São Paulo, domingo, 24 de setembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pessoas gostam de ver "pele boa"

Escritor defende uso de técnicas de aperfeiçoamento de imagens para atores de novelas televisivas

Autor de "Páginas da Vida" diz que público se cansou de cenas de amor e que tem de transformar mocinhas em mulheres agressivas

ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Leia a continuação da entrevista com Manoel Carlos. (LM)  

FOLHA - O que acha de o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) copiar o efeito gráfico dos depoimentos da novela no horário eleitoral?
MANOEL CARLOS
- Não deve, né. Mudei o personagem da Renata Sorrah por causa de política [seria uma juíza inspirada em Denise Frossard, candidata do PPS ao governo do Rio, e virou procuradora da República]. Ninguém precisou pedir. Soube que alguns políticos estavam preocupados com a possibilidade de a novela beneficiar a candidata. Resolvi mudar, até porque já tinha confessado ser eleitor dela.

FOLHA - Em quem mais irá votar?
MANOEL CARLOS
- Provavelmente no Cristovam Buarque [PDT] para presidente. Na Jandira Feghali [PC do B] para o Senado e no [ex-secretário nacional de Segurança Pública] Luiz Eduardo Soares [PPS] para deputado federal. Não escolhi ainda o deputado estadual.

FOLHA - De que tema político o sr. gostaria de tratar na novela?
MANOEL CARLOS
- Ah, dessa falta de ética absoluta, dessa imoralidade total, desses acontecimentos que a cada dia nos deixam mais escandalizados. Mas o Lula sobe nas pesquisas. Não quero dizer que o povo não sabe votar, mas está indiferente a esse tipo de coisa ou porque não toma conhecimento ou porque acha isso menor.

FOLHA - Em seu livro, o sr. diz que ser vilão está na moda, que atrizes não querem mais ser mocinhas. É um paralelo com a situação do país?
MANOEL CARLOS
- Sem dúvida. O Bolsa Família beneficia milhões. Entendo que as pessoas votem por causa de R$ 100 por mês. É muito fácil o Lula ir a um palanque e dizer: "Estão falando que eu fiz isso, mas ninguém fala que faço aquilo". É o "rouba mas faz". Ninguém tem mais vergonha, fico bobo. Eles não têm o menor pudor de aparecer nos jornais envolvidos no escândalo das ambulâncias, do valerioduto e de se candidatar de novo. E se elegem! Vilões estão na moda, do mocinho ninguém gosta. Faço cenas de amor, e as pessoas reclamam: "Os caras só se beijam". Quando faço mocinha agora, como a personagem da Marjorie Estiano, tenho que pôr um comportamento de vilã. Ela agride a mãe violentamente. É dura, e o público gosta. Nas brigas com a mãe, o ibope vai lá em cima.

FOLHA - De uma vez por todas, a novela terá ou não um bissexual?
MANOEL CARLOS
- Não. Ia fazer um interpretado pelo Marcos Caruso, que não estava escalado para ser o Alex, mas o marido da pintora [Louise Cardoso]. Tive que fazer um remanejamento dos atores e decidi mudar para um casal de homossexuais. Em "Mulheres Apaixonadas", o bissexual não teve repercussão, até porque havia resistência do ator. Quando o Odilon Wagner foi convidado, ficou entusiasmado. Mas quando o personagem se revelou, passou a reclamar: "Perdi comerciais, deixei de ganhar dinheiro". Começou a chatear, e fui apagando o papel.

FOLHA - E a informação de que Edson Celulari faria o bissexual?
MANOEL CARLOS
- Isso foi publicado pelo jornal "Extra". Há atores e atrizes insatisfeitos com o papel ou de terceiro escalão que procuram repórteres para aparecer em notinha e inventam essas histórias.

FOLHA - Antes de publicarmos na Folha uma reportagem sobre o assunto, mandei e-mail ao sr. perguntando se era verdade. Quem me respondeu foi sua assessora, dizendo que o sr. "não nega nem confirma". É um jeito de fazer marketing, não?
MANOEL CARLOS
- Chega um momento em que o número de informações é tão grande... Há coisas que deixo rolar, por que vou sair desmentindo tudo?

FOLHA - É uma forma de alimentar conversas, de gerar repercussão?
MANOEL CARLOS
- É, vai alimentando e não me incomoda. Mas o Edson ficou perdidão, porque se fosse bissexual, seria algo forte. E ele é um oficial das Forças Armadas. Sofro pressão de padres, irmãs, diretores de museus porque um personagem falou que estavam assaltando museus no Brasil. E é verdade. Os padres dizem que não há penitência corporal, que irmãs não se ajoelham sobre pedrinhas. Elas se ajoelham sim, mas vou discutir com padres? Tenho pesquisas e estudei a vida inteira em colégio de padres, ajoelhei em milho muitas vezes. Protestos chegam à Globo, mas não me repassam tudo. Se fizer um ascensorista cantando uma moça, virá a associação dos ascensoristas.

FOLHA - O sr. defende que a mulher acima dos 40 anos tem as melhores histórias. Não é contraditório com o uso do programa de computador baselight para rejuvenescer tanto a heroína [Regina Duarte]?
MANOEL CARLOS
- Acho que não. As pessoas querem ver pessoas bem tratadas, com a pele boa. Estamos falando de ficção. No mundo inteiro, atores e atrizes passam por esses aperfeiçoamentos de imagens. Quando dou entrevista na TV, vem um maquiador passar um pó para tirar o brilho do meu rosto.

FOLHA - Não incentiva plásticas, botox, e rejeita o envelhecimento?
MANOEL CARLOS
- De jeito nenhum. O público sabe que é ficção. Alguém tem dúvida de que a Elizabeth Taylor não é aquilo que está nos filmes? Até nos documentários há maquiagem. Mas é um ponto de vista a discutir, não digo que tenho razão.

NA INTERNET - Leia a íntegra www.folha.com.br/062641


Texto Anterior: Ser vilão está na moda
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.