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CINEMA
Paulo Caldas, co-diretor de "Baile Perfumado", se une a estreante para documentar a violência em Recife
Longa retrata massacre das "almas sebosas'
XICO SÁ
da Reportagem Local
Helinho, 21 anos e 65 assassinatos na ficha policial, confessa,
diante da câmera, atrás das grades
do presídio de segurança máxima
Aníbal Bruno, em Recife: "Matar
"almas sebosas' é mais fácil do
que beber um copo d"água".
Começa aí, com uma rajada verbal e um rap nervoso, "Subúrbio
Soul", documentário longa-metragem de Paulo Caldas (que dirigiu "Baile Perfumado" em parceria com Lírio Ferreira) e do estreante Marcelo Luna.
"Alma sebosa", a expressão
que sai com ira da boca do matador, é sinônimo de marginal, bandido ou malandro, na periferia da
região metropolitana de Recife,
onde o filme foi rodado.
Faces do Subúrbio
Enquanto Hélio José Muniz, o
Helinho, descreve a queda das
suas vítimas, um outro personagem da mesma periferia, o rapper
e líder comunitário Garnizé, 26,
mostra um destino diferente: ele é
militante político e faz parte do
grupo Faces do Subúrbio, lançado
recentemente pela MZA, um selo
do complexo PolyGram.
Helinho e Garnizé nasceram na
mesma "quebrada", Camaragibe, nos arredores de Recife, tiveram as mesmas dificuldades, enfrentaram a mesma miséria e ouviram as mesmas histórias de violência que assombram as noites
suburbanas.
Os Vingadores
Trancado hoje em um cubículo
de quatro metros quadrados, Helinho lembra as barbaridades de
Os Vingadores, grupo de extermínio que liderava até janeiro deste
ano, quando foi preso -por porte
de arma- e confessou a autoria
dos crimes.
Para os diretores, uma das melhores sequências é o diálogo, na
cadeia, do "justiceiro" e do rapper, aqui reproduzido como foi
gravado para o filme:
"Vem cá, se tu me visse na rua,
de bobeira, de madrugada, lá na
comunidade, tu ia me confundir
com um bandido e era capaz de
me detonar, né?", diz Garnizé.
Com um sorriso carregado de
ironia, Helinho responde: "É. Eu
acho que sim". Nesse instante, segundo o roteiro, a câmera faz um
barulho característico de fim de
rolo. A imagem escurece.
Em fase de finalização, "Subúrbio Soul", produzido pela Aurora
Filmes, vai ser lançado neste semestre. É o primeiro longa-metragem nacional que põe o rap, trilha
sonora da periferia das metrópoles, no centro das atenções.
A música "Acostumados com a
Violência", do Faces do Subúrbio, resume o tom do documentário: "Cai a noite e os donos dela
circulam em silêncio/ armas em
punho/ de preferência berros niquelados/ dispostos a ir ou mandar/ gente pro outro lado".
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