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BIA ABRAMO
Mortos sem sepultura em "CSI"
Na série, os crimes têm resposta simples; nada a ver com a banalidade dos mortos "figurantes"
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DOIS CORPOS foram achados
em sets de filmagem da série
"CSI", um em Miami, outro
em Los Angeles. É sério: dia 12, os
restos de um homem morto há duas
semanas em um prédio onde estava
sendo filmado um episódio de "CSI:
NY"; três dias depois, enquanto uma
equipe em Miami fazia tomadas aéreas da Baía de Biscayne, um cadáver
não-identificado foi dar na praia.
Trata-se de uma coincidência fortuita, mas que não deixa de ser engraçada. É daquelas piadas cósmicas, do tipo "a vida imita a arte", com
a diferença que não há nada de propriamente "artístico" em "CSI".
Deviam aproveitar o ensejo e inventar um formato híbrido entre a
sitcom e o reality show para investigar quem são e por que raios lá foram parar esses mortos incômodos.
Poderiam abrir um concurso para
gente metida a detetive e botar na
mão dos participantes todos aqueles
equipamentos ultraprecisos que
aparecem no seriado para verificar
se a "arte imita a vida", ou seja, se a
solução de mortes misteriosas é tão
simples e cristalina quanto as que
rolam no seriado.
Ou então juntar os bambas da investigação criminal na ficção, Gil
Grissom, Horatio Caine e Mack Taylor, para descobrir na real a história
provavelmente solitária, comum,
mesquinha desses cadáveres.
"CSI: Crime Scene Investigation"
e seus sucedâneos, "CSI: Miami" e
"CSI: NY", estão entre as séries de
maior audiência nos EUA e no mundo todo. Uma recente pesquisa com
audiências de 20 países revelou que
"CSI: Miami" é o programa mais visto, seguido de "Lost", "Desperate
Hosewives" e da novela colombiana
"Te Voy Enseñar a Querer", com um
público estimado em 50 milhões de
pessoas. Nos EUA, o "CSI" original
de Las Vegas está à frente do de Miami, mas ambos estão no ranking dos
dez seriados mais assistidos.
É um fenômeno, por certo. Muita,
muita gente, no mundo todo, querendo ver a morte ser domada pela
competência tecnológica. Na série,
seja em Las Vegas, Nova York ou
Miami, os crimes mais hediondos
têm resposta simples: é só ter o aparelho certo que as evidências delatam criminoso e modus operandi.
Nada a ver com a violência sem
rosto e sem propósito na qual estão
mergulhadas as grandes cidades
contemporâneas. Menos ainda com
a banalidade desses mortos que apareceram de repente para fazer figuração -o inquilino do prédio em Los
Angeles tão abandonado por todos
que ninguém foi reclamar seu corpo
ou o sujeito jogado no mar -, com vidas sem arte de nenhuma espécie.
biabramo.tv@uol.com.br
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