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JAMIROQUAI - CRÍTICA
Chapeleiro maluco e sem rumo
MARCELO NEGROMONTE
da Redação
Uma confusão raramente vista
na porta do Via Funchal, a melhor
casa de espetáculos de São Paulo,
seguida de um atraso inadmissível de uma hora foram o aquecimento para o primeiro show da
turnê de "Synkronized" na cidade, no último sábado.
Jamiroquai voltou ao Brasil depois de dois anos e continua no
meio do caminho. Não se decide
entre disco, funk, soul, cosmos e,
agora, algum big beat. Fica perdido (e forçado) entre tudo isso
-Jay Kay atira para todos os lados e não convence em nenhum.
Falta muita melanina em Jay Kay,
o Jamiroquai em si; ele é o centro,
o resto é "staff" braçal.
Com um chapéu branco de
mestre-sala de escola de samba,
Jay Kay abandonou a marca registrada escandinava, chifruda.
Ainda falta também o carisma, ele
é bem fraquinho nesse quesito
-qualquer um com Ferraris e
loiras a tiracolo fica famoso, não
necessariamente carismático.
Havia menos divagações solos
nas músicas e menos "yeah!
yeah!" dessa vez. Show até que
bem produzido, mas com um
som sofrível, como se as caixas
acústicas estivessem atrás do palco (OK, o show dos Chemical
Brothers, no mesmo Via Funchal,
não é parâmetro para nada...), o
que não evoluiu muito além disso
no decorrer da apresentação.
O atraso de uma hora foi quase
a duração do show (80 minutos,
com o bis), que lotou a casa (o ingresso mais barato custava R$ 50)
com cerca de 6.000 pessoas.
Seis músicas do novo álbum
mostraram que "Synkronized" é
o melhor dos quatro da banda inglesa: "Soul Education", "Canned
Heat", a quase house "Supersonic" (com didjeridoo no palco),
"Planet Home" (com sotaque latino) e "Black Capricorn Day"
-aqui, em vez de "yeahs",
"hey!"; alguma interação com o
público havia de ter.
Por isso, a cover de "Miss You",
dos Rolling Stones, com a participação intensa da platéia no coro.
Jay Kay e banda passaram a anos-luz de distância da versão original
na esquálida versão disco.
E muitos hits: "Alright", "Virtual Insanity", "Cosmic Girl",
"Space Cowboy". O povo gostou e
dançou. O intento era levar um
espírito discothèque das galáxias
ao Via Funchal, com quatro velozes globos de espelhos no palco.
Mas um detalhe escapava: a música, sempre regular.
O melhor da noite ficou com a
poderosa "Deeper Underground", no bis (onde ela se encontra também em "Synkronized", escondida, sem crédito, na
última faixa), com guitarras sobressaindo e sambinhas mixados.
Aí Jay Kay, o chapeleiro maluco,
se já parecia uma alegoria carnavalesca, voltou com o uniforme
do bis de shows gringos: camiseta
da seleção brasileira -a alegoria
patética máxima. "Gostem de
mim, por favor", deveria dizer.
Grandes lacunas faltam ser
preenchidas no som do Jamiroquai, um "punch", uma negritude
sonora, um rumo, uma presença
qualquer no palco, algo que transcenda o medíocre.
Se adereços de cabeça resolvessem o quesito, Clóvis Bornay seria
o maior showman do planeta.
Avaliação:
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