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Filme traz Henfil e seus irmãos de volta
O cartunista, Betinho e Chico Mário são tema de "Três Irmãos de Sangue", que estréia no Festival do Rio
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Tantos e tão trágicos foram
os acontecimentos na vida dos
irmãos Betinho de Souza
(1935-1997), Henfil (1944-1988) e Chico Mário (1948-1988) que o amigo da família e
músico Fernando Brant concluiu que a história deles "bem
poderia ser uma ópera".
A diretora Ângela Patrícia
Reiniger aproveitou a idéia de
Brant para alinhavar em três
atos a história do trio, contada
no documentário "Três Irmãos
de Sangue", que estréia amanhã, na seção "Retratos" do
Festival do Rio.
Em "Origem", o primeiro ato
do filme, Reiniger procurou
mostrar "o convívio diferente
que eles tiveram com a morte,
desde cedo", diz.
Se de um lado os três viam a
funerária em que o pai trabalhava como um lugar de divertimento, de outro, sofriam estrita vigilância de suas cinco irmãs, temerosas de que as brincadeiras infantis terminassem
em ferimentos.
"Devia ser muito chato para
eles", diz Tanda, uma das irmãs. Ocorre que, para Betinho,
Chico Mário e Henrique Filho
(Henfil), todos hemofílicos, um
arranhão que resultasse em
sangramento era um problema.
Para resumir a superação da
infância com uma doença até
então mal compreendida, Reiniger pinça de Betinho a seguinte frase: "Não era para eu
estar vivo quando nasci. O que
aconteceu comigo foi uma sucessão infinita de sortes".
O autodiagnóstico do sociólogo será outro no terceiro ato,
quando seus dois irmãos já terão sucumbido à Aids.
Desastre
Os três foram infectados em
transfusão de sangue, na fase
inicial da epidemia da doença,
quando os controles laboratoriais ou inexistiam ou eram ineficientes no Brasil. Razão para
Betinho afirmar: "A história da
minha família em relação a sangue é um duplo desastre".
O segundo ato de "Três Irmãos de Sangue", que a diretora dedicou à história profissional do sociólogo (Betinho), do
músico (Chico Mário) e do cartunista (Henfil) é dominada
por este último.
Entrevistas com as ex-mulheres, amigos e contemporâneos de Henfil, além de um
conjunto de imagens de arquivo traçam o perfil de um trabalhador incansável, um artista
talentoso e um ativista político.
Os músicos João Bosco e Aldir Blanc contam como compuseram "O Bêbado e a Equilibrista", a famosa canção que
torce pela "volta do irmão do
Henfil", então exilado no México, sem sequer conhecerem Betinho. Os dois eram amigos de
Henfil, que falava insistentemente no "mano".
As imagens jornalísticas da
chegada de Betinho ao aeroporto, com um grupo de anistiados, em 1979, pertencentes à
TV Globo, foram recuperadas,
para ganhar mais qualidade na
tela, conta a diretora.
Diretas-Já
A campanha pelas Diretas-Já, na qual Henfil se engajou na
seqüência à luta política pela
anistia, é relembrada por ele,
num depoimento em que conta
como "inventou" o slogan, para
ser dito pelo senador Teotônio
Vilela. Numa entrevista com o
senador, Henfil reservou para o
final a pergunta "E aí, Teotônio,
diretas quando?".
Reiniger pretende lançar
"Três Irmãos de Sangue" nos
cinemas no próximo 1º de dezembro, Dia Mundial de Luta
Contra a Aids. "Gostaria que as
pessoas não saíssem só tristes
do cinema, mas com um impulso de ação", afirma a diretora.
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