São Paulo, Sexta-feira, 24 de Setembro de 1999
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CINEMA FESTIVAL DO RIO

Novo filme de Altman encena a vida como jogo


JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

Quem viu os filmes mais recentes de Robert Altman (a partir de "Short Cuts", digamos) terá notado que o cineasta, outrora ironista feroz e implacável, está cada vez mais doce.
O ápice, até agora, dessa tendência ao relaxamento e ao afeto pelos personagens é o delicioso "A Fortuna de Cookie", que passa hoje no Festival do Rio.
Como inúmeros outros filmes do diretor -de "Nashville" a "Kansas City"-, este também entrelaça as histórias de vários personagens: no caso, os habitantes de uma cidadezinha do Sul dos EUA, cuja vida pacata é sacudida pela morte de uma velhinha querida de todos, a Cookie do título (Patricia Neal).
Embora o espectador saiba desde o princípio que a velha se suicidou, uma desajeitada farsa montada por sua sobrinha Camille (Glenn Close) leva à suspeita de assassinato e à prisão do melhor amigo de Cookie, o negro Willis (Charles S. Dutton), cujo único pecado na vida é furtar de vez em quando do bar local uma garrafa de bourbon, que ele repõe sorrateiramente no dia seguinte.
Ninguém na cidade acredita que Willis seja culpado. O delegado (Ned Beatty) o prende mais pelo dever de representar seu papel. Tanto que a neta de Cookie, a rebelde Emma (Liv Tyler), se interna na cela em solidariedade a Willis -e também para ficar perto de seu namorado, o guarda Jason (Chris O'Donnel).
A própria prisão vira uma espécie de clube, em que guardas e presos jogam palavras cruzadas e comentam pescarias.
Diante de policiais de fora que vêm investigar o caso, a comunidade parece representar um jogo, marcado pela cumplicidade. Essa farsa em cena aberta dialoga no filme com a peça de teatro amador montada na igreja local, a "Salomé" de Oscar Wilde, dirigida pela histérica Camille e estrelada por sua irmã simplória Cora (Julianne Moore).
Nessa comédia de andamento musical (animada por um blues de primeira), em que cada personagem é um tanto lunático, e em que tudo parece fora do lugar, destacam-se duas mulheres notáveis: Julianne Moore e Liv Tyler.
A primeira, uma das grandes atrizes de hoje, constrói a estupidez de seu personagem como um Stan Laurel de saias. E Liv Tyler, bem, é a prova de que Deus existe.


Avaliação:     

Filme: A Fortuna de Cookie
Direção: Robert Altman
Elenco: Glenn Close, Julianne Moore, Liv Tyler, Chris O'Donnel
Onde: hoje, 21h30, no Rio Sul (r. Lauro Muller, 116, Botafogo, Rio, tel. 0/xx/21/ 542-1098)




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