São Paulo, sábado, 24 de agosto de 2002

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ARTES PLÁSTICAS

Duas exposições que começam hoje na Pinacoteca refazem diferentes trajetórias a partir da França

De SP, Piza e Carelli vêem a Paris dos anos 50

ALEXANDRA MORAES
DA REDAÇÃO

Das cinco exposições que são abertas hoje na Pinacoteca, duas chamam a atenção por uma curiosa convergência. Arthur Luiz Piza, 74, e Antônio Carelli, 76, não se aproximam no estilo, nos materiais nem nos temas. Têm, entretanto, trajetórias artísticas com um ponto de partida comum: a Paris dos anos 50.
Foi então que Carelli frequentou os ateliês de Fernand Léger e de André Lhote e foi no mesmo comecinho de década que Piza escolheu a capital francesa para fixar residência.
A retrospectiva de Piza parte do ano de 1958, quando o artista cortou em quadradinhos uma pequena aquarela e criou uma obra de pequenos pedaços de papel justapostos.
"Esse quadro é uma aquarela que não deu certo. Cortei em pedacinhos e remontei a aquarela. Daí nasce essa coisa do relevo, que também vem da gravura", diz o artista, normalmente reconhecido como gravador, mas que realiza a retrospectiva sem nenhuma gravura, apenas com composições em papel.
"A minha primeira constatação sobre a importância do relevo vem com a gravura. A gravura tem uma beleza em relação a outros modos de reprodução que é justamente o relevo, e minha arte foi levada pra esse lado: relevo, sombra, luz", afirma o artista.
A partir dessa consciência, Piza faz uso do papel, de pedacinhos de papel, que estabelecem contrastes em formas sobrepostas.
Na série "Coupe et Découpe", linguetas são recortadas em folhas inteiras de papel e, então, destacadas; a série de capachos tem alfinetes ligando formas geométricas em papel aos tapetes. "É para poder olhar o que está atrás, para procurar o que não é estático, um olhar diferente", diz.
A produção recente traz de volta a cor do comecinho, daquela primeira aquarela cortada em pedaços. "Eu sempre queria fazer a cores, mas não aquarela. É engraçado como vim recuperar isso agora...", completa Piza.
Já Antônio Carelli realiza um apanhado de sua produção recente e se autodefine como "um pintor, basicamente".
"Todo o resto é consequência da minha pesquisa. A pintura é o centro de tudo, nesta exposição. Mesmo olhando a parte muralística de cerâmica e mosaico, o resultado depende dessa formação", explica Carelli.
Em óleos, o artista mostra painéis, releituras de grandes obras e a mata atlântica, ambiente que o cerca em sua casa, em Caraguatatuba, onde mora há 15 anos.
As releituras são uma espécie de recuperação dos dez anos que passou na França. "Há releituras dos grandes mestres da pintura. Bacon, El Greco, Grünewald, Ticiano, Michelangelo. Quando estive na Europa, ao lado dos ateliês, os museus foram a minha grande formação. Agora, depois de mais de 50 anos de trabalho, eu entrei numa releitura do que foi o meu começo, de um outro olhar, com a experiência que tenho hoje", diz.
Carelli faz também releituras de seus próprios trabalhos, alguns primeiramente executados em tela ou mosaicos e depois refeitos sobre cerâmica. "Nunca é uma cópia. É um primeiro momento, um depende do outro."


CINCO EXPOSIÇÕES - mostra com obras de Arthur Luiz Piza, Antônio Carelli, Pazé, Nobuo Mitsunashi e Vera Martins na Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, tel. 229-9844, SP). Hoje, às 11h. De ter. a dom.: das 10h às 17h30. Entrada franca. Patrocinadores: Itaú Cultural e Personnalité Itaú, Opus, Millenium, Maksoud Plaza, Raízes Artes Gráficas, Novo Fotolito e Alves Tegan.



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