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LITERATURA
Manuscrito do livro escrito em 1933 para namorada vai a leilão hoje em videoconferência por R$ 500 mil
Editoras disputam versos de Jorge Amado
ROGÉRIO EDUARDO ALVES
DA REDAÇÃO
As editoras estão disputando os
versos de amor que o jovem Jorge
Amado escreveu em 1933. Por um
lance mínimo ainda não revelado,
os direitos autorais do "Cancioneiro" vão a leilão hoje no Museu
Brasileiro da Escultura em São
Paulo. Quem quiser ficar só com o
manuscrito, o que não garante os
direitos de reprodução, pagará
pelo menos R$ 500 mil.
"Quatro editoras já nos procuraram. Estamos acertando o preço dos direitos autorais. A pretensão dos proprietários é alta", diz
Ney Canelas, responsável pelo leilão, que será realizado em videoconferência a partir de São Paulo,
com Belo Horizonte e Rio.
Desde que a Folha localizou o
volume com a família, em agosto
do ano passado, sua publicação
tem causado polêmica, pois poderia ir contra o desejo do autor. Logo nas primeiras páginas do livro,
Amado (1912-2001) deixou claro
que se trata de uma edição "de um
único exemplar manuscrito", que
dedica a Matilde Garcia Rosa, então sua namorada. À guisa de esclarecimento, diz que o exemplar
havia sido feito para ser lido "unicamente" por ela, "em honra de
um grande e puro amor".
"Entendemos que as palavras
do autor pediam a não-publicação em benefício de Matilde", explica o advogado Carlos Magno,
do escritório Paulo César Pinheiro Carneiro, responsável pelos direitos autorais do livro, referindo-se ao teor erótico dos versos.
Ser ou não legal não importa a
Zélia Gattai, que diz possuir dois
volumes de poemas feitos pelo
marido. "Já me desgostou essa
história e não tenho mais nada a
dizer. Respeito muito os desejos
de Jorge", afirma ela, que já havia
declarado que, se o livro fosse publicado, faria alguma coisa.
"Estou realizando a vontade de
minha tia", explica Osiris Garcia
Rosa, para quem Matilde confiou
o manuscrito e pediu a publicação
um ano após a morte do autor.
O valor de R$ 500 mil de lance
mínimo, estipulado pela família, é
elevado. "Um livro como o de
João Cabral sobre Miró, com xilogravuras do catalão, está avaliado
em R$ 12 mil", diz Canelas.
"Fiz uma busca na internet e encontrei um tal de jovem Flaubert.
Conhece? O manuscrito dele foi
avaliado em R$ 750 mil. Então este está barato", defende-se Rosa.
Mais que uma importante peça
literária, o "Cancioneiro" é um raro documento dos anos entre
1933 e 1945, período em que Amado esteve casado com Matilde e
esquecido em sua biografia, centrada principalmente na fase em
que passou com Zélia.
LEILÃO DE LIVROS E DOCUMENTOS.
Quando: hoje, às 16h. Onde: Museu
Brasileiro da Escultura (r. Alemanha, 218,
SP). Informações: 0/xx/21/2556-9427 ou
www.lamansarde.com.br.
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