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Pessoas gostam de ver "pele boa"
Escritor defende uso de técnicas de aperfeiçoamento de imagens para atores de novelas televisivas
Autor de "Páginas da Vida" diz que público se cansou de cenas de amor e que tem de transformar mocinhas em mulheres agressivas
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
Leia a continuação da entrevista com Manoel Carlos.
(LM)
FOLHA - O que acha de o senador
Eduardo Suplicy (PT-SP) copiar o
efeito gráfico dos depoimentos da
novela no horário eleitoral?
MANOEL CARLOS - Não deve, né.
Mudei o personagem da Renata
Sorrah por causa de política
[seria uma juíza inspirada em
Denise Frossard, candidata do
PPS ao governo do Rio, e virou
procuradora da República].
Ninguém precisou pedir. Soube que alguns políticos estavam
preocupados com a possibilidade de a novela beneficiar a
candidata. Resolvi mudar, até
porque já tinha confessado ser
eleitor dela.
FOLHA - Em quem mais irá votar?
MANOEL CARLOS - Provavelmente no Cristovam Buarque
[PDT] para presidente. Na Jandira Feghali [PC do B] para o
Senado e no [ex-secretário nacional de Segurança Pública]
Luiz Eduardo Soares [PPS] para deputado federal. Não escolhi ainda o deputado estadual.
FOLHA - De que tema político o sr.
gostaria de tratar na novela?
MANOEL CARLOS - Ah, dessa falta
de ética absoluta, dessa imoralidade total, desses acontecimentos que a cada dia nos deixam mais escandalizados. Mas
o Lula sobe nas pesquisas. Não
quero dizer que o povo não sabe votar, mas está indiferente a
esse tipo de coisa ou porque
não toma conhecimento ou
porque acha isso menor.
FOLHA - Em seu livro, o sr. diz que
ser vilão está na moda, que atrizes
não querem mais ser mocinhas. É
um paralelo com a situação do país?
MANOEL CARLOS - Sem dúvida. O
Bolsa Família beneficia milhões. Entendo que as pessoas
votem por causa de R$ 100 por
mês. É muito fácil o Lula ir a
um palanque e dizer: "Estão falando que eu fiz isso, mas ninguém fala que faço aquilo". É o
"rouba mas faz". Ninguém tem
mais vergonha, fico bobo. Eles
não têm o menor pudor de aparecer nos jornais envolvidos no
escândalo das ambulâncias, do
valerioduto e de se candidatar
de novo. E se elegem! Vilões estão na moda, do mocinho ninguém gosta. Faço cenas de
amor, e as pessoas reclamam:
"Os caras só se beijam". Quando faço mocinha agora, como a
personagem da Marjorie Estiano, tenho que pôr um comportamento de vilã. Ela agride a
mãe violentamente. É dura, e o
público gosta. Nas brigas com a
mãe, o ibope vai lá em cima.
FOLHA - De uma vez por todas, a
novela terá ou não um bissexual?
MANOEL CARLOS - Não. Ia fazer
um interpretado pelo Marcos
Caruso, que não estava escalado para ser o Alex, mas o marido da pintora [Louise Cardoso]. Tive que fazer um remanejamento dos atores e decidi
mudar para um casal de homossexuais. Em "Mulheres
Apaixonadas", o bissexual não
teve repercussão, até porque
havia resistência do ator.
Quando o Odilon Wagner foi
convidado, ficou entusiasmado. Mas quando o personagem
se revelou, passou a reclamar:
"Perdi comerciais, deixei de ganhar dinheiro". Começou a
chatear, e fui apagando o papel.
FOLHA - E a informação de que Edson Celulari faria o bissexual?
MANOEL CARLOS - Isso foi publicado pelo jornal "Extra". Há
atores e atrizes insatisfeitos
com o papel ou de terceiro escalão que procuram repórteres
para aparecer em notinha e inventam essas histórias.
FOLHA - Antes de publicarmos na
Folha uma reportagem sobre o assunto, mandei e-mail ao sr. perguntando se era verdade. Quem me respondeu foi sua assessora, dizendo
que o sr. "não nega nem confirma".
É um jeito de fazer marketing, não?
MANOEL CARLOS - Chega um momento em que o número de informações é tão grande... Há
coisas que deixo rolar, por que
vou sair desmentindo tudo?
FOLHA - É uma forma de alimentar
conversas, de gerar repercussão?
MANOEL CARLOS - É, vai alimentando e não me incomoda. Mas
o Edson ficou perdidão, porque
se fosse bissexual, seria algo
forte. E ele é um oficial das Forças Armadas. Sofro pressão de
padres, irmãs, diretores de museus porque um personagem
falou que estavam assaltando
museus no Brasil. E é verdade.
Os padres dizem que não há penitência corporal, que irmãs
não se ajoelham sobre pedrinhas. Elas se ajoelham sim, mas
vou discutir com padres? Tenho pesquisas e estudei a vida
inteira em colégio de padres,
ajoelhei em milho muitas vezes. Protestos chegam à Globo,
mas não me repassam tudo. Se
fizer um ascensorista cantando
uma moça, virá a associação
dos ascensoristas.
FOLHA - O sr. defende que a mulher acima dos 40 anos tem as melhores histórias. Não é contraditório
com o uso do programa de computador baselight para rejuvenescer
tanto a heroína [Regina Duarte]?
MANOEL CARLOS - Acho que não.
As pessoas querem ver pessoas
bem tratadas, com a pele boa.
Estamos falando de ficção. No
mundo inteiro, atores e atrizes
passam por esses aperfeiçoamentos de imagens. Quando
dou entrevista na TV, vem um
maquiador passar um pó para
tirar o brilho do meu rosto.
FOLHA - Não incentiva plásticas,
botox, e rejeita o envelhecimento?
MANOEL CARLOS - De jeito nenhum. O público sabe que é ficção. Alguém tem dúvida de que
a Elizabeth Taylor não é aquilo
que está nos filmes? Até nos documentários há maquiagem.
Mas é um ponto de vista a discutir, não digo que tenho razão.
NA INTERNET - Leia a íntegra
www.folha.com.br/062641
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