São Paulo, domingo, 24 de setembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BIA ABRAMO

Mortos sem sepultura em "CSI"


Na série, os crimes têm resposta simples; nada a ver com a banalidade dos mortos "figurantes"

DOIS CORPOS foram achados em sets de filmagem da série "CSI", um em Miami, outro em Los Angeles. É sério: dia 12, os restos de um homem morto há duas semanas em um prédio onde estava sendo filmado um episódio de "CSI: NY"; três dias depois, enquanto uma equipe em Miami fazia tomadas aéreas da Baía de Biscayne, um cadáver não-identificado foi dar na praia.
Trata-se de uma coincidência fortuita, mas que não deixa de ser engraçada. É daquelas piadas cósmicas, do tipo "a vida imita a arte", com a diferença que não há nada de propriamente "artístico" em "CSI". Deviam aproveitar o ensejo e inventar um formato híbrido entre a sitcom e o reality show para investigar quem são e por que raios lá foram parar esses mortos incômodos.
Poderiam abrir um concurso para gente metida a detetive e botar na mão dos participantes todos aqueles equipamentos ultraprecisos que aparecem no seriado para verificar se a "arte imita a vida", ou seja, se a solução de mortes misteriosas é tão simples e cristalina quanto as que rolam no seriado.
Ou então juntar os bambas da investigação criminal na ficção, Gil Grissom, Horatio Caine e Mack Taylor, para descobrir na real a história provavelmente solitária, comum, mesquinha desses cadáveres.
"CSI: Crime Scene Investigation" e seus sucedâneos, "CSI: Miami" e "CSI: NY", estão entre as séries de maior audiência nos EUA e no mundo todo. Uma recente pesquisa com audiências de 20 países revelou que "CSI: Miami" é o programa mais visto, seguido de "Lost", "Desperate Hosewives" e da novela colombiana "Te Voy Enseñar a Querer", com um público estimado em 50 milhões de pessoas. Nos EUA, o "CSI" original de Las Vegas está à frente do de Miami, mas ambos estão no ranking dos dez seriados mais assistidos.
É um fenômeno, por certo. Muita, muita gente, no mundo todo, querendo ver a morte ser domada pela competência tecnológica. Na série, seja em Las Vegas, Nova York ou Miami, os crimes mais hediondos têm resposta simples: é só ter o aparelho certo que as evidências delatam criminoso e modus operandi.
Nada a ver com a violência sem rosto e sem propósito na qual estão mergulhadas as grandes cidades contemporâneas. Menos ainda com a banalidade desses mortos que apareceram de repente para fazer figuração -o inquilino do prédio em Los Angeles tão abandonado por todos que ninguém foi reclamar seu corpo ou o sujeito jogado no mar -, com vidas sem arte de nenhuma espécie.


biabramo.tv@uol.com.br


Texto Anterior: Circulação no Reino Unido
Próximo Texto: Crítica: "Os Outros" é refém da surpresa
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.