São Paulo, segunda, 24 de agosto de 1998

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CINEMA
Paulo Caldas, co-diretor de "Baile Perfumado", se une a estreante para documentar a violência em Recife
Longa retrata massacre das "almas sebosas'

XICO SÁ
da Reportagem Local

Helinho, 21 anos e 65 assassinatos na ficha policial, confessa, diante da câmera, atrás das grades do presídio de segurança máxima Aníbal Bruno, em Recife: "Matar "almas sebosas' é mais fácil do que beber um copo d"água".
Começa aí, com uma rajada verbal e um rap nervoso, "Subúrbio Soul", documentário longa-metragem de Paulo Caldas (que dirigiu "Baile Perfumado" em parceria com Lírio Ferreira) e do estreante Marcelo Luna.
"Alma sebosa", a expressão que sai com ira da boca do matador, é sinônimo de marginal, bandido ou malandro, na periferia da região metropolitana de Recife, onde o filme foi rodado.
Faces do Subúrbio
Enquanto Hélio José Muniz, o Helinho, descreve a queda das suas vítimas, um outro personagem da mesma periferia, o rapper e líder comunitário Garnizé, 26, mostra um destino diferente: ele é militante político e faz parte do grupo Faces do Subúrbio, lançado recentemente pela MZA, um selo do complexo PolyGram.
Helinho e Garnizé nasceram na mesma "quebrada", Camaragibe, nos arredores de Recife, tiveram as mesmas dificuldades, enfrentaram a mesma miséria e ouviram as mesmas histórias de violência que assombram as noites suburbanas.

Os Vingadores

Trancado hoje em um cubículo de quatro metros quadrados, Helinho lembra as barbaridades de Os Vingadores, grupo de extermínio que liderava até janeiro deste ano, quando foi preso -por porte de arma- e confessou a autoria dos crimes.
Para os diretores, uma das melhores sequências é o diálogo, na cadeia, do "justiceiro" e do rapper, aqui reproduzido como foi gravado para o filme:
"Vem cá, se tu me visse na rua, de bobeira, de madrugada, lá na comunidade, tu ia me confundir com um bandido e era capaz de me detonar, né?", diz Garnizé.
Com um sorriso carregado de ironia, Helinho responde: "É. Eu acho que sim". Nesse instante, segundo o roteiro, a câmera faz um barulho característico de fim de rolo. A imagem escurece.
Em fase de finalização, "Subúrbio Soul", produzido pela Aurora Filmes, vai ser lançado neste semestre. É o primeiro longa-metragem nacional que põe o rap, trilha sonora da periferia das metrópoles, no centro das atenções.
A música "Acostumados com a Violência", do Faces do Subúrbio, resume o tom do documentário: "Cai a noite e os donos dela circulam em silêncio/ armas em punho/ de preferência berros niquelados/ dispostos a ir ou mandar/ gente pro outro lado".



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