retirada do Museu Rainha Sofia, em Madri. A obra foi inspirada no bombardeio da cidade basca de Guernica y Luno -o ataque foi feito pela aviação alemã, a serviço dos nacionalistas espanhóis chefiados pelo general Francisco Franco.
Morando em Paris durante a ocupação alemã na 2ª Guerra Mundial, Picasso viveu dramas pessoais que iam desde morar numa casa sem sistema de aquecimento à angústia de ver amigos judeus serem presos e enviados para campos de concentração.
Além, é claro, dos problemas decorrentes de uma vida amorosa agitada -só no período da guerra (1939-45), ele manteve relacionamento com três mulheres: Marie-Thérèse Walter, Dora Maar e Françoise Gilot.
Obras dessa fase que o público poderá conferir são "Homem com Chapéu de Palha e Sorvete de Casquinha" (1938), "Gato Pegando um Passarinho" (1939) e "Natureza Morta com Vela" (1945).
Outro destaque é "Café em Royan" (1939), uma das raras paisagens assinadas por Picasso.
A exposição conta também com um quadro vindo do museu homônimo de Barcelona e com obras de museus brasileiros -Masp, Museu de Arte Contemporânea (SP) e Museu da Chácara do Céu, em Santa Tereza, no Rio.


Texto Anterior: Homenagem: São Roque abre sítio de Mário de Andrade
Próximo Texto: Maior exposição foi em 86
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.