São Paulo, segunda, 24 de agosto de 1998

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Artistas devoram Caetano

Mostra no Rio reúne 80 artistas e obras criadas para canções de Caetano Veloso; evento previsto para novembro, no Paço Imperial, vai virar livro e leilão beneficente
Publius Vergilius/Folha Imagem
O artista Jarbas Lopes deita sobre o parangolé que apresenta na mostra "A Imagem do Som de Caetano Veloso", no Rio


CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

"Vamos comer Caetano/vamos desfrutá-lo/vamos comer Caetano/vamos começá-lo/vamos comer Caetano/vamos devorá-lo."
Os versos iniciais de "Vamos Comer Caetano", canção presente no novo disco de Adriana Calcanhoto, já estão sendo levados à risca por cerca de 80 artistas brasileiros das mais diversas áreas.
Eles foram convidados pelo Paço Imperial, no Rio, para participar do projeto "A Imagem do Som de Caetano Veloso", que pretende criar representações visuais para canções do compositor baiano. A curadoria é de Felipe Taborda.
Os trabalhos resultarão em uma mostra, que será apresentada a partir de 19 de novembro no Paço Imperial, e em um livro, a ser editado pela Francisco Alves. As obras serão doadas pelos artistas e leiloadas durante a mostra, com verba destinada a uma instituição beneficente.
Além de artistas plásticos e fotógrafos, como Rosângela Rennó, Adriana Varejão, Cabelo, Jarbas Lopes, Daniel Senise, Marcelo Krasilcic, Waltercio Caldas, Siron Franco e Miguel Rio Branco, participam ainda estilistas (Alexandre Herchcovitch), cartunistas (Angeli, Laerte e Patrício Bisso, da Folha), designers gráficos (Gringo Cardia e Guto Lacaz), poetas (Arnaldo Antunes) e dramaturgos (Gerald Thomas), entre outros.
A escolha das canções de cada artista foi feita por sorteio e não pôde ser trocada. "Eu gostaria de ilustrar "Um Índio', mas já tinham dado essa para outra pessoa. Foi como um bingo, uma brincadeira de amigo secreto. Ninguém pôde trocar as canções", disse o cartunista Patrício Bisso, que ilustrou a canção "Dom de Iludir" como uma senhora que, mesmo esfaqueada, sustenta uma máscara com um sorriso.
Menos ilustrativo é o trabalho de Gerald Thomas, que retornou aos tempos em que era ilustrador do jornal "The New York Times" para compor sua criação: uma pintura em que usa diversos materiais, como óleo, acrílico, guache e carvão. "Parti da idéia de nascimento e de rio, como uma sugestão de corte e fluxo na geografia e de passar do tempo", disse o dramaturgo, que ficou com a canção "Onde Eu Nasci Passa um Rio".
Um dos mais entusiasmados com o resultado do sorteio foi o artista plástico Cabelo, a quem coube "Ele me Deu um Beijo na Boca". "Essa canção é um paradigma. Eu aprendi muito com ela. Ela provoca uma profusão tão grande de imagens que estou pensando em apenas colocar um espelho em frente à letra", brincou.
Outro que se entusiasmou com as imagens provocadas pela letra foi Jarbas Lopes, que ilustra "Janelas Abertas nš 2" e buscou inspiração no trecho que diz: "Eu prefiro abrir as janelas para que entrem todos os insetos".
Construiu um misto de ambiente e parangolé com buchas vegetais daquelas usadas para tomar banho. No objeto, que tem a forma de um casulo, ele costurou ainda cravos e pedaços de canela.
"A idéia é promover uma percepção original do ambiente. O usuário vai estar em uma posição privilegiada para perceber o que está dentro e o que está a seu redor. Ele vai poder se isolar de todos os medos exteriores", disse.
Siron Franco, a quem coube "Drama", criou um "assemblage" a partir do verso que diz: "Limpo no pano de prato as mãos sujas do sangue das canções".
Ele concebeu uma pequena parede de azulejos onde está pendurado um pano de prato sujo pelas mãos do artista, em que foi bordada a letra da música. "Procurei não sair da imagem que Caetano criou na canção", disse.
O fotógrafo Marcelo Krasilcic, que está com mostra na Casa Triângulo, em São Paulo, preferiu ater-se ao "clima" da canção "Muito" e realizou na última semana uma fotografia com os "multimidia makers" Fábio Itapura e Gisela Domschke.
"A letra fala de amar muito, sobre muita entrega, então fiz uma fotografia sobre duas pessoas se amando, com muito carinho. A locação é muito simples, com luz natural", disse Krasilcic.




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