São Paulo, sexta-feira, 24 de setembro de 2010

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Marcelo D2 expõe semelhanças com Bezerra da Silva

Em primeiro CD de intérprete, o ex-Planet Hemp refaz sucessos do repertório do veterano, morto em 2005

Três décadas antes de D2, Bezerra já abordava nas músicas temas como a maconha, ainda que de maneira sutil
MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

Alguns até chegaram perto, mas só Marcelo D2 -em carreira solo ou à frente do Planet Hemp- foi capaz de deslocar, com grande repercussão popular, o rap brasileiro para além das fronteiras do universo do hip hop.
Misturando a batida do rap com a percussão do samba, ele inventou uma terceira via de linguagem, muito pop, que, aperfeiçoada disco a disco, chegou à beira da excelência no solo "A Procura da Batida Perfeita" (2003).
É esse mesmo artista que, agora, abandona a própria experiência para lançar um álbum de samba. No sentido mais ortodoxo do termo. Ainda que o rapper-sambista diga que se trata de "uma homenagem", "Marcelo D2 Canta Bezerra da Silva" vai além do formato puído do "fulano interpreta sicrano".
Explicita as semelhanças entre os personagens públicos que ambos criaram para si -basicamente o mesmo, separados no tempo por três, quatro décadas.
Ainda que em linguagem menos direta, a maconha já estava entre os temas prediletos do repertório de Bezerra (1927-2005). "Malandragem, Dá um Tempo" (do verso: "Vou apertar, mas não vou acender agora) e "A Semente", que voltam na interpretação de D2, parecem ter sido escritas para a voz dele.
"Bezerra nunca foi pra cadeia por causa disso, mas era sempre levado para averiguação", diz D2. "Teve problema com isso a vida toda. Ele me dizia que o que mais odiava era ser chamado de "cantor de bandido"."
Mestre e pupilo conviveram por cerca de sete anos e chegaram a fazer uma turnê juntos, D2 convidado de Bezerra. Foram 12 shows. O mais novo conta que, quando começava a engatinhar em sua alquimia entre rap e samba, foi para Bezerra que mostrou os primeiros resultados. E recebeu de volta conselhos fundamentais para chegar ao que chegou.
Garante que tem, na gaveta, versos que dariam conta de encher todo um álbum autoral. Mas só deve voltar a eles -e ao canto falado do hip hop- no ano que vem.
"O rap no Brasil tem um problema sério: só quer falar de problemas que são de dentro do rap", diz. "Falta um pouco de conscientização de mercado, também. O que consegui com o meu rap foi por não ficar só falando sempre desse assunto."


MARCELO D2 CANTA BEZERRA DA SILVA

ARTISTA Marcelo D2
LANÇAMENTO EMI
QUANTO R$ 20, em média



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