São Paulo, sábado, 24 de agosto de 2002

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Brasil reaparece na principal temporada editorial francesa

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

Mais uma vez, o nome Brasil deverá estar associado ao sucesso de um romance na França. O livro "Porquoi le Brésil?" (Por que o Brasil?), da polêmica escritora Christine Angot, é um dos principais lançamentos da "rentrée" (retorno) editorial de 2002 e deve se tornar um dos best sellers do ano no país.
Não há muita coisa do Brasil na obra. A referência ao país é quase um enigma no livro, que mescla relato íntimo com ficção. "Por que o Brasil? Talvez porque é um país cuja riqueza está no futuro, como você, a quem foi destinado o mundo", escreve, sem que se saiba por quê, o pai da narradora numa carta. Trata-se de Pierre Angot, pai da própria autora, protagonista de seu romance (autobiográfico) anterior, "O Incesto".
No ano passado, na mesma época, o Brasil compareceu também nas livrarias no romance histórico "Rouge Brésil", sobre a expedição de Villegagnon ao Rio, no século 16. Escrito por Jean-Christophe Rufin, "Rubro Brasil" ganhou em 2001 o mais importante prêmio literário francês, o Goncourt, estourou em vendas e será lançado no Brasil pela editora Objetiva em setembro.
Na "rentrée" de 2002, um número recorde de romances será lançado na França. Serão 663 livros, 442 deles escritos por autores do país e 221 traduzidos. Serão ainda editados 570 livros de não-ficção, atingindo-se um total espantoso de 1.233 livros -contra 1.045 no ano passado.
A "rentrée", período depois das férias de julho-agosto, é o principal momento editorial do ano na França. Os lançamentos geram uma mobilização na imprensa escrita e da TV. Os maiores prêmios literários são outorgados até o fim do outono.
Um franco-brasileiro, desconhecido no Brasil, é uma das estrelas ascendentes na temporada editorial. Régis de Sá Moreira lança "Zéro Tués" (Zero Mortos), depois do sucesso de crítica de "Sem Tempo a Perder" (ambos pela ed. Au Diable Vauvert).
Sá Moreira é filho de pai brasileiro e de mãe francesa. Tem 28 anos e dupla nacionalidade, mas não fala o português, não conhece a literatura brasileira e só esteve no Brasil por três meses, em 97.
Sua escrita é próxima da prosa poética, mesclando o realismo trivial com uma imaginação intensa. Em "Zéro Tués", conta uma comovente história de amor e separação. Não há sombra do Brasil. "Mas certamente eles têm algo do país, embora eu não saiba dizer o quê", diz o autor à Folha. Para o crítico Pascal Jourdana, a literatura do franco-brasileiro é feita de "generosidade, alegria de viver e de uma poesia divertida".
Entre os lançamentos em ficção, as atenções se voltam para os livros de Philippe Sollers e Jean-Philippe Toussaint. Considerado um dos melhores autores franceses, Sollers lançará "L'Étoile des Amants" (A Estrela dos Amantes, ed. Gallimard), história de um escritor e uma mulher que se refugiam numa ilha após um naufrágio. Toussaint, autor do celebrado "A Televisão" (ed. 34), publicará "Faire l'Amour" (Fazer Amor, ed. Minuit), passado no Japão.
O lançamento da edição francesa de "As Iniciais" ("Les Initiales", ed. Rivage), de Bernardo Carvalho, colunista da Folha, tem destaque. "Carvalho volta enfim à cena literária francesa para nos apresentar seus passes de mágica entre ficção e realidade", escreveu a revista "Les Inrockuptibles".
Entre os livros de não-ficção, o grande evento é a publicação dos cursos de Roland Barthes no Collège de France e a reedição revista de sua obra, tudo a partir de novembro, pela editora Seuil.



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