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Ameaça do antraz preocupa organização
DA REPORTAGEM LOCAL
O trânsito dos mais de mil rolos
de filmes da Mostra Internacional
de Cinema de São Paulo, que já é
complicado normalmente, este
ano tem um agravante: o pânico
causado pela bactéria antraz.
A principal preocupação da organização é com o fato de a empresa mais utilizada no transporte
dos filmes, a Federal Express, ter
sede em Memphis, nos Estados
Unidos.
Segundo a produtora-executiva
da Mostra, Alexandra Donato, 32,
os aviões com encomendas da FedEx passam obrigatoriamente
por Memphis. Assim, teme-se
que filmes fiquem presos por lá
no caso de alguma suspeita de
presença de antraz nos vôos.
"Já nos comunicamos com os
distribuidores para dizer que, se a
situação ficar muito complicada,
pode ser utilizada a entrega por
frete aéreo", afirma Donato.
O transporte dos rolos de filmes
durante a Mostra é uma verdadeira operação de guerra. Para cada
longa-metragem, são cerca de
cinco rolos de película.
Este ano, o evento terá 242 longas, ou seja, aproximadamente
1.200 rolos vindos de várias partes
do mundo, desde a Bósnia até a
vizinha Argentina.
Tudo seria bem mais simples se
os filmes pudessem chegar ao
Brasil antes do início a Mostra e só
voltassem aos países de origem
quando tudo terminasse. O problema é que cada título tem um
cronograma de exibição mais
complexo que o outro.
Um filme do Irã, por exemplo,
pode chegar ao Brasil no dia da
primeira exibição, "passear" entre uma sala e outra em São Paulo,
de acordo com a agenda da Mostra, e ter de ser devolvido assim
que terminar sua última exibição.
Pior: às vezes ele nem volta diretamente para o Irã, mas segue para
uma outra mostra em outro canto
qualquer do mundo, sem que
atrasos sejam permitidos.
Esse vai-e-vem também inclui o
esquema de transporte dentro do
Brasil. Os filmes desembarcam
sempre no aeroporto de Viracopos, em Campinas. Quando chegam a São Paulo, circulam entre
as salas de exibição participantes
da Mostra.
Alessandra Donato passa e repassa o esquema de transporte
várias vezes por dia, com o apoio
de uma lista imensa, com tabelas
feitas à mão em folhas de sulfite.
Além de complicado, o transporte dos filmes é caro. Para cada
título, gasta-se com transportadora em torno de US$ 600, mais cerca de R$ 500 para o despachante,
que cuida da burocracia da entrada e saída dos rolos no país.
Segundo a produtora-executiva, este ano a Mostra de Cinema
gastará R$ 100 mil só com despachante. No total, o evento foi orçado em R$ 2,5 milhões.
Trabalho braçal
Além do corre-corre com os rolos, cada milímetro dos filmes
tem de ser checado ao chegar ao
Brasil e antes de sair do país. São
mais de mil quilômetros de película desenrolados e enrolados por
três funcionários da Mostra.
A revisora Rosangela dos Santos Mathias, 35, passa o dia girando os rolos, que costumam ter o
tamanho de uma pizza. Só usa o
braço direito e garante: gosta do
trabalho e não sente dor no final
do expediente. "Já estou acostumada."
(LAURA MATTOS)
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