São Paulo, quinta-feira, 24 de agosto de 2000


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Viúva lembra "maravilha de homem"

DO ENVIADO AO RIO

O apartamento em que Elza Rodrigues mora hoje com Nelsinho e a neta Cristiane, no Leme (zona sul do Rio), é o mesmo para o qual mudou-se em 77, quando reatou o casamento com Nelson Rodrigues após 14 anos de separação.
Elza diz que voltou, "bela e faceira", a pedido do dramaturgo, que, então, já estava com a saúde abalada em consequência da tuberculose que o perseguia desde a juventude.
A viúva fica emocionada quando fala do marido. Ao lembrar os passeios para tomar sorvete, quando ele a tomava pelos braços, até o doloroso momento da separação, em 63, Elza permanece com os olhos marejados.
"Era uma maravilha de homem, nunca bateu em um filho, nunca hostilizou ninguém dentro de casa. Ele era bom, tinha o coração generoso", afirma.
Elza não gosta de recordar as "outras", como se refere às mulheres com quem Nelson Rodrigues manteve relacionamento. Sobretudo Lúcia, que engravidou e teria levado Nelson a pedir a separação, ainda que o casal não oficializasse a medida na Justiça. Daniela, 37, a filha de Nelson com Lúcia, nasceu cega e com paralisia cerebral.
Elza datilografou quase toda a obra teatral do autor, que lhe passava o rascunho. Em "Vestido de Noiva" (43), por exemplo, ela o questionava sobre pontos que considerava estranhos nas cenas superpostas (planos da realidade, da alucinação e da memória), mas o marido repetia: "Vai escrevendo, Elza, vai escrevendo".
Quando sentava diante da máquina Remington (a original integra o cenário de "Momentos-Beijos"), o dramaturgo apoiava os cotovelos na mesa e datilografava ligeiro com dois dedos.
"Dava para perceber sua alegria quando escrevia cenas de amor, por meio do semblante; e também o contrário, nas cenas trágicas, quando ficava tenso e gesticulava muito", diz a viúva. (VS)



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