São Paulo, terça-feira, 24 de setembro de 2002

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TEATRO

A cultura popular e a rua formam a base do grupo mineiro, que abre temporada hoje em SP com "Romeu e Julieta"

Galpão espelha linguagem em cinco peças

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma turnê inédita com cinco espetáculos reafirma, em São Paulo, a vocação mambembe do teatro popular evocado pelo Galpão. Estimulado pela comemoração dos 20 anos (em novembro), o grupo proporciona um painel revelador das linguagens cênica e dramatúrgica consolidadas nos anos 90 para além das montanhas da sua Belo Horizonte natal.
A premiada montagem de "Romeu e Julieta" (92), que já foi encenada em Londres (Globe Theater) e em Washington (Kennedy Center), puxa a temporada quíntupla do Galpão.
O Shakespeare popular estréia hoje no parque da Independência. A triste história dos jovens amantes de Verona é amparada pela mineiridade de Guimarães Rosa e pelo teatro assumidamente barroco do diretor Gabriel Villela, que elege uma Veraneio como eixo cenográfico ao ar livre.
"Existem dois Galpões. Aquele que eu conhecia na rua em "Corra Enquanto É Tempo", "A Comédia da Esposa Muda", por exemplo, e aquele depois de "Romeu e Julieta". Nos dez anos anteriores, os espetáculos já resultavam da devoção pelo conceito de teatro de grupo, da pesquisa da cultura popular, do circo-teatro e da comunicação direta com o público na rua, que formam a viga mestra. Já haviam descoberto a poção mágica antes de eu chegar", afirma Villela, 42.
Também no parque da Independência será encenada no final de semana "Um Molière Imaginário" (97), sob direção do ator Eduardo Moreira, um dos fundadores do grupo com Teuda Bara, Fernando Linares, Antônio Edson e Wanda Fernandes (hoje são 13 atores no elenco).
Wanda Fernandes, que veio a se casar com Moreira, morreu em 94, vítima de acidente de carro quando retornava da entrega de um prêmio.
A morte real da Julieta (Wanda contracenava com Moreira, o Romeu) abalou o grupo. "Naquele momento, todos os amigos de BH abraçaram o Galpão numa grande ciranda para cercar os pedaços do grupo", ilustra Villela.
O diretor capitaneou a transição com "a ressurreição não do corpo martirizado de Cristo, mas do corpo coletivo". Isso se reflete em "A Rua da Amargura - 14 Passos Lacrimosos sobre a Vida de Jesus" (94), que gira a temporada paulista do Galpão para o teatro Sérgio Cardoso a partir do dia 10 de outubro.
Na duas semanas seguintes, serão apresentados, respectivamente, "Partido" (97), adaptação da obra "O Visconde Partido ao Meio", de Ítalo Calvino, e "Um Trem Chamado Desejo" (2000), de Luis Alberto de Abreu, a produção mais recente. "O Galpão funciona de maneira muito colegiada. Não há exatamente um corpo diretivo que vem com a coisa pronta. Na dramaturgia, o elenco é sempre co-autor", diz o dramaturgo Cacá Brandão, 43.
"Os 20 anos servem para festejar, celebrar o afeto, mas também propicia avaliações e correções", diz o ator e diretor autocrítico Chico Pelúcio, 43, que cuida do Galpão Cine-Horto, misto de centro cultural e escola inaugurado em 98 na capital mineira.
Na equipe (ao todo são 36 pessoas), há colaboradores constantes como Babaya (preparação vocal), Fernando Muzzi (instrumental), Ernani Maletta (canto) e Márcio Medina (cenografia).
Após São Paulo, Belo Horizonte (novembro) e Rio (dezembro) verão o projeto das cinco peças que, antes, levou a dobradinha "Romeu e Julieta" e "Um Molière Imaginário" a Aracaju, Natal, Salvador, Recife e Fortaleza.



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