São Paulo, sábado, 24 de agosto de 2002

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EUROPA LITERÁRIA

FESTIVAL DE EDIMBURGO

Diferentemente da Feira de Frankurt, evento é menor e prioriza autores e leitores, e não editoras

Cidade escocesa direciona pupilas aos livros

CASSIANO ELEK MACHADO
ENVIADO ESPECIAL A EDIMBURGO

O festival literário de Edimburgo não é tão famoso quanto o seu colega teatral, nem tão gigantesco, mas, completados seus primeiros anos de vida, esse evento já conquistou um papel de destaque no mapa mundial das letras.
A Feira de Livros de Frankfurt está disparada na frente como o maior acontecimento do mercado editorial, em um ranking em que o Salão do Livro de Paris vem na sequência e em que mesmo a bienal paulistana não faz feio.
Mas, se todos esses colocam os olhos principalmente no comércio livreiro, Edimburgo enfia suas pupilas direto nos livros. Os autores, e não as editoras, é que reinam. Leitores, não agentes literários ou editores, é que são os seus súditos.
E nunca foram tantos, "nobreza" e "vassalos", quanto nesta edição do festival escocês, que se autodenomina "a maior celebração mundial da palavra escrita".
Até a próxima segunda-feira terão passado pelas tendas de Edimburgo, desde 10 de agosto, mais de 550 escritores, falando diretamente para um público de 150 mil pessoas, o que representa um aumento de 60% em relação ao ano passado.
Falou-se em "tendas"? Isso mesmo. Se a Feira do Livro de Frankfurt se esparrama por uma área equivalente à de uns dez Anhembis, o festival britânico ocupa um singelo parque, menor do que um campo de futebol oficial, no centro do qual está a não menos singela estátua do príncipe Alberto a cavalo.
Nesse gramado, chamado de Charlotte Square Gardens, são fincadas 11 tendas de tamanhos e de nomes variados. Dentro delas, abrigados contra a insistente garoa escocesa, o público senta em pequenas arquibancadas para ouvir os escritores falarem de suas obras, participarem de debates ou mesmo fazerem leituras de seus trabalhos mais recentes.
Paga-se, e não pouco, pelos ingressos (em média 7 libras ou cerca de R$ 33).
Neste ano o evento importou para a Escócia autores como o israelense Amos Oz, o palestino Edward Said, a norte-americana Joyce Carol Oates e algumas celebridades mais próximas, caso do inglês Ian McEwan e do irlandês Seamus Heaney.
De modo mais amplo, porém, a grande novidade foi a estréia de um conjunto de eventos com o nome Provocations. Sob o título provocativo, esse festival dentro do festival (que faz parte do grupo de festivais da cidade nesta mesma época) teve início na última quinta-feira exibindo uma escalação de primeiro time.
Parceria do British Council com o Scottish Ars Council, conselhos de fomento das culturas britânicas, de modo geral, e escocesa, Provocations teve já em seu primeiro dia ao menos dois escritores de grande projeção atualmente na língua inglesa: o americano Rick Moody e o inglês Jim Crace.
Mas a provocação-mór está marcada para amanhã. Em sua primeira aparição pública desde que anunciou que está com câncer no estômago, um dos principais nomes da dramaturgia mundial nos últimos cem anos ocupará a tenda Consignia (nome pelo qual é conhecido hoje o correio britânico). Trata-se de sir Harold Pinter, 71, autor de clássicos do teatro contemporâneo, como "Homecoming" (Volta ao Lar), e provocador inveterado.


O jornalista Cassiano Elek Machado viajou a convite do British Council



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