São Paulo, domingo, 24 de setembro de 2006

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Filme traz Henfil e seus irmãos de volta

O cartunista, Betinho e Chico Mário são tema de "Três Irmãos de Sangue", que estréia no Festival do Rio

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Tantos e tão trágicos foram os acontecimentos na vida dos irmãos Betinho de Souza (1935-1997), Henfil (1944-1988) e Chico Mário (1948-1988) que o amigo da família e músico Fernando Brant concluiu que a história deles "bem poderia ser uma ópera".
A diretora Ângela Patrícia Reiniger aproveitou a idéia de Brant para alinhavar em três atos a história do trio, contada no documentário "Três Irmãos de Sangue", que estréia amanhã, na seção "Retratos" do Festival do Rio.
Em "Origem", o primeiro ato do filme, Reiniger procurou mostrar "o convívio diferente que eles tiveram com a morte, desde cedo", diz.
Se de um lado os três viam a funerária em que o pai trabalhava como um lugar de divertimento, de outro, sofriam estrita vigilância de suas cinco irmãs, temerosas de que as brincadeiras infantis terminassem em ferimentos.
"Devia ser muito chato para eles", diz Tanda, uma das irmãs. Ocorre que, para Betinho, Chico Mário e Henrique Filho (Henfil), todos hemofílicos, um arranhão que resultasse em sangramento era um problema.
Para resumir a superação da infância com uma doença até então mal compreendida, Reiniger pinça de Betinho a seguinte frase: "Não era para eu estar vivo quando nasci. O que aconteceu comigo foi uma sucessão infinita de sortes".
O autodiagnóstico do sociólogo será outro no terceiro ato, quando seus dois irmãos já terão sucumbido à Aids.

Desastre
Os três foram infectados em transfusão de sangue, na fase inicial da epidemia da doença, quando os controles laboratoriais ou inexistiam ou eram ineficientes no Brasil. Razão para Betinho afirmar: "A história da minha família em relação a sangue é um duplo desastre".
O segundo ato de "Três Irmãos de Sangue", que a diretora dedicou à história profissional do sociólogo (Betinho), do músico (Chico Mário) e do cartunista (Henfil) é dominada por este último.
Entrevistas com as ex-mulheres, amigos e contemporâneos de Henfil, além de um conjunto de imagens de arquivo traçam o perfil de um trabalhador incansável, um artista talentoso e um ativista político.
Os músicos João Bosco e Aldir Blanc contam como compuseram "O Bêbado e a Equilibrista", a famosa canção que torce pela "volta do irmão do Henfil", então exilado no México, sem sequer conhecerem Betinho. Os dois eram amigos de Henfil, que falava insistentemente no "mano".
As imagens jornalísticas da chegada de Betinho ao aeroporto, com um grupo de anistiados, em 1979, pertencentes à TV Globo, foram recuperadas, para ganhar mais qualidade na tela, conta a diretora.

Diretas-Já
A campanha pelas Diretas-Já, na qual Henfil se engajou na seqüência à luta política pela anistia, é relembrada por ele, num depoimento em que conta como "inventou" o slogan, para ser dito pelo senador Teotônio Vilela. Numa entrevista com o senador, Henfil reservou para o final a pergunta "E aí, Teotônio, diretas quando?".
Reiniger pretende lançar "Três Irmãos de Sangue" nos cinemas no próximo 1º de dezembro, Dia Mundial de Luta Contra a Aids. "Gostaria que as pessoas não saíssem só tristes do cinema, mas com um impulso de ação", afirma a diretora.


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