São Paulo, Sexta-feira, 24 de Setembro de 1999
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MEMÓRIA

Discos do tenor rendem US$ 100 mil por ano a seu espólio

Voz de Mário Lanza brilha, 40 anos depois de sua morte


EGÍDIO GRANDINETTI JÚNIOR
especial para a Folha



Mário Lanza foi sob inúmeros aspectos um fenômeno do nosso tempo. Magnífica voz de tenor, tinha uma extensão até o ré bemol e o dó-de-peito, um admirável colorido, potência extraordinária e um timbre personalíssimo.
Entretanto, Lanza não se dedicou à carreira que é a natural para os tenores, isto é, a do teatro lírico, herança de uma tradição de três séculos. Preferiu entregar-se aos modernos meios de comunicação artística, o cinema, o rádio, o disco, a televisão, além de apresentações em recitais e concertos.
Aliás, foi num concerto no Hollywood Bowl que obteve enorme sucesso. No meio do imenso público estava o todo-poderoso dono da MGM, Louis B. Mayer, que lhe ofereceu um contrato de sete anos.
O primeiro filme, "Aquele Beijo à Meia-Noite" ("That Midnight Kiss") foi sucesso absoluto. Em 1949, Mário Lanza assinou contrato com a RCA Victor-BMG, gravando no dia 5 de maio, no Manhattan Center de NY, os seus primeiros discos. Ao longo de sua carreira, Lanza construiu um catálogo de mais de 200 títulos, sem contar os fonogramas extraídos de programas de rádio, televisão e de concertos ao vivo.
Porém, o triunfo mundial de Mário Lanza viria em 1951. Em maio, com um fantástico esquema publicitário, era apresentado em estréia de gala, no Radio City Music Hall (NY), "O Grande Caruso". O filme rendeu US$ 25 milhões aos produtores, enquanto o cantor, pelos discos, recebeu em menos de um ano US$ 764 mil.
Os discos de Lanza continuam rendendo mais de US$ 100 mil anuais para seu espólio. Uma soma respeitável para um cantor clássico que se foi há tanto tempo.
Seus filmes realizados na Metro ainda são exibidos repetidamente na TV e podem ser encontrados em lojas de vídeo.
Brilhou nos filmes que fez, mas ele próprio buscou a ruína de sua carreira com seus excessos: era um devorador de pratos suculentos e seu apetite deixava qualquer um espantado.
Os dirigentes do estúdio arrancavam os cabelos em desespero ao vê-lo engordar, porque o cinema não podia mostrar um jovem galã pesando 100 quilos. Ele se torturava ao fazer regime de emagrecimento, mas submetia-se a isso todas as vezes que voltava a trabalhar. Isso serviu para abatê-lo na Itália, no dia 7 de outubro de 1959, na Clínica Luigia, de Roma, onde morreu aos 38 anos de idade, vitimado por infarto.
De Lanza ficaram a sua bela voz em discos e seus próprios filmes, entre os quais "Tu És Minha Paixão" e "O Grande Caruso", certamente o mais famoso.
No ano da sua morte, ainda fez para a MGM seus dois últimos longa-metragens: "As Sete Colinas de Roma" ("The Seven Hills of Rome") e "Pela Primeira Vez" ("For The First Time"), no qual tem performance inesquecível, cantando o ato final da ópera "Otelo", de Verdi, no qual o tenor contracena com Lícia Albanese.
Na biografia do cantor recentemente lançada pela editora Amadeus Press e escrita por Roland L. Bessette, o tenor Plácido Domingo admitiu que "O Grande Caruso" exerceu grande influência em sua carreira; já Pavarotti, teve seus anseios elevados ao ouvir "Be My Love com Lanza". O terceiro tenor, José Carreras, também confirma a atração pela voz e o carisma de Mário Lanza.
No Brasil existem dois discos em catálogo do cantor: "Lanza's Greatest Hits" e "Whit A Song In My Heart" (BMG-Camden).


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