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29ª BIENAL DE ARTES
Carioca documenta o horror invisível em Chernobyl
Estreante na Bienal, Alice Miceli captou imagens
da radioatividade mais de 20 anos após o acidente
Artista juntou-se a cientistas alemães para chegar à zona de exclusão de Chernobyl, na atual Belarus
JULIANA VAZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Alice Miceli tinha seis anos
à época do maior acidente
nuclear da história.
Era abril de 1986 quando o
reator de Chernobyl explodiu, na antiga União Soviética, deixando para trás um
mar de contaminação invisível aos olhos.
Mais de duas décadas depois, a artista carioca, hoje
com 30 anos, se impôs o desafio de fazer ver a energia liberada então.
Em um trabalho extremamente conceitual, documentou os fantasmas radioativos
da chamada zona de exclusão -situada em um raio de
30 km ao redor do reator,
evacuado logo após o acidente- na fronteira entre a
Ucrânia e Belarus (antiga
Bielorrúsia).
Mas não sem impedimentos. Para conseguir driblar as
autoridades e adentrar a zona, que ainda hoje oferece
riscos de doenças, se embrenhou entre cientistas alemães que trabalham no local
e se fez de pesquisadora.
"Belarus é uma ditadura,
ninguém quer que isso tenha
publicidade. Como é invisível, é fácil dizer que não está
lá", conta a artista, que se
mudou para Berlim em 2007
para realizar o projeto.
ESTREIA
Mas bem pouco é inteligível nas imagens que fazem
reviver esse passado.
Os filmes eram sensíveis
não à luz, mas aos raios gama, que, após meses de exposição, saíam marcados pela radioatividade impregnada em troncos de árvore, janelas e espaços vazios.
"Pedras e vidros não estão
bem contaminados. Os campos, sim", concluiu.
As 30 imagens que resultaram dessas experiências ela
expõe pela primeira vez na
29ª Bienal de São Paulo, que
abre amanhã ao público.
E também esses negativos
originais, que mais sugerem
do que escancaram os vestígios deixados pela explosão,
marcam sua estreia na mostra do Ibirapuera.
Um marco para a jovem artista com formação em cinema que começou a experimentar para "pensar a criação de sentido nas imagens".
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