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Marcelo D2 expõe semelhanças com Bezerra da Silva
Em primeiro CD de intérprete, o ex-Planet Hemp refaz sucessos do repertório do veterano, morto em 2005
Três décadas antes de D2, Bezerra já abordava nas músicas temas como a maconha, ainda que de maneira sutil
MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO
Alguns até chegaram perto, mas só Marcelo D2 -em
carreira solo ou à frente do
Planet Hemp- foi capaz de
deslocar, com grande repercussão popular, o rap brasileiro para além das fronteiras
do universo do hip hop.
Misturando a batida do
rap com a percussão do samba, ele inventou uma terceira
via de linguagem, muito pop,
que, aperfeiçoada disco a
disco, chegou à beira da excelência no solo "A Procura
da Batida Perfeita" (2003).
É esse mesmo artista que,
agora, abandona a própria
experiência para lançar um
álbum de samba. No sentido
mais ortodoxo do termo.
Ainda que o rapper-sambista diga que se trata de
"uma homenagem", "Marcelo D2 Canta Bezerra da Silva"
vai além do formato puído do
"fulano interpreta sicrano".
Explicita as semelhanças
entre os personagens públicos que ambos criaram para
si -basicamente o mesmo,
separados no tempo por três,
quatro décadas.
Ainda que em linguagem
menos direta, a maconha já
estava entre os temas prediletos do repertório de Bezerra
(1927-2005). "Malandragem,
Dá um Tempo" (do verso:
"Vou apertar, mas não vou
acender agora) e "A Semente", que voltam na interpretação de D2, parecem ter sido
escritas para a voz dele.
"Bezerra nunca foi pra cadeia por causa disso, mas era
sempre levado para averiguação", diz D2. "Teve problema com isso a vida toda.
Ele me dizia que o que mais
odiava era ser chamado de
"cantor de bandido"."
Mestre e pupilo conviveram por cerca de sete anos e
chegaram a fazer uma turnê
juntos, D2 convidado de Bezerra. Foram 12 shows.
O mais novo conta que,
quando começava a engatinhar em sua alquimia entre
rap e samba, foi para Bezerra
que mostrou os primeiros resultados. E recebeu de volta
conselhos fundamentais para chegar ao que chegou.
Garante que tem, na gaveta, versos que dariam conta
de encher todo um álbum autoral. Mas só deve voltar a
eles -e ao canto falado do
hip hop- no ano que vem.
"O rap no Brasil tem um
problema sério: só quer falar
de problemas que são de
dentro do rap", diz. "Falta
um pouco de conscientização de mercado, também. O
que consegui com o meu rap
foi por não ficar só falando
sempre desse assunto."
MARCELO D2 CANTA
BEZERRA DA SILVA
ARTISTA Marcelo D2
LANÇAMENTO EMI
QUANTO R$ 20, em média
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