São Paulo, segunda, 24 de agosto de 1998

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LITERATURA
João Gilberto Noll estréia hoje coluna "Relâmpagos'

PATRICIA DECIA
da Reportagem Local

Balançando entre a prosa e a poesia, estréia hoje na Ilustrada "Relâmpagos", nova coluna do escritor gaúcho João Gilberto Noll.
Os textos, "instantes ficcionais", serão publicados às segundas e quintas-feiras, sempre ao lado do horóscopo. Substituem os "Contos Mínimos", de Heloisa Seixas.
Noll é autor de contos e romances, entre eles "A Céu Aberto" e "Harmada", (ed. Companhia das Letras), e acaba de voltar ao Brasil após uma temporada como escritor visitante em Berkeley (EUA).
Em "Relâmpagos" vê uma possibilidade de começar a mostrar a um público mais numeroso a poética e estética que lhe renderam (e rendem) elogios entre a crítica.
"O que será do texto sem o leitor? Acho que essa relação é extremamente erótica. A grande utopia de Walt Whitman (poeta norte-americano) era que o leitor pudesse tocar no tecido do texto. E quanto mais leitores tocando no tecido do texto, mais prazeroso e completo é o ato literário", afirma.
Nessa "prosa vertical" para jornal, tratará de temas como as paixões mal resolvidas, a vontade de poder, a carência afetiva, a impossibilidade amorosa e a solidão. "Coisas que dizem respeito à vida cotidiana da grande maioria das pessoas", diz.
Sua narrativa, porém, é metafórica. "Meus textos geralmente têm muita ação, só que uma ação um pouco descabida dentro dos parâmetros do cotidiano. Não há essa relação tão automatizada entre as coisas que acontecem", afirma.
Noll refuta o rótulo "prosa poética" e diz procurar o aspecto musical da linguagem.
"Treinador de Almas" é o título da coluna de estréia (leia texto à pág. 6-2). Sobre ela, diz: "Eu quero ter o direito também de fazer pequenas liturgias, pequenos momentos de elevação a partir desse barro da história. Não acho que o homem seja anjo, mas é bom a gente exercitar esse desejo de superação, de transcendência".
Atualmente, Noll trabalha numa novela sobre a preguiça para coleção da editora Objetiva que tem como tema os sete pecados capitais.
"Eu pincei a preguiça com prazer, porque não vou precisar suspender o meu discurso literário. Sou um autor preocupado realmente com a questão da contemplação. Os meus personagens centrais geralmente são profundamente contemplativos e isso gera um conflito nevrálgico entre eles e o mundo."
A coluna "Da Rua", de Fernando Bonassi, continua às quartas-feiras e sábados, e "Vida Bandida", de Voltaire de Souza, às terças e sextas-feiras.



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