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Brasil reaparece na principal temporada editorial francesa
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
Mais uma vez, o nome Brasil deverá estar associado ao sucesso de
um romance na França. O livro
"Porquoi le Brésil?" (Por que o
Brasil?), da polêmica escritora
Christine Angot, é um dos principais lançamentos da "rentrée"
(retorno) editorial de 2002 e deve
se tornar um dos best sellers do
ano no país.
Não há muita coisa do Brasil na
obra. A referência ao país é quase
um enigma no livro, que mescla
relato íntimo com ficção. "Por
que o Brasil? Talvez porque é um
país cuja riqueza está no futuro,
como você, a quem foi destinado
o mundo", escreve, sem que se
saiba por quê, o pai da narradora
numa carta. Trata-se de Pierre
Angot, pai da própria autora, protagonista de seu romance (autobiográfico) anterior, "O Incesto".
No ano passado, na mesma
época, o Brasil compareceu também nas livrarias no romance histórico "Rouge Brésil", sobre a expedição de Villegagnon ao Rio, no
século 16. Escrito por Jean-Christophe Rufin, "Rubro Brasil" ganhou em 2001 o mais importante
prêmio literário francês, o Goncourt, estourou em vendas e será
lançado no Brasil pela editora Objetiva em setembro.
Na "rentrée" de 2002, um número recorde de romances será
lançado na França. Serão 663 livros, 442 deles escritos por autores do país e 221 traduzidos. Serão
ainda editados 570 livros de não-ficção, atingindo-se um total espantoso de 1.233 livros -contra
1.045 no ano passado.
A "rentrée", período depois das
férias de julho-agosto, é o principal momento editorial do ano na
França. Os lançamentos geram
uma mobilização na imprensa escrita e da TV. Os maiores prêmios
literários são outorgados até o fim
do outono.
Um franco-brasileiro, desconhecido no Brasil, é uma das estrelas ascendentes na temporada
editorial. Régis de Sá Moreira lança "Zéro Tués" (Zero Mortos), depois do sucesso de crítica de "Sem
Tempo a Perder" (ambos pela ed.
Au Diable Vauvert).
Sá Moreira é filho de pai brasileiro e de mãe francesa. Tem 28
anos e dupla nacionalidade, mas
não fala o português, não conhece
a literatura brasileira e só esteve
no Brasil por três meses, em 97.
Sua escrita é próxima da prosa
poética, mesclando o realismo trivial com uma imaginação intensa.
Em "Zéro Tués", conta uma comovente história de amor e separação. Não há sombra do Brasil.
"Mas certamente eles têm algo do
país, embora eu não saiba dizer o
quê", diz o autor à Folha. Para o
crítico Pascal Jourdana, a literatura do franco-brasileiro é feita de
"generosidade, alegria de viver e
de uma poesia divertida".
Entre os lançamentos em ficção,
as atenções se voltam para os livros de Philippe Sollers e Jean-Philippe Toussaint. Considerado
um dos melhores autores franceses, Sollers lançará "L'Étoile des
Amants" (A Estrela dos Amantes,
ed. Gallimard), história de um escritor e uma mulher que se refugiam numa ilha após um naufrágio. Toussaint, autor do celebrado
"A Televisão" (ed. 34), publicará
"Faire l'Amour" (Fazer Amor, ed.
Minuit), passado no Japão.
O lançamento da edição francesa de "As Iniciais" ("Les Initiales",
ed. Rivage), de Bernardo Carvalho, colunista da Folha, tem destaque. "Carvalho volta enfim à cena literária francesa para nos
apresentar seus passes de mágica
entre ficção e realidade", escreveu
a revista "Les Inrockuptibles".
Entre os livros de não-ficção, o
grande evento é a publicação dos
cursos de Roland Barthes no Collège de France e a reedição revista
de sua obra, tudo a partir de novembro, pela editora Seuil.
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