São Paulo, sábado, 24 de agosto de 2002

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LITERATURA

Manuscrito do livro escrito em 1933 para namorada vai a leilão hoje em videoconferência por R$ 500 mil

Editoras disputam versos de Jorge Amado

ROGÉRIO EDUARDO ALVES
DA REDAÇÃO

As editoras estão disputando os versos de amor que o jovem Jorge Amado escreveu em 1933. Por um lance mínimo ainda não revelado, os direitos autorais do "Cancioneiro" vão a leilão hoje no Museu Brasileiro da Escultura em São Paulo. Quem quiser ficar só com o manuscrito, o que não garante os direitos de reprodução, pagará pelo menos R$ 500 mil.
"Quatro editoras já nos procuraram. Estamos acertando o preço dos direitos autorais. A pretensão dos proprietários é alta", diz Ney Canelas, responsável pelo leilão, que será realizado em videoconferência a partir de São Paulo, com Belo Horizonte e Rio.
Desde que a Folha localizou o volume com a família, em agosto do ano passado, sua publicação tem causado polêmica, pois poderia ir contra o desejo do autor. Logo nas primeiras páginas do livro, Amado (1912-2001) deixou claro que se trata de uma edição "de um único exemplar manuscrito", que dedica a Matilde Garcia Rosa, então sua namorada. À guisa de esclarecimento, diz que o exemplar havia sido feito para ser lido "unicamente" por ela, "em honra de um grande e puro amor".
"Entendemos que as palavras do autor pediam a não-publicação em benefício de Matilde", explica o advogado Carlos Magno, do escritório Paulo César Pinheiro Carneiro, responsável pelos direitos autorais do livro, referindo-se ao teor erótico dos versos.
Ser ou não legal não importa a Zélia Gattai, que diz possuir dois volumes de poemas feitos pelo marido. "Já me desgostou essa história e não tenho mais nada a dizer. Respeito muito os desejos de Jorge", afirma ela, que já havia declarado que, se o livro fosse publicado, faria alguma coisa.
"Estou realizando a vontade de minha tia", explica Osiris Garcia Rosa, para quem Matilde confiou o manuscrito e pediu a publicação um ano após a morte do autor.
O valor de R$ 500 mil de lance mínimo, estipulado pela família, é elevado. "Um livro como o de João Cabral sobre Miró, com xilogravuras do catalão, está avaliado em R$ 12 mil", diz Canelas.
"Fiz uma busca na internet e encontrei um tal de jovem Flaubert. Conhece? O manuscrito dele foi avaliado em R$ 750 mil. Então este está barato", defende-se Rosa.
Mais que uma importante peça literária, o "Cancioneiro" é um raro documento dos anos entre 1933 e 1945, período em que Amado esteve casado com Matilde e esquecido em sua biografia, centrada principalmente na fase em que passou com Zélia.


LEILÃO DE LIVROS E DOCUMENTOS.
Quando: hoje, às 16h. Onde: Museu Brasileiro da Escultura (r. Alemanha, 218, SP). Informações: 0/xx/21/2556-9427 ou www.lamansarde.com.br.




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