São Paulo, sábado, 24 de setembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasileiros das décadas de 20 e 30 estabelecem diálogo com argentino

DA REPORTAGEM LOCAL

Propor um diálogo artístico com Xul Solar não é tarefa simples. O artista argentino não pertence a nenhum movimento e, ao mesmo tempo, é contemporâneo das vanguardas modernistas.
Por isso, para compor "Xul Solar/Brasil - Imaginários em Diálogo", o curador Jorge Schwartz optou por restringir suas escolhas às décadas de 20 e 30. "É o período mais afinado, entre os artistas de perfil "excêntrico" e multidisciplinar", comenta. E completa: "Chamo de diálogos imaginários porque são possíveis cotejos, comparações. A arte tem uma dimensão social de movimentos, semelhanças e coincidências".
Ismael Nery (1900-34) é o principal destaque, com 12 obras. "Ele tem um vínculo mais forte com o misticismo, o catolicismo. É o viés religioso, uma forma de ver o mundo", explica Schwartz.
O universo de anjos e figuras flutuantes se relacionam sobretudo às pinturas dos primeiros anos de Xul. Mas o curador diferencia: "Eles são diversos do ponto de vista cromático".
A segunda parte da exibição reúne 15 trabalhos, entre cenários (ou cenografias) e tapeçarias, assinadas por Rego Monteiro, Ismael Nery, Di Cavalcanti, Lasar Segall e Antonio Gomide.
Embora não se saiba para quais peças tenham sido criados, Xul desenhou cenários, que podem ser vistos na exposição.
"Todos, os brasileiros e Xul, passaram por Paris nos anos 20 e lá viram a inter-relação das artes, as cenografias feitas principalmente para balés russos e suecos, como, por exemplo, o painel "Parade", de Picasso."
Já as tapeçarias surgem pela tradição de artes e ofícios, da qual Gomide representa o lado brasileiro, com estudos para estampas.
Para criar a seção brasileira da mostra, Schwartz, que sempre sonhou com uma grande mostra de Xul, passou dois meses na casa-museu do artista que guarda sua biblioteca de 3.500 volumes. Na coleção, o curador encontrou um exemplar de "Macunaíma", autografado pelo autor, além de títulos de antropologia, religiões afro-brasileiras e lingüística, cartas e a "Revista de Antropofagia".
"Não é uma presença muito importante, mas contínua", afirma. O interesse de Xul pelo Brasil, no entanto, é evidenciado na língua neo-criolla, o "esperanto do Mercosul", segundo Schwartz.


Texto Anterior: Artes plásticas: Pinacoteca capta as visões de Xul Solar
Próximo Texto: Eletrônica: Money Mark quer tocar por três horas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.