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TEATRO
A cultura popular e a rua formam a base do grupo mineiro, que abre temporada hoje em SP com "Romeu e Julieta"
Galpão espelha linguagem em cinco peças
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma turnê inédita com cinco
espetáculos reafirma, em São
Paulo, a vocação mambembe do
teatro popular evocado pelo Galpão. Estimulado pela comemoração dos 20 anos (em novembro),
o grupo proporciona um painel
revelador das linguagens cênica e
dramatúrgica consolidadas nos
anos 90 para além das montanhas
da sua Belo Horizonte natal.
A premiada montagem de "Romeu e Julieta" (92), que já foi encenada em Londres (Globe Theater) e em Washington (Kennedy
Center), puxa a temporada quíntupla do Galpão.
O Shakespeare popular estréia
hoje no parque da Independência. A triste história dos jovens
amantes de Verona é amparada
pela mineiridade de Guimarães
Rosa e pelo teatro assumidamente barroco do diretor Gabriel Villela, que elege uma Veraneio como eixo cenográfico ao ar livre.
"Existem dois Galpões. Aquele
que eu conhecia na rua em "Corra
Enquanto É Tempo", "A Comédia
da Esposa Muda", por exemplo, e
aquele depois de "Romeu e Julieta". Nos dez anos anteriores, os espetáculos já resultavam da devoção pelo conceito de teatro de
grupo, da pesquisa da cultura popular, do circo-teatro e da comunicação direta com o público na
rua, que formam a viga mestra. Já
haviam descoberto a poção mágica antes de eu chegar", afirma Villela, 42.
Também no parque da Independência será encenada no final
de semana "Um Molière Imaginário" (97), sob direção do ator
Eduardo Moreira, um dos fundadores do grupo com Teuda Bara,
Fernando Linares, Antônio Edson e Wanda Fernandes (hoje são
13 atores no elenco).
Wanda Fernandes, que veio a se
casar com Moreira, morreu em
94, vítima de acidente de carro
quando retornava da entrega de
um prêmio.
A morte real da Julieta (Wanda
contracenava com Moreira, o Romeu) abalou o grupo. "Naquele
momento, todos os amigos de BH
abraçaram o Galpão numa grande ciranda para cercar os pedaços
do grupo", ilustra Villela.
O diretor capitaneou a transição
com "a ressurreição não do corpo
martirizado de Cristo, mas do
corpo coletivo". Isso se reflete em
"A Rua da Amargura - 14 Passos
Lacrimosos sobre a Vida de Jesus" (94), que gira a temporada
paulista do Galpão para o teatro
Sérgio Cardoso a partir do dia 10
de outubro.
Na duas semanas seguintes, serão apresentados, respectivamente, "Partido" (97), adaptação da
obra "O Visconde Partido ao
Meio", de Ítalo Calvino, e "Um
Trem Chamado Desejo" (2000),
de Luis Alberto de Abreu, a produção mais recente. "O Galpão
funciona de maneira muito colegiada. Não há exatamente um
corpo diretivo que vem com a coisa pronta. Na dramaturgia, o
elenco é sempre co-autor", diz o
dramaturgo Cacá Brandão, 43.
"Os 20 anos servem para festejar, celebrar o afeto, mas também
propicia avaliações e correções",
diz o ator e diretor autocrítico
Chico Pelúcio, 43, que cuida do
Galpão Cine-Horto, misto de centro cultural e escola inaugurado
em 98 na capital mineira.
Na equipe (ao todo são 36 pessoas), há colaboradores constantes como Babaya (preparação vocal), Fernando Muzzi (instrumental), Ernani Maletta (canto) e
Márcio Medina (cenografia).
Após São Paulo, Belo Horizonte
(novembro) e Rio (dezembro) verão o projeto das cinco peças que,
antes, levou a dobradinha "Romeu e Julieta" e "Um Molière
Imaginário" a Aracaju, Natal, Salvador, Recife e Fortaleza.
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