São Paulo, Terça-feira, 24 de Agosto de 1999
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JAMIROQUAI - CRÍTICA
Chapeleiro maluco e sem rumo

MARCELO NEGROMONTE
da Redação

Uma confusão raramente vista na porta do Via Funchal, a melhor casa de espetáculos de São Paulo, seguida de um atraso inadmissível de uma hora foram o aquecimento para o primeiro show da turnê de "Synkronized" na cidade, no último sábado.
Jamiroquai voltou ao Brasil depois de dois anos e continua no meio do caminho. Não se decide entre disco, funk, soul, cosmos e, agora, algum big beat. Fica perdido (e forçado) entre tudo isso -Jay Kay atira para todos os lados e não convence em nenhum. Falta muita melanina em Jay Kay, o Jamiroquai em si; ele é o centro, o resto é "staff" braçal.
Com um chapéu branco de mestre-sala de escola de samba, Jay Kay abandonou a marca registrada escandinava, chifruda. Ainda falta também o carisma, ele é bem fraquinho nesse quesito -qualquer um com Ferraris e loiras a tiracolo fica famoso, não necessariamente carismático.
Havia menos divagações solos nas músicas e menos "yeah! yeah!" dessa vez. Show até que bem produzido, mas com um som sofrível, como se as caixas acústicas estivessem atrás do palco (OK, o show dos Chemical Brothers, no mesmo Via Funchal, não é parâmetro para nada...), o que não evoluiu muito além disso no decorrer da apresentação.
O atraso de uma hora foi quase a duração do show (80 minutos, com o bis), que lotou a casa (o ingresso mais barato custava R$ 50) com cerca de 6.000 pessoas.
Seis músicas do novo álbum mostraram que "Synkronized" é o melhor dos quatro da banda inglesa: "Soul Education", "Canned Heat", a quase house "Supersonic" (com didjeridoo no palco), "Planet Home" (com sotaque latino) e "Black Capricorn Day" -aqui, em vez de "yeahs", "hey!"; alguma interação com o público havia de ter.
Por isso, a cover de "Miss You", dos Rolling Stones, com a participação intensa da platéia no coro. Jay Kay e banda passaram a anos-luz de distância da versão original na esquálida versão disco.
E muitos hits: "Alright", "Virtual Insanity", "Cosmic Girl", "Space Cowboy". O povo gostou e dançou. O intento era levar um espírito discothèque das galáxias ao Via Funchal, com quatro velozes globos de espelhos no palco. Mas um detalhe escapava: a música, sempre regular.
O melhor da noite ficou com a poderosa "Deeper Underground", no bis (onde ela se encontra também em "Synkronized", escondida, sem crédito, na última faixa), com guitarras sobressaindo e sambinhas mixados.
Aí Jay Kay, o chapeleiro maluco, se já parecia uma alegoria carnavalesca, voltou com o uniforme do bis de shows gringos: camiseta da seleção brasileira -a alegoria patética máxima. "Gostem de mim, por favor", deveria dizer.
Grandes lacunas faltam ser preenchidas no som do Jamiroquai, um "punch", uma negritude sonora, um rumo, uma presença qualquer no palco, algo que transcenda o medíocre.
Se adereços de cabeça resolvessem o quesito, Clóvis Bornay seria o maior showman do planeta.


Avaliação:   


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