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Viúva lembra "maravilha de homem"
DO ENVIADO AO RIO
O apartamento em que Elza Rodrigues mora hoje com Nelsinho
e a neta Cristiane, no Leme (zona
sul do Rio), é o mesmo para o qual
mudou-se em 77, quando reatou
o casamento com Nelson Rodrigues após 14 anos de separação.
Elza diz que voltou, "bela e faceira", a pedido do dramaturgo,
que, então, já estava com a saúde
abalada em consequência da tuberculose que o perseguia desde a
juventude.
A viúva fica emocionada quando fala do marido. Ao lembrar os
passeios para tomar sorvete,
quando ele a tomava pelos braços,
até o doloroso momento da separação, em 63, Elza permanece
com os olhos marejados.
"Era uma maravilha de homem,
nunca bateu em um filho, nunca
hostilizou ninguém dentro de casa. Ele era bom, tinha o coração
generoso", afirma.
Elza não gosta de recordar as
"outras", como se refere às mulheres com quem Nelson Rodrigues manteve relacionamento.
Sobretudo Lúcia, que engravidou
e teria levado Nelson a pedir a separação, ainda que o casal não oficializasse a medida na Justiça. Daniela, 37, a filha de Nelson com
Lúcia, nasceu cega e com paralisia
cerebral.
Elza datilografou quase toda a
obra teatral do autor, que lhe passava o rascunho. Em "Vestido de
Noiva" (43), por exemplo, ela o
questionava sobre pontos que
considerava estranhos nas cenas
superpostas (planos da realidade,
da alucinação e da memória), mas
o marido repetia: "Vai escrevendo, Elza, vai escrevendo".
Quando sentava diante da máquina Remington (a original integra o cenário de "Momentos-Beijos"), o dramaturgo apoiava os
cotovelos na mesa e datilografava
ligeiro com dois dedos.
"Dava para perceber sua alegria
quando escrevia cenas de amor,
por meio do semblante; e também o contrário, nas cenas trágicas, quando ficava tenso e gesticulava muito", diz a viúva.
(VS)
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