São Paulo, sexta-feira, 24 de setembro de 2010

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29ª BIENAL DE ARTES

Carioca documenta o horror invisível em Chernobyl

Estreante na Bienal, Alice Miceli captou imagens da radioatividade mais de 20 anos após o acidente

Artista juntou-se a cientistas alemães para chegar à zona de exclusão de Chernobyl, na atual Belarus

JULIANA VAZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Alice Miceli tinha seis anos à época do maior acidente nuclear da história.
Era abril de 1986 quando o reator de Chernobyl explodiu, na antiga União Soviética, deixando para trás um mar de contaminação invisível aos olhos.
Mais de duas décadas depois, a artista carioca, hoje com 30 anos, se impôs o desafio de fazer ver a energia liberada então.
Em um trabalho extremamente conceitual, documentou os fantasmas radioativos da chamada zona de exclusão -situada em um raio de 30 km ao redor do reator, evacuado logo após o acidente- na fronteira entre a Ucrânia e Belarus (antiga Bielorrúsia).
Mas não sem impedimentos. Para conseguir driblar as autoridades e adentrar a zona, que ainda hoje oferece riscos de doenças, se embrenhou entre cientistas alemães que trabalham no local e se fez de pesquisadora.
"Belarus é uma ditadura, ninguém quer que isso tenha publicidade. Como é invisível, é fácil dizer que não está lá", conta a artista, que se mudou para Berlim em 2007 para realizar o projeto.

ESTREIA
Mas bem pouco é inteligível nas imagens que fazem reviver esse passado.
Os filmes eram sensíveis não à luz, mas aos raios gama, que, após meses de exposição, saíam marcados pela radioatividade impregnada em troncos de árvore, janelas e espaços vazios.
"Pedras e vidros não estão bem contaminados. Os campos, sim", concluiu.
As 30 imagens que resultaram dessas experiências ela expõe pela primeira vez na 29ª Bienal de São Paulo, que abre amanhã ao público.
E também esses negativos originais, que mais sugerem do que escancaram os vestígios deixados pela explosão, marcam sua estreia na mostra do Ibirapuera.
Um marco para a jovem artista com formação em cinema que começou a experimentar para "pensar a criação de sentido nas imagens".


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