São Paulo, quinta, 24 de setembro de 1998

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Leila Pinheiro quer entrar para o pop com "Na Ponta da Língua'

RICARDO FOTIOS
enviado especial ao Rio

Leila Pinheiro, 38, não quer mais ser a princesa da bossa nova. Depois de gravar 44 clássicos do gênero que perpetuou o banquinho e violão como símbolo da MPB, a cantora lança "Na Ponta da Língua", seu nono disco, com composições de Marina Lima, Alvin L., Adriana Calcanhotto e Frejat, entre outras parcerias inusitadas e voltadas para o pop nacional.
"Eu já gravei o que há de melhor da bossa nova, dei a minha contribuição, espontaneamente. Acho que hoje não só não há espaço para esse tipo de canção na mídia, como não há nenhum desejo meu em gravar", afirma Leila. "A bossa nova essencial não existe mais, porque no seu auge estava inserida num contexto. Hoje virou música para velho. Cansei de ouvir isso."
Desde a capa do novo CD, Leila já demonstra que algo mudou em sua maneira de encarar sua arte. Em tons de vermelho, com uma foto da cantora de língua de fora e uma tarja preta sobre os olhos, o encarte sugere que o CD está voltado ao erotismo, tema inimaginável na carreira da cantora até então.
Mas, quando se ouve as músicas, percebe-se que a mudança não é tão profunda, pelo menos do ponto de vista musical. A cada faixa o que se ouve é a mesma Leila melancólica, num ambiente de fato mais popular. O hábito de "cortar os pulsos", diz a própria, ao cantar não deixou a cantora.
Ainda assim, as músicas "Pra nos Lembrar", de Marina Lima e Alvin L., e "Abril", de Adriana Calcanhotto, mostram uma interpretação bem mais emocional do que técnica. O que no caso de Leila pode-se considerar uma mudança radical. A vinheta "Na Ponta da Língua", de Walter Franco, põe a voz da cantora em outro plano, baseado por percussão e não por seu inseparável piano.
"Cresci com a coisa da bossa nova, cuja característica básica é a riqueza de harmonia e melodia. Eu tinha um certo pé atrás com uma parte do pop, do rock. E para esse novo trabalho, quando me dei conta, tinha muito mais canções do pop pra gravar do que composições da MPB tradicional", conta.
E essa viagem de Leila pelo mundo dos compositores populares, apesar de não ter nada de radicalmente moderno, pode até gerar mais surpresas. "Vou mergulhar mais nesse universo da música eletrônica para adequá-lo ao meu canto. Talvez uma música deste disco possa ser remixada por um DJ. Pode ser interessante."
A abertura na carreira de Leila, que garante que irá até participar de programas de TV para apresentar seu disco, tem uma razão muito clara: "Meu último trabalho vendeu cerca de 100 mil cópias, e o Brasil tem mais de 160 milhões de habitantes. Acho que mais pessoas deveriam comprar meus discos. Quero vender 1 milhão. Quero chegar a outro público", confessa.
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O jornalista Ricardo Fotios viajou a convite da gravadora EMI Music



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