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Brasileiros das décadas de 20 e 30 estabelecem diálogo com argentino
DA REPORTAGEM LOCAL
Propor um diálogo artístico
com Xul Solar não é tarefa simples. O artista argentino não pertence a nenhum movimento e, ao
mesmo tempo, é contemporâneo
das vanguardas modernistas.
Por isso, para compor "Xul Solar/Brasil - Imaginários em Diálogo", o curador Jorge Schwartz optou por restringir suas escolhas às
décadas de 20 e 30. "É o período
mais afinado, entre os artistas de
perfil "excêntrico" e multidisciplinar", comenta. E completa: "Chamo de diálogos imaginários porque são possíveis cotejos, comparações. A arte tem uma dimensão
social de movimentos, semelhanças e coincidências".
Ismael Nery (1900-34) é o principal destaque, com 12 obras. "Ele
tem um vínculo mais forte com o
misticismo, o catolicismo. É o viés
religioso, uma forma de ver o
mundo", explica Schwartz.
O universo de anjos e figuras
flutuantes se relacionam sobretudo às pinturas dos primeiros anos
de Xul. Mas o curador diferencia:
"Eles são diversos do ponto de
vista cromático".
A segunda parte da exibição
reúne 15 trabalhos, entre cenários
(ou cenografias) e tapeçarias, assinadas por Rego Monteiro, Ismael
Nery, Di Cavalcanti, Lasar Segall e
Antonio Gomide.
Embora não se saiba para quais
peças tenham sido criados, Xul
desenhou cenários, que podem
ser vistos na exposição.
"Todos, os brasileiros e Xul,
passaram por Paris nos anos 20 e
lá viram a inter-relação das artes,
as cenografias feitas principalmente para balés russos e suecos,
como, por exemplo, o painel "Parade", de Picasso."
Já as tapeçarias surgem pela tradição de artes e ofícios, da qual
Gomide representa o lado brasileiro, com estudos para estampas.
Para criar a seção brasileira da
mostra, Schwartz, que sempre sonhou com uma grande mostra de
Xul, passou dois meses na casa-museu do artista que guarda sua
biblioteca de 3.500 volumes. Na
coleção, o curador encontrou um
exemplar de "Macunaíma", autografado pelo autor, além de títulos
de antropologia, religiões afro-brasileiras e lingüística, cartas e a
"Revista de Antropofagia".
"Não é uma presença muito importante, mas contínua", afirma.
O interesse de Xul pelo Brasil, no
entanto, é evidenciado na língua
neo-criolla, o "esperanto do Mercosul", segundo Schwartz.
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